Telhados de
casas protegidos por lonas, poeira, árvores cobertas de pó de ferro. Esse é o
cenário que centenas de famílias precisam conviver diariamente no bairro Piquiá
de Baixo, em Açailândia (MA). Mas os maiores problemas são as doenças e mortes
que ocorrem com frequencia como resultado do alto índice de poluição.
Só é preciso
algumas horas de passeio pelo bairro para se dar conta do índice de poluição
que é gerado no local. São cinco siderúrgicas instaladas na região que fazem do
bairro o mais afetado pelo polo siderúrgico de Açailândia. A maioria dos
moradores conhece alguém ou tem um familiar que já morreu com problemas de
saúde ligados à poluição.
No último
dia 20 de dezembro, uma criança de quatro anos morreu com pneumonia e sarcoma
de Ewing, um tipo de câncer raro que atinge os ossos e o pulmão. “Ela passou 75
dias internada e eu nunca pude fazer uma ligação para casa dizendo que minha
filha estava melhor, a cada dia ela só piorava”, afirma o pai da criança.
De acordo com o médico que faz atendimento no posto de saúde do bairro,
esse tipo de câncer é um caso raro, mas, a maioria dos moradores que passa por
uma avaliação médica descobre que estão com o pulmão manchado, com algum tipo
de alergia na pele ou problemas respiratórios.
“Se você entrar em uma casa e passar a mão nos móveis, a mão fica toda
preta de pó. Esse pó atua causando muitos quadros de cansaço, bronquite
asmática, dificuldades de respiração, tosse contínua, e problemas na pele.
Algumas doenças não são muito graves, mas elas são recorrentes, a gente passa o
remédio, melhora, mas depois a pessoa volta a ser contaminada”, relata Mauro Alvarenga.
Casos de
pneumonia são comuns. Dona Maria das Dores mora no bairro há 15 anos e conta
que já perdeu três pessoas da família, todas com pneumonia. Maria Aldenir da
Silva perdeu a irmã de 43 anos que morreu com infecção pulmonar. Agora ela está
cuidando do filho de 25 anos que há seis meses sente cansaço, dor nas costelas
e tosse. A mãe conta que o jovem já foi afastado do serviço por recomendação
médica. Ele trabalhava nos altos-fornos da empresa Gusa Nordeste.
No bairro
muitos homens trabalham em empresas terceirizadas que prestam serviço para as
siderúrgicas ou nas próprias siderúrgicas, desenvolvendo atividades de risco
como a do jovem que limpava os autos-fornos. Segundo Mauro Alvarenga a procura
por atestados médicos é grande, mas esses trabalhadores que procuram
atendimento não apresentam condições de retorar ao trabalho.
Assim,
centenas de pessoas sobrevivem, alimentando o desejo de em breve poder morar em
outro lugar. A situação do bairro foi condenada pela vigilância sanitária e os
moradores já conseguiram um terreno para a construção de novas moradias,
distante das siderúrgicas.
Com a
implantação das siderúrgicas, na década de 80, os moradores sonhavam com o
progresso, com empregos, com o crescimento do bairro e da cidade. Ao contrário,
com o passar dos anos a atividade siderúrgica foi se intensificando, o que
gerou maior índice de poluição e ficou inviável viver com qualidade no local.
No bairro não se oberva supermercados, restaurantes, hotéis, nenhum tipo de
empreendimento. As pessoas que tiveram condições procuraram outro lugar para
morar. Hoje, o futuro do bairro é desaparecer.
Rede Justiça nos Trilhos
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