MARIA MARTA, NOSSO AMOR!

(Uma referência a “Aracelli, Meu Amor”, de José Louzeiro)
MARIA MARTA Silva Bezerra. Açailandense, nasceu no antigo Hospital Geral, em 26 de agosto de 1986.  Se viva estivesse, completaria 25-vinte e cinco- anos de idade, neste triste dia 26 de agosto, sexta-feira.
Nosso Deus, no entanto, em Seus insondáveis desígnios,  decidiu  levá-la, às vésperas de seus dezoitos anos, adolescente, menina ainda, mal começando a viver.
MARIA MARTA, saiu desta vida, deixou este mundo, no final da manhã de um 11 de agosto, ano de 2004, da Praça da Biblia. Um motoqueiro,  numa bizz verde, de acordo com as investigações, a aliciou e a carregou para a morte. Muitos, muitas, viram, mas quem imaginaria  um passeio, ou simples carona, acabaria do jeito que acabou?...
Seu corpo, ou o que lastimavelmente dele restou, e por cima,  queimado, foi encontrado, uma semana depois, por um tio, à beira de uma estrada vicinal, margens da Belém-Brasília, rumo ao Itinga. Ele, em suas buscas incenssantes, de longe viu urubus no alto, voando em círculos, suspeitou, foi conferir. “ Ele perdeu a fala, ficou quase meia hora, quedado, derrotado...”, diz “seo” Manoel, pai de MARIA MARTA.
Próximo do local sinistro , seis meses antes ,  outro corpo, o  da jovem Girlene Soares, também barbaramente assassinada, fora localizado...
MARIA MARTA, filha da senhora Maria Madalena Silva Bezerra, hoje com 55 anos de idade, e do senhor Manoel Nunes Bezerra, de 62 anos. Ela, sempre dona de casa, ele na época, vigia no Hospital Municipal, mas de origem agricultora. Outros quatro filhos, um adotivo. MARIA MARTA, a caçula, e como toda caçula,  “xodó” da família. Família que sempre morou, e ainda mora, no mesmo endereço, nos altos da Vila Bom Jardim.
Adolescente comum, estudante mediana, sem maiores reclamações contra si, mas  com dificuldades em matemática, como boa parte das meninas, cursava o segundo ano do ensino médio no Centro Estadual de Ensino Lourenço Antonio Galletti, no Bairro do Jacu. Ali estudou desde a 5ª série do ensino fundamental, oriunda da Escola Municipal Simone Macieira, do Bairro da Laranjeira. A pré-escola, fez na Creche São Lourenço.
Católica, pertencia à Comunidade da Igreja São Pedro, onde fez catequese e a primeira comunhão, aos onze anos de idade.

