Em alguns municípios, faltam
móveis, computadores e até luz na prefeitura. Três cidades visitadas pelo
Fantástico tiveram que pedir ajuda à polícia.
Imagine
chegar ao trabalho e dar de cara com um buraco de 12 metros no seu escritório.
Ou então você não pode acender a luz, porque a conta não foi paga. E nem ir ao
banheiro, porque falta o vaso... Essa é a realidade de muitos prefeituras pelo
brasil.
Veja a
metéria em vídeo completa aqui. http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/01/novos-prefeitos-enfrentam-condicoes-muito-precarias-no-inicio-da-gestao.html
“Quando
nós assumimos, em 2009, tivemos o compromisso maior de sanear o município, de
preparar o município para a frente”. A frase foi dita por Bevilácquia Matias em
discurso quando era prefeito da cidade de Juazeirinho, no interior da Paraíba.
“Hoje nós temos todas as finanças do município saneadas”.
Mas a
sucessora dele, que foi eleita no ano passado, diz que encontrou a prefeitura
com a energia elétrica cortada por falta de pagamento. “Nós assumimos a
prefeitura do município literalmente às escuras”, diz a prefeita Carleusa
Marques.
Ano novo,
vida nova. Hora de botar os planos em ação. Mas os novos prefeitos de 12
cidades visitadas pelo Fantástico essa semana estão tendo péssimas surpresas.
Também
por falta de pagamento, prédios das administrações de Miguel Alves entraram em
2013 sem energia. “O computador que continua as informações de transferências
de aluno desapareceu”, diz José Pereira, secretário de Educação e Miguel Alves
(PI).
“Nesse
momento, estamos sem dado algum, fazendo um trabalho de detetives aqui para ver
o que podemos descobrir”, afirma Pedro da Silva, prefeito de São Domingos (SE).
Onde
falta informação tem muita coisa importante que também faz falta.
“Até o
momento, a gente não tem dinheiro para comprar água dentro da prefeitura,
porque a gente não teve acesso a nenhuma conta ainda. Não pude fazer senha,
nada”, revela Carleusa.
“Viver é
ruim sem água”, diz Adílson Henrique da Silva, de 13 anos. Ele é sensível, um
amigo dos livros, mas não tem tempo para ler como queria. Na beira de uma
estrada movimentada, Adílson transporta vizinhos e amigos em uma charrete e
busca água para as necessidades básicas da família. “Tomar banho a gente busca
ali na rua”, diz o jovem, que pega água todos os dias desde os 10 anos.
“Desde
janeiro do ano passado não tem chuva aqui em Juazeirinho para arrumar água nem
nada”, diz o biscateiro José Adenildo, que sai com um tambor para tentar
conseguir água.
A cidade
depende de caminhões-pipa porque o açude secou. Enquanto o caminhão não chega,
os trabalhadores rurais tentam salvar os animais com água enlameada. “É muito
ruim assim. Só se bebe porque é o jeito mesmo. Está muito ruim, salgada”, diz
um criador. A água, conta, só serve para os animais: “Só para bicho. Para
humano não presta”.
Para
enfrentar os problemas da cidade, Juazeirinho precisa de dinheiro, claro.
Fantástico:
Quanto a senhora encontrou no caixa da prefeitura?
Prefeita de Juazeirinho: No caixa da prefeitura, R$ 2,10.
Prefeita de Juazeirinho: No caixa da prefeitura, R$ 2,10.
“Encontramos
uma prefeitura no escuro e totalmente sucateada, faltando computadores. Levaram
as CPUs”, diz a prefeita.
“Não
existem arquivos, que é a principal prova de documentação de uma
administração”, revela Pedro Alves da Nóbrega, promotor de Justiça da Paraíba.
Quando
assumiram, os novos prefeitos de Holambra, Tufilândia, Ipojuca, Alcobaça,
Alhandra e Porto Acre também deram por falta de computadores. Dizem que os
discos rígidos sumiram ou foram zerados.
“Estamos
trabalhando no escuro, completamente no escuro. Pedimos informações a alguns
funcionários. Ninguém sabe, ninguém viu”, conta Mariluce Almeida, secretária de
Finanças de Alhandra (PB).
