Se o ritmo de queda da mortalidade materna no País permanecer nos níveis de hoje, o Brasil só conseguirá atingir a meta pactuada entre os países da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2015 após o ano de 2040. A estimativa foi feita em artigo publicado na revista The Lancet.
Segundo pesquisadores do Institute for Health Metrics and Evaluation, da Universidade de Washington, o Brasil está no grupo dos 31 países que devem atingir a meta de redução da mortalidade infantil até 2015. No entanto, apenas nove países conseguirão atingir esses dois objetivos do milênio (mais informações nesta página) até 2015: China, Egito, Irã, Líbia, Maldivas, Mongólia, Peru, Síria e Tunísia.
O País avançou nos dois indicadores, principalmente graças à implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e à universalização do atendimento. Entre 1990 e 2000, segundo o artigo, a mortalidade de crianças menores de 5 anos caiu a uma taxa de 5,2% ao ano. 'Após esse período, o ritmo diminuiu, mas a tendência de queda ainda é forte e o País deve atingir a meta', afirma Haidong Wang, coautor do estudo.
A mortalidade materna caiu cerca de 2,5% ao ano entre 1990 e 2000. Mas entre 2000 e 2011 a taxa anual foi de apenas 0,3%. 'Muito inferior que a média de 3,6% que verificamos no resto do mundo', conta Wang.
Uma das causas apontadas é o elevado índice de cesarianas no País - em torno de 47%. Na saúde suplementar, o índice chega a 90%, enquanto no SUS é de 37%. O recomendado pela ONU é, no máximo, 15%. A cesariana está mais associada a complicações que podem levar à morte.
Esse fator também é apontado por Alby Rocha, coordenador do Observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade (Orbis). Ele ressalta o crescimento no número de mulheres que têm o primeiro filho com idade avançada.
Maria Udenal, do Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade, diz que 80% das mortes relacionadas à gestação e parto são por causas evitáveis. Segundo elas, as principais são infecção hospitalar e erros durante o atendimento. 'Para reduzir, é preciso combater a gravidez na adolescência, melhorar o pré-natal e a assistência ao parto', diz.
Esses pontos fazem parte da estratégia Rede Cegonha, um dos principais programas de Dilma Rousseff, diz Helvécio Magalhães, secretário de Atenção à Saúde do ministério. Ele admite que não será possível atingir o objetivo do milênio até 2015, mas contesta a estimativa pessimista. 'Colocamos esse problema no centro do governo. Nossa expectativa é que, com a Rede Cegonha, a taxa de queda se acentue.' Ontem, na ONU, Dilma disse que a saúde da mulher é 'prioridade'.
Sergio Neves/AE
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