“Agora é hora de olhar pra frente e
cuidar do Brasil”. A frase, do presidente Nacional do PSB e governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, deu o tom de sua primeira entrevista coletiva à
imprensa depois do segundo turno, ao avaliar o ótimo desempenho do partido
nessas eleições.
O socialista ressaltou que além de
comemorar tão significativa vitória – o partido elegeu 440 prefeitos e 3.556
vereadores em todo país – também é preciso ajudar os recém-eleitos a cumprir o
prometido à população e a implantar o jeito PSB de governar.
Para tanto, Eduardo Campos já
organiza para o início de dezembro, em Brasília, um seminário que irá municiar
todos os prefeitos eleitos pela sigla sobre as experiências exitosas do partido
em várias áreas, inclusive a de gestão, em que Pernambuco tem um case de
sucesso premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Ao mesmo tempo, ele apela aos
diretórios das cidades onde o partido perdeu para ter a maturidade de avaliar
os erros e colaborar com os que ganharam.
Por fim, o presidente Nacional do PSB
alerta que, passada a eleição, é hora de olhar pra frente e pensar no País. O
que, para o PSB, envolve continuar ajudando o governo da Presidenta Dilma, especialmente
neste momento de repique da crise econômica internacional. Reafirmando que
“quanto mais se deixar a discussão de 2014 para 2014 será melhor para o país”,
ele defende que é preciso agora focar a atenção no debate de questões
estratégicas que permitam fazer de 2013 um ano melhor do que foram os anos de
2011 e 2012. Sem isso, aponta, o país não estará bem em 2014. “O caminho do PSB
será cada vez mais buscar o que une e relevar o que separa”, afirmou.
Confira, abaixo, a íntegra da
entrevista coletiva concedida no Recife. O Portal PSB esclarece que as
perguntas foram feitas pelos jornalistas presentes ao encontro.
Analistas políticos não descartam o
nome de Eduardo Campos para 2014. O senhor confirma isso?
Eduardo Campos (EC) - O PSB está muito feliz com os resultados que
obtivemos, que eram muito positivos já no primeiro turno e foram
extraordinários agora no segundo turno. Disputamos em sete cidades e vencemos
em seis – três capitais e três importantes cidades de suas regiões. Entendemos
que agora é hora de desmontar os palanques e deseleitorizar o debate político,
cuidar do país, cuidar de ajudar os que se elegeram a poder dar conta dos
compromissos assumidos com a sociedade.
A discussão sobre 2014 deve ficar
para o tempo certo. Nós assistimos nessas eleições e em outras também, mas
nessa de maneira muito clara, muita gente que tomou posse na véspera. Que
entrou na disputa achando que estava vitorioso e que, efetivamente, ao cabo do
processo de debate e de campanha, a vitória foi entregue pelo povo a outro
candidato. Nós temos que nesse momento ajudar a Presidenta Dilma a enfrentar os
desafios que estão no horizonte do mundo e no horizonte do País. E ajudar os
que se elegeram com a esperança e a confiança do povo a darem conta dessa
missão. Esse é que é o debate.
Nós temos ainda este ano uma pauta
bastante densa com o Congresso Nacional e com os governadores para darmos
conta, é uma pauta que dialoga diretamente com a economia. Podemos citar aqui o
marco regulatório do petróleo, que é de suma importância para os investimentos
nesse setor, que são investimentos expressivos para animar a economia
brasileira. E há ainda, dentro do marco regulatório do petróleo, o debate dos
royalties, que é um debate de bastante interesse para os Estados produtores e
não produtores de petróleo.
Também o marco regulatório do setor
elétrico, que foi iniciativa da própria Presidenta, para reduzir o preço da
energia, melhorar a competitividade do produto brasileiro e, ao mesmo tempo,
ajudar a economia familiar, sobretudo das famílias de classe média e as mais
pobres, que têm na conta de energia uma despesa expressiva. Ambas as discussões
estão no Congresso Nacional, a do setor elétrico, por exemplo, com mais de 400
emendas.
Temos assuntos importantíssimos para
garantir os investimentos no setor público. Hoje, dos três níveis de governo,
os estados são exatamente, no pacto federativo, aqueles entes que mais
investem, mais participam do investimento público. A mais importante fonte de
receita para a maioria dos estados é o FPE (Fundo de Participação dos Estados).
