O fracasso da família, da sociedade e do Estado/governos, para “recuperar” nossos Adolescentes e jovens em conflito com a lei, “reinserindo-os” na comunidade e na “vida normal” (que vida normal é essa?...), é mais uma vez confirmado.
Desta vez, foi “Carequinha”, aliás, a muito todos e todas aqui em Açailândia sabiam que ele se iria assim, violenta e precocemente. Era seu “destino”, estava marcado para morrer, já estava “carimbado”, como me disse alguém.
Não chegou a completar dezoito anos, morreu adolescente ainda, embora muitas controvérsias sobre sua verdadeira idade. Pouco importa este detalhe, morreu, e assassinado, muito novo, e é isso que importa, o que aqui se quer colocar.
Pior: com ele, outro jovem também se foi... à bala...
A menos de dois anos, numa única tarde trágica, “Carequinha” matou a bala outro adolescente, Rafael, também de história de vida mais ou menos igual. E na sequência, matou ainda o companheiro de sua mãe.
No seu “histórico”, matou um terceiro, segundo o cunhado. E os registros policiais, tutelares e judiciais somam dezenas de ocorrências: leves, moderadas,pesadas...
Muita “façanha” para pouca vida...
Mas se pense um pouco no que foi “a vida” de “Carequinha”.
De que família, como foi bebê, menino, estudante, onde morava, como era sua comunidade, que influências e exemplos o modelaram... Que chances e oportunidades buscou, lhe foram ofercidas...
Deixa viúva uma adolescente, também ela fruto de uma infeliz e desgraçada história familiar e comunitária, e um filho órfão.... E a vida continua, a vida continuará, “no seu ritmo normal...”.
“Carequinha” teve interrompida sua caminhada, da maneira como viveu: violentamente. Neste final de semana de maio, 15, no Trecho Seco, confrontado pela polícia, a quem tantas vezes “encarou”. Um dia ia perder, e perdeu... (...”não se sabe como, mas não podia ser, dizem que ele sempre teve um revólver, nunca lhe tomaram...”, diz uma vizinha, inconformada com o desfecho fatal do caso: “...não era precisa matar, era para corrigir...”).
A poucos meses, retornara da ilha-capital, onde passara uma temporada internado no CJE/Centro de Juventude Esperança, não pelas mortes de Rafael e o padrasto, mas por outro episódio. Falhou a derradeira tentativa de “resgatá-lo” para a família e a sociedade.
A prova da falência do “sistema de atendimento e de recuperação”: o epitáfio de “Carequinha” soma-se aos de “Galinho”, Nonato, Clésio, Guilherme, Edileno, Tiago, Rafael, e tanto outros, isso só de 2005 para cá...
Triste desse país, triste dessa nação, que condena a morte tantos e tantas de seus adolescentes e jovens...! Triste dessa cidade, que pouco se dá pela morte de “Carequinha” (“...que falta vai fazer, afinal? Que descanse em paz”, me diz um idoso).
Por: Eduardo Hirata
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