Carros roubados no Brasil são trocados por dinheiro e armas

Reportagem localiza receptadores no Paraguai. Mercado é alimentado por venda de documentos.

RIO DE JANEIRO - Investigações da polícia revelam que carros roubados no Brasil são levados para o Paraguai e trocados por dinheiro e armas.
Um dos criminosos diz que ganha R$ 3,5 mil por veículo. Outro oferece pistolas e metralhadoras em troca de um carro. O mercado é alimentado por pagamento de propina, venda de documentos e aparelhos que combatem sistemas antifurto.
A cada dia, mais de mil carros são roubados no país. Dentre as dez cidades com maior proporção de carros roubados ou furtados, seis estão no estado de São Paulo.
Em Porto Alegre, o estacionamento do aeroporto Salgado Filho tem sido utilizado como depósito de carros clonados, ou seja, veículos que recebem placas falsas com numerações iguais às de veículos idênticos a eles.
“Normalmente ele vai para lá logo depois do roubo para que não seja encontrado em via pública ou para que não seja encontrado em poder do indivíduo que roubou o automóvel. Esse veículo sai do sistema de alerta das polícias e fica em segurança, entre aspas, para o criminoso, guardado dentro do aeroporto”, explica o delegado Heliomar Franco.
Para traçar a rota percorrida pelos carros roubados, a polícia instalou um rastreador num dos veículos, no caso, uma caminhonete. O carro saiu de Porto Alegre e percorreu 1,2 mil quilômetros até Guaíra, na fronteira com o Paraguai. No trajeto, passou por ao menos 12 postos de polícia rodoviária.
“Esses veículos são roubados aqui e revendidos ou trocados por droga ou por valores em espécie”, diz o chefe da investigação, Henrique Almeida. A caminhonete foi interceptada e apreendida em Guaíra. Se a polícia não tivesse agido, o veículo provavelmente iria para o Paraguai, segundo o policial.
A poucos quilômetros de Guaíra fica a fronteira com a cidade paraguaia de Salto del Guayrá. Para fugir da fiscalização, as quadrilhas atravessam os carros em balsas improvisadas. A travessia é feita a partir de portos clandestinos nas margens do lago de Itaipu.
Em Salto del Guayrá, um receptador diz que paga R$ 400 de propina aos policiais paraguaios para cada carro roubado que entra na cidade. Nas ruas, carros sem placa são comuns. Também foram encontrados veículos roubados no Brasil com a identificação original, como um automóvel Santana, de Indaiatuba, interior de são Paulo.
“É um absurdo né? Mesmo estando em outro país. E eu imaginei que já tivesse sido desmanchado, que fosse para um desmanche. Agora, depois de cinco anos e conservado ainda”, diz o professor João Rubens Júnior, dono do carro.
Armas em troca de veículos
Em Ciudad del Este, um homem oferece dinheiro e armas para comprar um carro. Ele afirma que entrega as armas no Brasil.
Fantástico: E fuzil?
Homem: Tem ponto trinta, ponto 16, metralhadora, tem tudo.
Fantástico: E como é que é para passar com isso?
Homem: Entrega para você se você quer, por rio, de noite, madrugada a gente entrega. Agora se você quer passar mesmo, entrega a arma.
Procurada pelo Fantástico, a embaixada do Paraguai disse que o Governo só vai falar sobre a denúncia depois que esta reportagem fosse ao ar.
Avanço tecnológico
O avanço tecnológico mudou a forma de agir dos criminosos. Em vez de furtar, isto é, levar os carros sem que os donos percebam, os bandidos estão ameaçando os motoristas, ou seja, roubando.
“A indústria do crime começou a entender que deveria atacar, através do roubo, o condutor junto, o que faz com que ele desligue o alarme, desbloqueie os rastreadores, uma série de mecanismos contrários àquilo que está acontecendo no veículo que está sendo roubado”, explica Júlio César Rocha, da Confederação Nacional das Seguradoras.
Com um rastreador, é possível localizar o carro e até ouvir o que está sendo conversado dentro dele até pelo celular. Isto é fundamental num caso de seqüestro.
Mas os criminosos arranjaram um jeito de enganar esse mecanismo de proteção dos motoristas. Na internet e em lojas do Paraguai, a reportagem do Fantástico encontrou um bloqueador de GPS. Com ele, o sinal do rastreador é cortado e fica impossível descobrir onde o automóvel foi parar.
Documentação
Na Praça da Sé, no Centro de São Paulo, é possível encontrar quem venda placas e documentos para “esquentar” carros roubados.
Um homem diz que faz a documentação com papel original. Por duas placas, ele cobra R$ 300.
“O papel é original. Você vê o brasão, vê tudo. Sou honesto, não tem esse negócio de safadagem”, diz o homem. As placas são entregues e o documento é enviado pelo correio.
Consultado pelo Fantástico, o perito em documentos Oto Rodrigues diz que o formulário é verdadeiro.
“Uma técnica de impressão muito sofisticada a que o falsário não tem acesso. A rasura se resumiu somente à identificação do estado e não aos dados que estão aqui do veículo, o que significa que este formulário foi furtado em branco de algum local e depois foi expedido fraudulentamente com a substituição da sila de São Paulo pela do Rio Grande do Sul”, diz o perito.
A Secretaria de Segurança de São Paulo, responsável pelo Detran, determinou abertura de investigação. As placas e o documento falso foram entregues para a Polícia Civil de São Paulo.
“O que eu posso assegurar é providência imediata, uma vez que tomamos conhecimento da obtenção desse material de origem criminosa, ilícita, nós vamos instaurar inquérito policial”, avisa o delegado José Mariano de Araujo Filho, da Delegacia de Furto e Roubo de Veículos de São Paulo.
G1, com informações do Fantástico

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