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a regra do Fundo, que vem sendo
utilizada desde a Constituinte de 88 até hoje, não valerá para 2013. Então, o
Congresso tem que legislar sobre essa matéria e até agora não pode fazê-lo, o
que coloca 60 dias para a gente definir qual será a receita principal da
maioria dos estados brasileiros. Isso não é pouco grave, isso é muito
importante.
Ao mesmo tempo nós temos, na cena
pernambucana e nordestina, uma questão muito relevante que é a questão das
secas. Nas últimas semanas eu tenho ido bastante ao semiárido e podemos
constatar que essa é a mais grave estiagem dos últimos 50 anos.
Toda essa pauta e mais tantos outros
itens, a meu ver, são muito importantes para que a gente possa ganhar o ano de
2013. Fazer 2013 melhor do que foram os anos de 2011 e 2012. Daí a necessidade,
que entendo importante para o país e para o governo da Presidenta Dilma, de
colocarmos essas questões do eleitoral de lado e olhar o que deve nos unir
nesse momento, o que é fundamental na pauta da sociedade, para enfrentar esse
debate e podermos cumprir dessa forma a responsabilidade de cada uma dessas
forças políticas com o futuro do Brasil.
Já está prevista alguma reunião da
Executiva Nacional pós-eleições, do que ela irá tratar prioritariamente?
EC – Nós tivemos a preocupação de preparar nossos
pré-candidatos a prefeito, fizemos dois grandes seminários com experiências
exitosas do próprio PSB e cursos em gestão pública e agora vamos realizar, no
início de dezembro em Brasília, dois dias intensos de trabalho com os prefeitos
eleitos do partido. Será nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, era isso que
a Executiva Nacional iria discutir essa semana, mas já acertamos o programa em
uma reunião virtual. Estamos, no momento, elaborando o conteúdo desse
seminário. Acho que é a contribuição objetiva que o partido deve dar aos que se
elegeram, colocar a sua disposição experiências, ferramentas e subsídios que
serão importantes não só para os que vão necessitar fazer a transição de outros
governos mas também para aqueles que já estão nos mandatos e foram reeleitos.
Nos últimos dias houve iniciativas
diferentes de sua parte em relação ao Governo Federal. O senhor fez críticas ao
atendimento dos atingidas pela seca, divulgando na imprensa uma correspondência
enviada ao Palácio do Planalto nesse sentido. Também classificou como excessiva
a demora na solução do apagão que atingiu a região Nordeste e, por fim, voltou
a reclamar dos problemas no Pacto Federativo. Não teme que isso seja
considerado já como um olhar em 2014? Como o Sr. acha que a Presidenta Dilma
está se sentindo com isso?
EC – Essa pergunta cabe ser feita à Presidente
Dilma, como ela está vendo tudo isso. O que eu posso dizer é que nós temos uma
relação com a Presidente Dilma de grande respeito, estamos na base de
sustentação de seu governo, ajudamos no processo eleitoral da Presidenta Dilma.
Por ver nela virtudes e qualidades para ser Presidenta da República, a
apoiamos, apoiamos o seu Governo e hoje temos com ela uma relação de muita
consideração. O que diz A, B ou C é direito de cada um, de dizer o que acha, o
que presume da nossa relação com a Presidenta Dilma. Mas a nossa relação continua
a ser uma relação de muito respeito.
Sobre a questão da estiagem, o que
observamos na referida correspondência resultou de uma reunião que faço
semanalmente com o Comitê Estadual que foi criado exatamente por iniciativa da
Presidenta, que após instalado o Comitê Nacional pediu a criação de um comitê
estadual que pudesse fazer o monitoramento das ações da seca. Essa reunião
produziu um documento para o Comitê Nacional, o qual, também por solicitação da
própria Presidenta, foi enviado a ela, que quer receber as notícias do
andamento da questão da estiagem. Por isso é que nós remetemos uma cópia
daquele relatório que segue normalmente para o Comitê Nacional, também para a
Presidenta da República, em função do agravamento da seca.
No que tange ao apagão da energia
elétrica, é claro que não é natural que se leve 3 horas e 40 minutos para
religar um sistema em tantos estados quando ele cai. O fato de haver um apagão
tem que ser apurado por quem tem expertise e responsabilidade legal para isso.