Como toda adolescente, sonhava mil sonhos, entre eles, a de estilista. A mãe, dona Maria Madalena, guarda com muito carinho um álbum, com desenhos de MARIA MARTA, roupas bonitas, alegres, típicas de adolescentes. “Ela levava jeito, vivia rabiscando papel...” , diz dona Maria Madalena, com saudade e com orgulho. As lágrimas vêm, enchem os olhos, ao recordar que “uma das maiores alegrias da vida da MARIA MARTA foi quando a levei ao Armazém Paraíba, veio um estilista famoso, deu um curso”. E com um sorriso, diz que a ensinou a costurar, e ela gostava muito.
 “Poucos dias antes de sua morte, MARIA MARTA começara a trabalhar, cuidando de uma criança e uma senhora, na Rua Bahia, Bairro Laranjeira. Eram da família de um rapaz que então namorava, ele estava trabalhando no Pará”, lembra dona Maria Madalena.
No fatídico dia que MARIA MARTA foi levada à morte,  dona MARIA MADALENA teve um mau pressentimento, mas só dois dias depois, avisada por um filho, soube que MARIA MARTA desaparecera. Entrou em desespero, não conseguia mais comer, dormir, se cuidar, viver. Uma semana depois, quando lhe disseram que enfim  a filha fora encontrada, por um tio, desmaiou. O corpo despedaçado de MARIA MARTA, no Hospital Municipal, não lhe deixaram ver. Não lhe permitiram o contato, de um adeus de mãe para filha... “Seo” Manoel diz que não permitiria mesmo que ela a visse naquele estado: “eu reconheci de imediato, sou pai, mas até hoje não durmo em paz, não tenho paz, não vivo em paz, a lembrança de vê-la naquela condição...”.
Durante uma semana, a família toda esqueceu e largou de tudo, para buscar por todo o lugar em Açailândia, atrás de cada notícia, de cada informação, de cada boato. Dia, tarde, noite, madrugada. Rua por rua, bairro por bairro, matagal por matagal...
 “Seo” Manoel recorda, com amargura: “...teve muito trote, como pode ter gente que passa trote numa situação de desespero, de dor...”. Dezenas de pessoas amigas, conhecidas, e até desconhecidas, se juntaram as buscas, uma solidariedade silenciosa mas presencial, dia todo, noite toda. “Nêgo Sá me disponibilizou uma moto o tempo todo,  vinha toda hora, meu irmão não parou mais, até  foi ele que encontrou MARIA MARTA...Eu estava no Itinga, com o delegado de lá, fui atrás de uma informação, foi ele que me deu a noticia que encontrama MARIA MARTA, eu me abalei de lá...”.  Lá  no SESP, na laje do necrotério eu não sabia o que fazia, o que dizia, o que fazer, o que sobrou do corpo da minha filha... Eu estou assim até hoje, isso vai ser até eu partir, Deus me chamar...”.
Acusaram o soldado A.Costa de ser o matador de MARIA MARTA, eu nunca acreditei, as nossas famílias eram muito amigas, lá da baixada, o pai dele, o meu pai. Ele foi solidário conosco, ninguém aqui acreditou ou acredita que ele teve alguma coisa na maldade com a MARIA MARTA, mas acredito que tenha sido o João Gonçalves, ele conheceu ela na escola, foram conhecidos, se ele convidou ela confiou...”.
“Depois, polícia, justiça, advogados, armaram um circo, queriam só ibope, e até agora nada de punição, tem gente presa mas certeza de justiça não... A covardia e a brutalidade que fizeram com MARIA MARTA fica por isso mesmo? Eu, minha família, só queremos  justiça, nunca mais a família vai ser a mesma, quando tinha a MARIA MARTA,  o sofrimento nunca deixou a gente, não dá para viver direito, não dá para esquecer, se conformar, foi cruel demais..”, desabafa “seo” Manoel.
A irmã, Janete, também viu seu mundo desmoronar, trabalhava na CAEMA, não dava e nem deu  prá voltar a vida normal” depois de tudo. Dona Maria Madalena resume tudo : “a dor maior de uma mãe é não poder nem enterrar uma filha, é não ter visto sua filha, é imaginar o sofrimento que passou, chamando por mim. É uma dor sem tamanho, o tempo todo, aperta o coração...”.
MARIA MARTA Silva Bezerra. Completaria  25-vinte e cinco- anos neste 26 de agosto, mês de desgosto... Açailândia teria,quiça,   uma estilista, uma modista talentosa.  Açailândia teria uma jovem, cheia de vida como fora a adolescente cheia de vida, de sonhos mil. Açailândia teria uma mãe, com uma criança (ou crianças?...) como ela  tanto gostava...
Estaria ainda na família, na comunidade, que hoje choram todas os dias sua ausência, o jeito como se foi, vítima da perversidade humana...A lembrança de como foi sua passagem da vida para a morte ainda traumatiza corações e mentes...
MARIA MARTA é símbolo, vivo, das vítimas da violência sexual e da violência de todos os tipos que afligem nossa cidade. O COMUCAA/Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Açailândia, tornou-a emblema da “Semana Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes”, realizada anualmente em torno dos dias 18, 19 e 20 de maio, e dos eventos na área que digam respeito ao tema.
A vereadora Maria de Fátima Camelo Sousa, em nome do Poder Legislativo, presta também homenagem a MARIA MARTA, nesta sua data natalícia, tornando-a personalidade municipal.
Neste dia 26 de agosto de 2011, sexta-feira, teremos eventos para lembrar MARIA MARTA: uma cerimônia religiosa, Missa em Ação de Graças, pela Comunidade São Pedro, às 1800 horas, na Praça da Bíblia. Depois, às 1930 horas, na Câmara Municipal, na homenagem organizada pela vereadora Fátima Camelo.
As Escolas Lourenço Galletti e Simone Macieira também não esquecerão MARIA MARTA.
Num quadro de violência, de todos os tipos, contra as Crianças e Adolescentes de Açailândia, o martírio de MARIA MARTA não pode ficar em vão. MARIA MARTA nos deve servir de estímulo, de inspiração,  pelo inconformismo e pela indignação contra a impunidade (nada de punição contra seu/s algoz/es; nada de reparação à sua família), a continuar e intensificar a luta (a luta, não, a guerra...) pelos Direitos Humanos, pela Vida, e Vida em sua plenitude.
A lembrança de MARIA MARTA nos permite lembrar sempre que não podemos esquecer, sob pena de tolerarmos que essa violência continue, até sua banalização! E isso a memória de MARIA MARTA não pode merecer! MARIA MARTA permanece viva em nossos corações.
Fonte: Eduardo Hirata

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