Reunião pública da Vale reforça crítica popularReunião pública da Vale reforça crítica popular

O órgão ambiental e a empresa de mineração pretendem negociar os conflitos com mais de cem comunidades ao longo de 900 Km de trilhos.

Cerca de quinhentas pessoas participaram na última terça-feira (16) da terceira reunião pública organizada por IBAMA e Vale para tratar da duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC). O órgão ambiental e a empresa de mineração pretendem negociar os conflitos com mais de cem comunidades ao longo de 900 Km de trilhos somente em quatro ‘reuniões públicas’.

Em Alto Alegre do Pindaré (MA) estavam presentes líderes de comunidades e movimentos sociais de cidades e povoados distantes do local da reunião. Essas pessoas dedicaram a tarde inteira para viajar e voltaram em suas casas no coração da noite.

“Um sacrifício grande para ficar só escutando, na reunião pública”, Dezenas de perguntas, denúncias e inquietações estavam prontas para o debate, que como sempre foi carregado de promessas, afirmou Pe. Dário Bossi, Missionário Comboniano, membro da Rede Justiça nos Trilhos.

Para a maior parte dos presentes ficou a impressão de que a duplicação da estrada de ferro trará benefícios quase só para um ator dessa grande novela: a própria Vale. “Aqui parece como um comício político, precisa saber distinguir entre as promessas e a realidade, é como na televisão: antes tem a propaganda, depois vem o jornal nacional com os fatos de verdade”, comentou Cícero, morador da comunidade Centro dos Farias, município de Buriticupu (MA).

Eleita pior empresa do mundo em 2012 com o voto popular internacional, a multinacional Vale teve o projeto de construção da segunda estrada de ferro Carajás barrado na justiça por 40 dias devido a graves falhas no processo de licenciamento.

Agora a liminar de suspensão das obras também já foi barrada e a empresa voltou às atividades a todo vapor. 
Há quem não compreende: “Se a obra ainda não está licenciada e precisa dessas reuniões publicas para autorizá-la, por que então os trabalhos já iniciaram em todos os trechos da ferrovia? Isso tudo parece só uma peça de teatro!”, questionou Alaide, conselheiro tutelar do município de Buriticupu.

Os moradores das comunidades que serão atingidas pela duplicação da EFC denunciaram numerosos conflitos que já são provocados pela ferrovia. As casas de

Alto Alegre do Pindaré abrem-se em grandes rachaduras por conta das vibrações do trem. O ruído dos trens passando atrapalha o sono, o estudo e o descanso das pessoas. A menos de 300 metros ao longo de toda a linha de ferro há 39 escolas e 13 postos de saúde.

Um novo hospital está em construção e já apresenta rachaduras na estrutura. De acordo com o parecer do responsável pela construção, isso se deve à passagem cotidiana de dezenas e dezenas de trens. “Como vão ficar os doentes se a menos de duzentos metros de suas camas passa o maior trem do mundo?”, questionou. Calcula-se que, com a duplicação, passará um trem a cada 25 minutos, garantido um intenso barulho por cinco minutos em cada passagem. Isso significa que a tranquilidade das pessoas será interrompida por total de quase cinco horas ao dia.

Outros problemas elencaram-se ao longo da reunião pública, uma verdadeira aula de cidadania que, apesar da desproporção dos tempos à disposição para a empresa e para a população, permitiu o fortalecimento do senso crítico das lideranças comunitárias.

Reassentamentos forçados estão previstos para as famílias que moram a menos de 40 metros da nova ferrovia que será construída. Ainda, porém, não se sabe quantos, onde e como. Os moradores estão preocupados, lamentam essa falta de comunicação a respeito do futuro e temem negociações individuais com indenizações e compensações insuficientes. Até cemitérios deverão ser deslocados. “Nem nossos entes queridos podem descansar por conta desse maldito trem”, comenta Flávio, líder comunitário de Buriticupu.

Vários moradores de Alto Alegre denunciaram casos de prostituição de crianças e adolescentes. Os maiores envolvidos seriam funcionários da empresa Vale, que não se identificam não moram na região; ‘aprontam’ com meninas menores de idade e logo viajam para outros territórios, deixando assim um alto número de “filhos da Vale” para o povo cuidar!

Rede Justiça nos Trilhos

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