Ele pode se dar por uma fatalidade, por um acidente, por falhas na manutenção,
por diversos fatores - que têm que ser apurados. Claro, é preciso ter a
responsabilidade de aguardar a apuração efetiva do que houve. Agora, uma
coisa a gente sabe: levou mais tempo do que deveria levar para religar o
sistema. E com a responsabilidade que eu tenho, de falar em nome de todas as
residências e de todos os prédios públicos – hospitais, presídios, clínicas que
ficaram sem energia - o mínimo que eu tinha a dizer era exatamente isso, observar
que se levou 3horas e 40 minutos e que é preciso que não se leve 3horas e 40
minutos para fazer esse reparo, quando os próprios técnicos nos dizem que, em
média, reparar uma situação como essa deve levar algo em torno de 30, 40
minutos.
Quanto às mudanças no Pacto
Federativo, essa não é uma posição nova nossa. Historicamente eu sempre defendi
isso. Como Deputado Estadual, como Deputado Federal, como Ministro de Estado e
também como Governador, quando defendi e agi a esse respeito. Quem for à Assembleia
Legislativa vai ver que é da lavra do governo do estado um projeto de lei que
prevê a redistribuição do ICMS, sobretudo para os menores municípios. Muitos
prefeitos estão, inclusive, dando o testemunho de que conseguiram passar esse
tempo de maior crise (com a seca) por conta da redistribuição que foi feita no
ICMS. Essa medida garantiu a desconcentração, a valorização per capita do ICMS,
a qualidade da educação como algo importante para medir a quantidade de
recursos do ICMS a repassar para os municípios. Nós inovamos nessa matéria.
Precisamos que os municípios e os estados possam financiar os seus
investimentos e o custeio dos serviços públicos. Essa é uma posição que não
estou tomando nem defendendo agora, sempre defendi isso e não há nenhuma razão
para não continuar a defender que o Pacto Federativo seja fortalecido pela
capacidade de financiar municípios e estados.
E a conversa com a Presidenta Dilma,
sobre o que foi? (minutos antes, o governador precisou interromper a entrevista
para atender a um telefonema da Presidente da República)
EC – Ela mandou cumprimentos para vocês todos e me
recomendou que fosse o mais discreto possível.
Mas o que ela queria?
EC – Ela queria nos cumprimentar (pelo desempenho
do PSB), mas também falamos de assuntos administrativos e ficamos de ter uma
conversa nos próximos dias. Ela própria ficou de marcar a data para esse
encontro que, creio, deverá ser na próxima semana.
Na sua interpretação, qual é o
passivo que o PSB tem hoje depois dessas eleições, em que saiu mais
fortalecido? Com o novo tamanho, o partido está com mais força para reivindicar
as medidas e mudanças a que o sr. se referiu, junto à Presidente?
EC – Quem ganha a eleição - e o PSB sai muito
fortalecido dessa - ganha também responsabilidade. É preciso saber usar a
vitória e a força política para aquilo que interessa ao País. Nós queremos que
aforça política que o PSB adquiriu nessa eleição seja colocada à disposição do
Brasil para as boas causas. Para ajudar o Governo Federal a enfrentar esse
momento em que a crise internacional tem um repique, para que possamos tomar
medidas que vão ao encontro do crescimento com inclusão social, com os valores
que são caros ao PSB - e é isso que vamos fazer.
E os próximos passos do partido?
Fortalecido, o PSB já começa a se apresentar como alternativa de poder, segundo
avaliação de todos os jornais de hoje. O que o PSB vai fazer daqui pra frente?
EC – Como já falei, o próximo passo é cuidar e
ajudar os que ganharam essas eleições em 440 municípios, em nome do PSB, a fim
de prepará-los para fazer o melhor a partir do dia 1º de janeiro. É isso.
Em linhas gerais, o que vai ser
apresentado aos novos prefeitos no seminário em Brasília?
