Eduardo Campos: Agora é hora de olhar pra frente e cuidar do Brasil

“Agora é hora de olhar pra frente e cuidar do Brasil”. A frase, do presidente Nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, deu o tom de sua primeira entrevista coletiva à imprensa depois do segundo turno, ao avaliar o ótimo desempenho do partido nessas eleições.
O socialista ressaltou que além de comemorar tão significativa vitória – o partido elegeu 440 prefeitos e 3.556 vereadores em todo país – também é preciso ajudar os recém-eleitos a cumprir o prometido à população e a implantar o jeito PSB de governar.

Para tanto, Eduardo Campos já organiza para o início de dezembro, em Brasília, um seminário que irá municiar todos os prefeitos eleitos pela sigla sobre as experiências exitosas do partido em várias áreas, inclusive a de gestão, em que Pernambuco tem um case de sucesso premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Ao mesmo tempo, ele apela aos diretórios das cidades onde o partido perdeu para ter a maturidade de avaliar os erros e colaborar com os que ganharam.

Por fim, o presidente Nacional do PSB alerta que, passada a eleição, é hora de olhar pra frente e pensar no País. O que, para o PSB, envolve continuar ajudando o governo da Presidenta Dilma, especialmente neste momento de repique da crise econômica internacional. Reafirmando que “quanto mais se deixar a discussão de 2014 para 2014 será melhor para o país”, ele defende que é preciso agora focar a atenção no debate de questões estratégicas que permitam fazer de 2013 um ano melhor do que foram os anos de 2011 e 2012. Sem isso, aponta, o país não estará bem em 2014. “O caminho do PSB será cada vez mais buscar o que une e relevar o que separa”, afirmou.

Confira, abaixo,  a íntegra da entrevista coletiva concedida no Recife. O Portal PSB esclarece que as perguntas foram feitas pelos jornalistas presentes ao encontro.

Analistas políticos não descartam o nome de Eduardo Campos para 2014. O senhor confirma isso?
Eduardo Campos (EC) - O PSB está muito feliz com os resultados que obtivemos, que eram muito positivos já no primeiro turno e foram extraordinários agora no segundo turno. Disputamos em sete cidades e vencemos em seis – três capitais e três importantes cidades de suas regiões. Entendemos que agora é hora de desmontar os palanques e deseleitorizar o debate político, cuidar do país, cuidar de ajudar os que se elegeram a poder dar conta dos compromissos assumidos com a sociedade.

A discussão sobre 2014 deve ficar para o tempo certo. Nós assistimos nessas eleições e em outras também, mas nessa de maneira muito clara, muita gente que tomou posse na véspera. Que entrou na disputa achando que estava vitorioso e que, efetivamente, ao cabo do processo de debate e de campanha, a vitória foi entregue pelo povo a outro candidato. Nós temos que nesse momento ajudar a Presidenta Dilma a enfrentar os desafios que estão no horizonte do mundo e no horizonte do País. E ajudar os que se elegeram com a esperança e a confiança do povo a darem conta dessa missão. Esse é que é o debate.

Nós temos ainda este ano uma pauta bastante densa com o Congresso Nacional e com os governadores para darmos conta, é uma pauta que dialoga diretamente com a economia. Podemos citar aqui o marco regulatório do petróleo, que é de suma importância para os investimentos nesse setor, que são investimentos expressivos para animar a economia brasileira. E há ainda, dentro do marco regulatório do petróleo, o debate dos royalties, que é um debate de bastante interesse para os Estados produtores e não produtores de petróleo.

Também o marco regulatório do setor elétrico, que foi iniciativa da própria Presidenta, para reduzir o preço da energia, melhorar a competitividade do produto brasileiro e, ao mesmo tempo, ajudar a economia familiar, sobretudo das famílias de classe média e as mais pobres, que têm na conta de energia uma despesa expressiva. Ambas as discussões estão no Congresso Nacional, a do setor elétrico, por exemplo, com mais de 400 emendas.