Assim
fica difícil saber em que pé está a cidade. Os ex-prefeitos desses municípios
afirmam ter deixado tudo direitinho pra gestão seguinte.
“A única
coisa que foi tirada de lá foram os processos de pagamentos e entregue ao
tribunal de contas”, afirma Leo Brito, ex-prefeito de Alcobaça (BA).
E a
ex-prefeita de Holambra, no interior de São Paulo, diz que o computador era
dela e que, mesmo assim, não tinha informações importantes. “O computador da
prefeita, que informação que tem?”, diz Margareth Groth.
A sede da
prefeitura de Holambra também não tem móveis. A ex-prefeita diz que levou
embora porque também eram dela. “Quantos prefeitos num compra os móveis do
próprio gabinete dele? Isso é normal”, aponta Margareth.
Um vídeo
gravado em São Mateus mostra um grupo de homens levando embora o que seria o
aparelho de raio-X do hospital local, que não estava em boas condições. O
ex-prefeito da cidade afirma que deixou dinheiro em caixa e que a máquina de
raio-X foi levada mesmo.
“A
máquina de raio X do hospital do município era alocada de uma firma sediada em
São Luís. O dono, no término do mandato, mandou buscar, porque expirou o
contrato”, explica o ex-prefeito Francisco Rovélio.
Nessas
condições, quem paga a conta - e sofre - é a população. No hospital de
Juazeirinho, o lençol é da família da paciente! “É assim mesmo a gente chegava
aqui, não tinha lençol”, diz Claudenice Santos Silva, mãe de paciente. O lençol
que a filha usada foi levado pela tia.
O
Fantástico encontrou carros quebrados, sem condição de rodar, em várias
cidades. Nenhuma ambulância funciona em Juazeirinho. “Não tem o motor, né? O
motor dela não se encontra”, diz José Oliveira, chefe de transporte do
município paraibano.
O motor é
que está doente! Foi encontrado, segundo a prefeitura, dentro da ambulância. Em
nota, o ex-prefeito de Juazeirinho Bevilácqua Matias afirma que, na gestão
dele, foram adquiridos veículos novos. Ele diz também que toda a documentação
da cidade está no município, assim como os computadores e que Juazeirinho
tinha, para a área de saúde, mais de R$ 300 mil em conta quando ele deixou o
cargo.
Pedro
Serafim, ex-prefeito de Ipojuca, no Piauí, afirma que tanto os veículos da
cidade quantos os computadores funcionam. Segundo o ex-prefeito, imagens feitas
pela equipe dele comprovam isso.
João
Teles, ex-prefeito de Bujari, no Acre, afirma que deixou a cidade em condições
de ser administrada por qualquer prefeito. Mas a atual administração diz que
está passando necessidades. O banheiro da sede da prefeitura não tem privada.
José
Robson Mecenas, ex-prefeito de São Domingos, Sergipe, não quis gravar
entrevista. Ainda em São Domingos, quando os funcionários chegaram para o
primeiro dia de trabalho, encontraram um buraco de 12 metros de profundidade
dentro da prefeitura. No fundo do buraco, restos do que parece ser uma
papelada. Até hoje, o novo prefeito não sabe para que serve o buraco.
Já em
Canavieiras, a surpresa veio de cima. A prefeitura diz que mandou instalar uma
antena de TV. Aí o técnico teve uma surpresa: “Quando eu fui ver o sistema de
calhas, de calhamento, para seguir o fio de áudio e vídeo, foram encontradas
uma microcâmera e uma pré-escuta direcionado para a mesa do prefeito”. O caso
foi parar na polícia. O ex-prefeito Zairo Loureiro nega envolvimento.
Até
agora, pelo menos três das 12 cidades citadas nesta reportagem pediram ajuda à
polícia. Em Juazeirinho, o Ministério Público também investiga a situação da
prefeitura.
“Não
vemos a saúde, não vemos a segurança, a educação; não vemos funcionar da
maneira que é pra funcionar. O município de Juazerinho está entre aqueles que
hoje estão sofrendo com esse problema da seca, e não há a assistência
necessária pra suprir essa falta. Não é suprido. Por quê? Por causa de
desmandos com dinheiro público”, afirma o promotor Pedro Alves da Nóbrega.
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