EC – Basicamente, vamos levar uma análise de
conjuntura, para que os prefeitos tenham ideia de como vai ser o primeiro ano
da administração. O primeiro ano normalmente é o mais duro, em que se trabalha
com o orçamento que foi feito pelo prefeito anterior. E é preciso, mesmo neste
contexto, fazer diagnósticos e tocar projetos que fazem parte do programa de
governo. Isso para quem está iniciando. Quem foi reeleito já é outra
circunstância. Assim, a primeira preocupação é ter uma análise clara de
conjuntura, que vamos levar a eles com o apoio dos economistas e técnicos
ligados ao partido. Depois, vamos proporcionar uma ideia dos primeiros passos
para uma boa gestão. Ou seja, compartilhar as experiências que deram certo, de
quem soube fazer os primeiros dias, os primeiros 100 dias e o primeiro ano. É
aquele velho passo a passo que vem da experiência de cada um dos gestores. Isso
ajudará nas atividades meio dos novos prefeitos. Já na questão fiscal dos
municípios e também nas principais áreas de demanda da população – como saúde,
educação, infraestrutura – tentaremos reunir uma coletânea de passo-a-passo
para as diversas áreas. Também estamos prevendo um material para subsidiar a
transição, como pedidos de relatórios, análises, acesso a pessoal preparado
para fazer análise de relatório fiscal, visando o apoio aos prefeitos ao longo
dessa transição. O PSB tem, na nossa Fundação de amparo, a Fundação João
Mangabeira, técnicos que podem ajudar os prefeitos eleitos e as equipes de
transição a fazer consultas na atual gestão, enfim, dar todo o suporte a esses
companheiros.
O PSB pretende apresentar candidatura
própria ou apoiar alguma candidatura para a mesa
diretora da Câmara (dos Deputados)?
EC – Esse é um assunto próprio da bancada do PSB
na Câmara e a bancada vai discutir isso no seu tempo certo. Normalmente, a
direção do partido não interfere nesse debate, que é próprio do Legislativo e
acontece a cada dois anos sem maiores sobressaltos. Pelo que sei, nem foi
iniciado.
À parte as vitórias e o crescimento
do partido nessas eleições, em alguns lugares, como João Pessoa e Curitiba, o
PSB não conseguiu se reeleger. Qual é a análise que o partido faz sobre a perda
desses espaços?
EC – Os indicadores da eleição, ou seja, o que é
que, terminado o segundo turno, a gente colhe, são os seguintes: o PSB cresceu
42% no número de prefeitos, quando o segundo maior crescimento, que foi do PT,
ficou em 14%. Todos os demais partidos tiveram queda. Quando avaliamos o número
de pessoas que moram nas cidades governadas por cada partido, nós crescemos
101%, passando a administrar uma população total de 15,4 milhões. O segundo
partido que mais cresceu nesse quesito também foi o PT, com 36%. Nas capitais
brasileiras, o partido que mais elegeu prefeitos foi o PSB: fizemos cinco
prefeitos. Em segundo estão empatados o PT e o PSDB, com quatro. Mas um
indicador extremamente interessante e que tem a ver com sua pergunta é que nós
chegamos a um índice de reeleição de 71,8%, ou seja, quase 72% dos prefeitos do
PSB conseguiram se reeleger, quando a média dos outros partidos todos, juntos,
ficou em 50%. É claro que aqui e acolá tivemos algum candidato que perdeu, e aí
cabe a cada diretório municipal fazer a análise do que houve, onde errou.
Quando a gente perde, deve ter a capacidade e a humildade de ver onde falhamos.
Ao invés de ficar só colocando a responsabilidade sobre os outros, a gente tem
que ver o que precisa ser corrigido. Nossa orientação para os que perderam é
esfriar a cabeça, para fazer uma análise realista sobre onde houve falhas,
corrigi-las e poder voltar a vencer.
Mesmo com sua boa relação com a
Presidenta Dilma, na disputa eleitoral em várias cidades onde o PT e o PSB
disputaram o segundo turno, o PSB ganhou. Como fica essa relação de fato, os
palanques foram mesmo desarmados?
EC - Quanto à relação com a Presidente Dilma, já
falei e repito: o PSB foi o partido que mais apoiou o PT no primeiro turno.
Claro que isso não é notícia, a notícia é onde não estamos com o PT. No segundo
turno, das 17 cidades em que o PT estava disputando a Prefeitura, em 11
estávamos apoiando o Partido dos Trabalhadores. Onde não estávamos, era porque
disputávamos com eles. E nós obtivemos a vitória onde houve essa disputa com o
PT - vencemos em Porto Velho, Cuiabá, Fortaleza e Campinas. E vencemos também
em Petrópolis, contra o PMDB mas que era apoiado pelo PT. Somente em Duque de
Caxias é que o PT, desde o primeiro turno, nos apoiou. Aí, quem ganha, tem que
saber ganhar. Tem que ter humildade, cuidar de trabalhar, olhar para o futuro,
olhar pra frente e tocar a vida, com muita naturalidade. A eleição municipal é
uma eleição que normalmente dispersa governos que tem base de apoio muito
amplas, como o da Presidenta Dilma. Aqui em Pernambuco também eu vivi muito
essa situação, é natural que no município se tenha mais de um candidato da
base. Tem que se ver isso com naturalidade.