Temos assuntos importantíssimos para garantir os investimentos no setor público. Hoje, dos três níveis de governo, os estados são exatamente, no pacto federativo, aqueles entes que mais investem, mais participam do investimento público. A mais importante fonte de receita para a maioria dos estados é o FPE (Fundo de Participação dos Estados). O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a regra do Fundo, que vem sendo utilizada desde a Constituinte de 88 até hoje, não valerá para 2013. Então, o Congresso tem que legislar sobre essa matéria e até agora não pode fazê-lo, o que coloca 60 dias para a gente definir qual será a receita principal da maioria dos estados brasileiros. Isso não é pouco grave, isso é muito importante.
Ao mesmo tempo nós temos, na cena pernambucana e nordestina, uma questão muito relevante que é a questão das secas. Nas últimas semanas eu tenho ido bastante ao semiárido e podemos constatar que essa é a mais grave estiagem dos últimos 50 anos.

Toda essa pauta e mais tantos outros itens, a meu ver, são muito importantes para que a gente possa ganhar o ano de 2013. Fazer 2013 melhor do que foram os anos de 2011 e 2012. Daí a necessidade, que entendo importante para o país e para o governo da Presidenta Dilma, de colocarmos essas questões do eleitoral de lado e olhar o que deve nos unir nesse momento, o que é fundamental na pauta da sociedade, para enfrentar esse debate e podermos cumprir dessa forma a responsabilidade de cada uma dessas forças políticas com o futuro do Brasil.

Já está prevista alguma reunião da Executiva Nacional pós-eleições, do que ela irá tratar prioritariamente?
EC – Nós tivemos a preocupação de preparar nossos pré-candidatos a prefeito, fizemos dois grandes seminários com experiências exitosas do próprio PSB e cursos em gestão pública e agora vamos realizar, no início de dezembro em Brasília, dois dias intensos de trabalho com os prefeitos eleitos do partido. Será nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, era isso que a Executiva Nacional iria discutir essa semana, mas já acertamos o programa em uma reunião virtual. Estamos, no momento, elaborando o conteúdo desse seminário. Acho que é a contribuição objetiva que o partido deve dar aos que se elegeram, colocar a sua disposição experiências, ferramentas e subsídios que serão importantes não só para os que vão necessitar fazer a transição de outros governos mas também para aqueles que já estão nos mandatos e foram reeleitos.

Nos últimos dias houve iniciativas diferentes de sua parte em relação ao Governo Federal. O senhor fez críticas ao atendimento dos atingidas pela seca, divulgando na imprensa uma correspondência enviada ao Palácio do Planalto nesse sentido. Também classificou como excessiva a demora na solução do apagão que atingiu a região Nordeste e, por fim, voltou a reclamar dos problemas no Pacto Federativo. Não teme que isso seja considerado já como um olhar em 2014? Como o Sr. acha que a Presidenta Dilma está se sentindo com isso?
EC – Essa pergunta cabe ser feita à Presidente Dilma, como ela está vendo tudo isso. O que eu posso dizer é que nós temos uma relação com a Presidente Dilma de grande respeito, estamos na base de sustentação de seu governo, ajudamos no processo eleitoral da Presidenta Dilma. Por ver nela virtudes e qualidades para ser Presidenta da República, a apoiamos, apoiamos o seu Governo e hoje temos com ela uma relação de muita consideração. O que diz A, B ou C é direito de cada um, de dizer o que acha, o que presume da nossa relação com a Presidenta Dilma. Mas a nossa relação continua a ser uma relação de muito respeito.
Sobre a questão da estiagem, o que observamos na referida correspondência resultou de uma reunião que faço semanalmente com o Comitê Estadual que foi criado exatamente por iniciativa da Presidenta, que após instalado o Comitê Nacional pediu a criação de um comitê estadual que pudesse fazer o monitoramento das ações da seca. Essa reunião produziu um documento para o Comitê Nacional, o qual, também por solicitação da própria Presidenta, foi enviado a ela, que quer receber as notícias do andamento da questão da estiagem. Por isso é que nós remetemos uma cópia daquele relatório que segue normalmente para o Comitê Nacional, também para a Presidenta da República, em função do agravamento da seca.

