Mais de 6
milhões de brasileiros já usaram cocaína, crack, óxi ou merla. Unifesp divulgou
segunda parte de levantamento detalhado sobre drogas.
CONSUMO DE COCAÍNA E CRACK NO ÚLTIMO ANO*
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País ou região
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Número de pessoas (em milhões)
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EUA
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4,1
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Brasil
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2,8
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América do Sul (exceto Brasil)
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2,4
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Ásia
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2,3
|
África Central
|
2,3
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Reino Unido
|
1,1
|
Espanha
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0,8
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Leste Europeu
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0,6
|
Canadá
|
0,5
|
Oceania
|
0,4
|
Caribe
|
0,3
|
África do Sul
|
0,3
|
América Central
|
0,1
|
* Dados da OMS
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O Brasil é o segundo maior consumidor de
cocaína e derivados, atrás apenas dos Estados Unidos, de acordo com o segundo
Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), feito pela Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgado nesta quarta-feira (5). O estudo
mostra que o país responde hoje por 20% do mercado mundial da droga.
Ao todo, mais de 6 milhões de brasileiros
já experimentaram cocaína ou derivados ao longo da vida. Entre esse grupo, 2
milhões fumaram crack, óxi ou merla alguma vez e 1 milhão foram usuários de
alguma dessas três drogas no último ano.
Só nos últimos 12 meses – ou seja, de
janeiro a março de 2011 até o mesmo período de 2012, quando as pessoas foram
entrevistadas –, 2,6 milhões de adultos e 244 mil adolescentes brasileiros consumiram
cocaína sob alguma forma.
Destes usuários constantes, 78% aspiraram
o pó, 5% fumaram derivados e 17% usaram as duas formas. Além disso, 27% fizeram
uso diário ou superior a duas vezes por semana, e 14% admitiram já ter injetado
a droga na veia em alguma ocasião.
Segundo os autores da pesquisa, coordenada
pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira, essa é a primeira amostra representativa da
população brasileira sobre o uso e a dependência de cocaína. Como equivale à
nossa população, a cidade de São Paulo, por exemplo, teve mais participantes.
Por essa razão, os resultados dão uma noção mais precisa de onde o país se
encontra hoje entre os consumidores de drogas.
O levantamento mostra, inclusive, uma
mudança do papel no Brasil no tráfico internacional. Antigamente, o país era
usado como rota de passagem para a cocaína, que vinha da Colômbia, Bolívia e do
Peru e seguia para os EUA ou a Europa. Hoje ela já para por aqui – até 60% da
droga produzida na Bolívia tem o nosso território como destino.
Nos rankings internacionais, as
informações sobre cocaína e derivados geralmente aparecem combinadas, já que as
substâncias vêm de uma pasta-base comum. Por isso, é impossível afirmar que o
Brasil seja o maior consumidor de crack do mundo hoje, embora os pesquisadores
acreditem nisso.
"Nenhum outro país tem 1 milhão de
consumidores de crack atualmente", afirmou Laranjeira. Pelos dados do
Lenad, um em cada cem adultos brasileiros fumou crack no último ano. Já nos
países desenvolvidos, tem se notado uma diminuição do uso de cocaína e
derivados e um aumento das drogas sintéticas.
Detalhes da pesquisa
O estudo entrevistou 4.607 pessoas com idade mínima de 14 anos, em 149 municípios das cinco regiões do país, sobre o consumo de cocaína aspirada ou fumada. Ao todo, foram feitas mais de 800 perguntas, que também avaliaram o uso de álcool, cigarro e outras drogas, como a maconha – cujos dados foram divulgados no início de agosto. Esse consumo também foi associado a problemas como depressão e violência, e os dados serão divulgados posteriormente.
O estudo entrevistou 4.607 pessoas com idade mínima de 14 anos, em 149 municípios das cinco regiões do país, sobre o consumo de cocaína aspirada ou fumada. Ao todo, foram feitas mais de 800 perguntas, que também avaliaram o uso de álcool, cigarro e outras drogas, como a maconha – cujos dados foram divulgados no início de agosto. Esse consumo também foi associado a problemas como depressão e violência, e os dados serão divulgados posteriormente.
A presença da cocaína se mostrou três
vezes maior nas áreas urbanas, com principal incidência no Sudeste – 46% dos
usuários, ou 1,4 milhão de pessoas. Depois vêm o Nordeste (27%), o Norte e o
Centro-Oeste (10% cada) e o Sul (7%).
O contato com a droga começa cedo: quase
metade (45%) dos usuários provou a substância pela primeira vez antes dos 18
anos. Essa experimentação precoce, de acordo com os pesquisadores, aumenta o
risco do uso de outras drogas ao longo da vida e da incidência de doenças
psiquiátricas.
Além disso, o estudo identificou que quase
metade (48%) dos consumidores de cocaína se tornou dependente e, destes, 30%
disseram que pretendem parar nos próximos meses. Apenas 1% afirmou que já havia
procurado algum tipo de tratamento.
Ainda entre os usuários de cocaína, 78%
disseram que acham fácil conseguir a droga e 10% admitiram já ter vendido
alguma parte do que tinham, ou seja, praticaram tráfico.
Porta de entrada
O levantamento não conclui se a maconha é ou não uma porta para drogas mais pesadas, como a cocaína e o crack. Apesar disso, a pesquisa aponta que 70% dos usuários de cocaína também consomem maconha e 41% dos fumantes de maconha aspiram ou fumam cocaína. No início de agosto, a Unifesp divulgou dados sobre uso e dependência de maconha no Brasil.
O levantamento não conclui se a maconha é ou não uma porta para drogas mais pesadas, como a cocaína e o crack. Apesar disso, a pesquisa aponta que 70% dos usuários de cocaína também consomem maconha e 41% dos fumantes de maconha aspiram ou fumam cocaína. No início de agosto, a Unifesp divulgou dados sobre uso e dependência de maconha no Brasil.
Outros fatores que contribuem para o uso
de drogas no país, na opinião de Laranjeira, são a melhoria das condições
sociais e o baixo preço dos produtos, pelo menos cinco vezes menor que no
exterior. "No passado, a cocaína era a champanhe das drogas, hoje é a
cerveja", compara o psiquiatra.
Ele ressalta que, embora os usuários de
crack sejam em menor número, a preocupação é maior por causa da alta taxa de
mortalidade: quase um terço morre em um prazo de cinco a dez anos.
Apesar de todos esses dados, os
pesquisadores dizem que é difícil chegar a um número aproximado de usuários de
drogas no Brasil, e que ele deve ser bem maior. Por isso, entre as perguntas do
questionário, também estava uma pergunta indireta, se as pessoas conheciam
alguém que usa cocaína, e 22% responderam que sim.
Luna D'AlamaDo G1, em São Paulo
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