Em Pernambuco, a Frente Popular fez
140 prefeitos e o PSB 59. Os mais próximos, principalmente da região
metropolitana de Recife, já estão recorrendo ao governo, requisitando técnicos
do estado para auxiliá-los na questão da gestão. Há algum risco de descontinuidade
em projetos do estado em função disso?
EC – É natural que quem se elegeu e vai assumir um
primeiro mandato possa recorrer a apoios para fazer a transição e começar a
elaborar o que seria uma futura equipe de governo. Assim como é natural que nossos
companheiros, não só do PSB, mas dos partidos da Frente, mirem um governo que
procurou usar ferramentas de gestão que têm dado certo. De forma nenhuma vamos
ter qualquer descontinuidade em função disso. Iremos, de fato, fazer um
encontro com todos os prefeitos eleitos no estado, a Casa Civil do governo já
está preparando isso para janeiro, visando compartilhar essa experiência de
gestão bem sucedida com eles. É um trabalho do estado, institucional, em que
apresentaremos a eles nossa experiência e as referências que podem ter para a
implantação de políticas especificas necessárias ao município. O que pudermos
fazer no sentido de ajudar os prefeitos do PSB e da Frente, com orientação e
informação, nós vamos fazer. E eles vão montar a equipe como se monta normalmente,
recorrendo ao serviço público local, estadual e federal e ali fazendo os
convites, o chamamento para integrar a equipe. Como nós montamos aqui no
governo de Pernambuco, com muita gente do serviço público estadual, com outros
tantos do serviço público federal e com outros que não têm vínculo com o setor
público.
O presidente do PT, Rui Falcão, e
lideranças dos diretórios municipal e estadual do partido deram coletivas sobre
a vitória de Fernando Haddad em que comentaram que, no segundo turno, o PSB
praticamente não participou da campanha, não ajudou o candidato do PT. Enquanto
que o PMDB se aproximou muito e deu uma contribuição importante para a vitória.
Com isso, o PMDB cresce diante de Dilma e o PSB perde um pouco de espaço? Como
está esse jogo de forças junto à Presidência da República?
EC – Preciso ver quem declarou o quê, eu não vi,
prefiro ficar com a palavra que recebi ao longo do segundo turno do agora
prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, de agradecimento pelo apoio que
teve e estava tendo do PSB. E também prefiro acreditar na palavra daquele que
viu no Fernando Haddad a possibilidade de ser o prefeito da maior cidade do
país, que é o ex-Presidente Lula, com quem conversei no sábado. Na ocasião, ele
recordou o quanto foi importante a decisão do PSB de apoiar o Haddad já no
primeiro momento da candidatura. Então, prefiro ficar com a palavra do prefeito
eleito e do Presidente Lula, que sempre foram na direção de reconhecer o apoio
do PSB como um apoio importante para essa vitória.
Sábado foi aniversário do
ex-Presidente Lula e divulgou-se que o sr. não teria nem ligado para ele,
outros que teriam se falado mas o clima não estava bom. Isso é verdade , como
fica essa relação agora, passadas as eleições?
EC – Falaram o que quiseram sobre minha relação
com o Presidente Lula durante as eleições, está cheio de notícias sobre isso
nos últimos 100 dias. Mas mais importante é o fato. E o fato é outro: uma
relação de tantos anos, que passou por momentos tão duros e momentos tão
bonitos da vida política brasileira nos últimos 20 anos ou mais, não vai ficar
ao sabor do disse-me-disse de quem se interessa em separar, em tentar intrigar
as pessoas. O Presidente Lula tem uma extraordinária experiência de vida e uma
grande maturidade, e eu tenho alguma maturidade e alguma experiência de vida,
para sabermos colocar cada coisa no seu lugar. Fiquei muito feliz em poder
cumprimentá-lo pelo aniversário, como faço todos os anos, em conversar com ele
num dia feliz, de véspera de uma eleição que ele se esforçou muito para
ganhar. E, também, pelo PSB ter tido a oportunidade de ajudar para que
essa vitória acontecesse e São Paulo ganhasse um prefeito com as qualidades do
Fernando Haddad. Todos nós vamos torcer muito para que ele seja um grande
prefeito.
Nessa eleição, apesar de municipal,
foram postos muitos temas de ordem nacional. Esses temas vão ter reflexo na
eleição de 2014 - não só o julgamento do mensalão do PT, mas o mensalão do DEM
e o mensalão mineiro? Poderão surtir efeito na sucessão de Dilma, ao invés de
nessa eleição, como alguns partidos esperavam?
EC – Sinceramente, não me sinto em condições de
prever se esses temas virão à tona na época da campanha de 2014, e o que isso
vai efetivamente interferir. É muito cedo para se pensar qual será a ambiência,
a conjuntura que vai se viver em 2014. Vai ser preciso a gente viver para ver.
Com relação ao cenário de 2014, ainda
é cedo para o sr. dizer se vai sair candidato ou não. Mas é um cenário
favorável para algum político que queira se lançar candidato à Presidente da
República?
EC – A resposta é a mesma de antes. É muito cedo
para que a gente possa compreender qual vai ser exatamente esse cenário em
2014, como o Brasil vai estar nesse momento, o que vai acontecer. E acho que
para o Brasil, para o governo da presidenta Dilma, quanto mais a gente deixar
2014 para 2014 será melhor, para que se possa conseguir, num diálogo nacional,
consertar apoio, inclusive a despeito de quem é base e quem é oposição, para
uma série de pontos que são estratégicos para o Brasil estar bem em 2014. E o
Brasil estando bem em 14, é melhor para o povo brasileiro, melhor para todos os
que fazem política que a gente tenha um Brasil crescendo e se desenvolvendo bem
em 14. Quanto mais a gente antecipe as disputas, com certeza vamos acumular
dificuldades - e num cenário que já tem dificuldades que não dependem apenas de
nós. Essa conjuntura internacional é algo bastante complexo, precisamos
compreender de maneira muito aguda o que está acontecendo no mundo para tomar
decisões aqui e poder seguir com o caminho do País.
Hoje (29/10) a Polícia conseguiu
prender José Ramos Lopes Neto (assassino foragido de Maristela Just, crime
emblemático de 1989, em Recife), que estava sendo procurado há mais de 22 anos.
Qual sua avaliação do trabalho da polícia e demais órgãos no caso?
EC - Quero cumprimentar nesse momento todo o
movimento das mulheres pernambucanas contra a violência, aquelas companheiras
que militaram ao longo desses mais de 20 anos defendendo políticas públicas que
pudessem garantir a integridade da mulher pernambucana. E também a todos os que
militaram por essa causa ao longo desse tempo todo, especificamente contra a
impunidade nesse caso, que chocou toda a sociedade brasileira à época do
ocorrido. Quero cumprimentar também um militante político que era deputado
estadual comigo na época e hoje é senador da República, Humberto Costa, que fez
muitas vezes da tribuna da Assembleia Legislativa a denúncia em relação a esse
crime. E em seu nome cumprimento todos os militantes da política que abraçaram
essa causa e esse valor. Ao mesmo tempo, cumprimento também a equipe da SDS
(Secretaria de Defesa Social de Pernambuco) pelo trabalho. Eu estava em reunião
hoje pela manhã na Secretaria de Planejamento, quando o secretário chefe da
Casa Civil recebeu o telefonema do Secretário Wilson Damásio, que precisava
falar comigo com urgência; interrompi a reunião e ele me deu essa notícia.
Quero cumprimentar ainda os policias do GOE (Grupo de Operações Especiais), que
realizaram essa operação e todo um trabalho de inteligência que redundou na
prisão desse assassino. Todos que ao longo desse tempo militaram por isso, vão
ter hoje um dia onde podemos efetivamente redobrar os compromissos com o fim da
violência contra a mulher, contra a violência doméstica, a violência sexista,
que é algo que a gente precisa mais e mais que a consciência da sociedade nos
ajude a eliminar da cena brasileira.
Até 2014, o partido fez alguma
exigência para continuar apoiando a Presidenta Dilma?
EC – Não, nós estamos na base da Presidenta Dilma
por uma decisão política de estarmos na base da Presidenta Dilma. Participamos
da eleição dela, e para isso retiramos uma postulação legítima de um
companheiro de partido disputar a eleição. Tudo em nome da tese de candidatura
única defendida pelo Presidente Lula, que coordenava o processo sucessório.
Tese da qual o PSB no primeiro momento divergia. Publicamente eu me coloquei na
direção de darmos o tempo máximo para verificar quem estava com a razão, porque
o PSB defendia que era melhor a estratégia de múltiplas candidaturas, já que
não tínhamos, até aquele momento, uma candidatura já firmada na opinião
pública, pontuando nas pesquisas. Quando chegou março, a data limite que
havíamos combinado para o partido se posicionar, vimos que já tinha ocorrido um
crescimento da pré-candidata do PT, então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma
Rousseff, e que seria um risco ir para a eleição imaginando que seria possível
fazer a disputa um a um. Então, aderimos ao movimento de uma candidatura só,
que foi a dela. Mesmo assim, não conseguimos resolver a eleição no primeiro
turno, tivemos que enfrentar um segundo turno. Começado o governo, nós
estivemos sempre com Dilma. Se fizer um levantamento dos principais embates
vividos pelo governo da Presidenta Dilma, seja no Congresso, seja na sociedade,
o PSB sempre esteve ao lado das posições da Presidenta.
Neste processo eleitoral de 2012, a
Presidenta tentou se proteger e evitou se envolver nas eleições municipais; em
alguns lugares ela conseguiu, em outros não. Mas agora, passada a votação,
estamos olhando para frente e temos que ajudá-la. É nossa responsabilidade
ajudá-la nesse momento, já tem muita gente para criar problema para a
Presidente Dilma. Nós, do PSB, queremos é criar soluções para ela, que ajudem a
tocar a pauta que interessa à população neste momento.
Existe alguma programação para o sr.
visitar essas cidades em que o PSB elegeu os prefeitos nas eleições? O sr.
pretende exportar o modelo de gestão que está dando certo em Pernambuco
para essas cidades?
EC – Não tenho nenhuma agenda de visitas a essas
cidades, minha agenda administrativa é aqui (em Pernambuco). No primeiro turno,
e mais ainda no segundo turno, efetivamente fui aos municípios em que o PSB
estava na chapa majoritária. Só e ponto, apesar de ter um conjunto de convites
para outros municípios. Nestes, onde não pude estar presente, fiz gravações de
programas para o horário eleitoral de TV e rádio.
O PSB tem feito um trabalho com os
seus pré-candidatos em que já disponibiliza exatamente experiências exitosas,
entre elas a questão do planejamento e da gestão aqui no estado, mas também
experiências bem sucedidas que o partido teve em outros municípios e estados.
Como a escola em tempo integral vivida aqui (em Pernambuco), e também a escola
com alfabetização na idade certa, implantada em Sobral (Ceará) quando Cid Gomes
(atual governador do Ceará, do PSB) era prefeito – e que é outra experiência
exitosa do nosso partido. Tudo isso está recortado em documentos que já foram
disponibilizados para os programas de governo dos nossos prefeitos e que, mais
detalhados e aprofundados, serão objeto desse seminário que anunciamos para os
próximos dias 30/11 e 1/12 em Brasília.
No seminário, vamos ter documentos
mais gerais e, também, em paralelo, como discutido semana passada pela direção
do partido, seminários específicos sobre temas que vão mais ao encontro do
programa de governo apresentado por cada um, em diferentes prefeituras. Por
exemplo, aquele município que quer ter contato com uma experiência exitosa para
suporte na área da saúde, encontrará isso no encontro. Na questão da educação
infantil como uma prioridade para os municípios idem, enfim, esse é o nosso
objetivo com o seminário, para que o jeito PSB de governar vá sendo apropriado
mais e mais pelas nossas gestões. E esse jeito PSB é aliar democracia com
consulta e participação popular, controle social com eficiência no gerir. Gerir
na direção dos que mais precisam, mas gerir transformando gasto ruim em gasto
bom, podendo ter a aliança com a sociedade como uma aliança estratégica. Usar,
inclusive, as novas marcas - como a lei de acesso à informação, as ouvidorias,
os conselhos de desenvolvimento econômico e social - como ferramentas
importantes para poder fazer mais com menos. E dar conta dos compromissos com a
sociedade.
O crescimento do PSB pode se refletir
também num aumento da participação do partido nos Ministérios? E no governo
Haddad em São Paulo, como vai ser a participação do PSB, já conversaram sobre
isso ou há alguma conversa prevista?
EC – Não, não conversamos sobre nada de composição
de equipe, nem em São Paulo, nem no País, nem isso está na pauta do PSB.
O PSB teve uma vitória junto com o
Haddad/PT em São Paulo, capital, e uma vitória com o Alckmim/PSDB em Campinas.
Na capital, inclusive, o apoio à candidatura do PT foi feita à revelia do PSB
estadual. Como fica a situação no estado: o PSB local fica com o PT ou com o
PSDB?
EC – Sobre o apoio a Haddad, a decisão foi tomada
em conjunto com a direção municipal do PSB da cidade de São Paulo, a quem
caberia tomar esse tipo de decisão, e também num diálogo com a direção estadual
do partido, que tinha efetivamente resistências ao apoio ao candidato, como
registrado pela mídia. Também foi muito importante a vitória do partido em
Campinas, terceira cidade do estado de São Paulo e município brasileiro que
mais tem produção científica, que tem a maior relação universidade-empresa do
país, um polo de inovação, uma cidade com potencial extraordinário, um dos
motores do Brasil. Fizemos uma bela campanha, bonita campanha, tivemos uma
extraordinária vitória, uma vitória maiúscula, com grande percentual (de
diferença de votos sobre o oponente). Ontem mesmo (28/10) o prefeito eleito
Jonas Donizette me ligou e disse que já falou com Márcio Porschmam (candidato
do PT derrotado em Campinas), inclusive solicitando a ele que ajudasse na
gestão, que contribuísse com suas ideias, que pudesse exatamente compreender
que a cidade, depois de tudo que aconteceu em Campinas, precisa de paz política
pra poder viver dias melhores. Eu tenho certeza de que vamos conseguir isso e
Jonas vai fazer parceria com o governador Alckmin e vai fazer parceria com a
Presidenta Dilma também, uma cidade como Campinas não pode ficar circunscrita
às brigas eleitorais e políticas, sobretudo pela importância que ela tem e pelo
sofrimento que essa cidade passou nos últimos anos.
Então o PSB de São Paulo continua na
base do Alckmin?
EC – Sim, está na base do Alckmin e também na do
Haddad na capital.
Das 17 capitais onde houve segundo
turno, o PSB apoiou o PT em 11, enquanto que o PT só apoiou o PSB em uma.
Ao mesmo tempo, o PSB ganhou em todas as capitais em que disputou com o PT. O
sr. acha que o PT precisa valorizar mais o apoio do PSB?
EC – Já falei disso na semana passada. Hoje
resolvi só falar das coisas boas, daqueles lugares em que a gente pode apoiar o
PT. Porque poderia dar a entender que, citando novamente que eles só nos
apoiaram em uma capital, eu estivesse fazendo alguma reclamação. E hoje não é
dia de reclamar, hoje é dia de celebrar a vitória que tivemos, de olhar para
frente e cuidar do Brasil. As coisas que acontecem na vida devem servir para a
gente refletir, acho que vamos tirar lições dessa eleição e todos os outros
partidos também. E uma lição que fica importante, passada a eleição, é cuidar
do que interessa ao povo. Quem fica, entre uma eleição e outra, só cuidando do
que não interessa ao povo, quando chega a eleição não tem o que dizer e
normalmente colhe resultados frustrantes. Então, como o PSB quer seguir tendo
resultados como esse que tivemos agora, o caminho será cada vez mais buscar o
que une e relevar o que separa. Vamos buscar o que une, olhar para o futuro, dar
conta da responsabilidade que recebemos e aprender com tudo isso. Aprender onde
ganhamos, aprender onde perdemos, e poder tirar um caminho de muito trabalho
para que nossos eleitos possam corresponder à expectativa do povo. E onde
perdemos as eleições, temos uma responsabilidade de colaborar com aqueles que
ganharam. Ter maturidade para não fazer a velha política, de ficar torcendo
contra, de ficar procurando atrapalhar, porque isso efetivamente não cabe mais.
O resultado dessa eleição também indica que quem fez esse tipo de aposta
terminou se dando mal. É isso, vou trabalhar.
Márcia Quadros - Assessoria de
Imprensa do Portal PSB
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