No que tange ao apagão da energia elétrica, é claro que não é natural que se leve 3 horas e 40 minutos para religar um sistema em tantos estados quando ele cai. O fato de haver um apagão tem que ser apurado por quem tem expertise e responsabilidade legal para isso. Ele pode se dar por uma fatalidade, por um acidente, por falhas na manutenção, por diversos fatores - que têm que ser apurados. Claro, é preciso ter a responsabilidade de aguardar a apuração efetiva do que houve.  Agora, uma coisa a gente sabe: levou mais tempo do que deveria levar para religar o sistema. E com a responsabilidade que eu tenho, de falar em nome de todas as residências e de todos os prédios públicos – hospitais, presídios, clínicas que ficaram sem energia - o mínimo que eu tinha a dizer era exatamente isso, observar que se levou 3horas e 40 minutos e que é preciso que não se leve 3horas e 40 minutos para fazer esse reparo, quando os próprios técnicos nos dizem que, em média, reparar uma situação como essa deve levar algo em torno de 30, 40 minutos.

Quanto às mudanças no Pacto Federativo, essa não é uma posição nova nossa. Historicamente eu sempre defendi isso. Como Deputado Estadual, como Deputado Federal, como Ministro de Estado e também como Governador, quando defendi e agi a esse respeito. Quem for à Assembleia Legislativa vai ver que é da lavra do governo do estado um projeto de lei que prevê a redistribuição do ICMS, sobretudo para os menores municípios. Muitos prefeitos estão, inclusive, dando o testemunho de que conseguiram passar esse tempo de maior crise (com a seca) por conta da redistribuição que foi feita no ICMS. Essa medida garantiu a desconcentração, a valorização per capita do ICMS, a qualidade da educação como algo importante para medir a quantidade de recursos do ICMS a repassar para os municípios. Nós inovamos nessa matéria. 

Precisamos que os municípios e os estados possam financiar os seus investimentos e o custeio dos serviços públicos. Essa é uma posição que não estou tomando nem defendendo agora, sempre defendi isso e não há nenhuma razão para não continuar a defender que o Pacto Federativo seja fortalecido pela capacidade de financiar municípios e estados.

E a conversa com a Presidenta Dilma, sobre o que foi? (minutos antes, o governador precisou interromper a entrevista para atender a um telefonema da Presidente da República)
EC – Ela mandou cumprimentos para vocês todos e me recomendou que fosse o mais discreto possível.
Mas o que ela queria?
EC – Ela queria nos cumprimentar (pelo desempenho do PSB), mas também falamos de assuntos administrativos e ficamos de ter uma conversa nos próximos dias. Ela própria ficou de marcar a data para esse encontro que, creio, deverá ser na próxima semana.

Na sua interpretação, qual é o passivo que o PSB tem hoje depois dessas eleições, em que saiu mais fortalecido? Com o novo tamanho, o partido está com mais força para reivindicar as medidas e mudanças a que o sr. se referiu, junto à Presidente?
EC – Quem ganha a eleição - e o PSB sai muito fortalecido dessa - ganha também responsabilidade. É preciso saber usar a vitória e a força política para aquilo que interessa ao País. Nós queremos que aforça política que o PSB adquiriu nessa eleição seja colocada à disposição do Brasil para as boas causas. Para ajudar o Governo Federal a enfrentar esse momento em que a crise internacional tem um repique, para que possamos tomar medidas que vão ao encontro do crescimento com inclusão social, com os valores que são caros ao PSB - e é isso que vamos fazer.
E os próximos passos do partido? Fortalecido, o PSB já começa a se apresentar como alternativa de poder, segundo avaliação de todos os jornais de hoje. O que o PSB vai fazer daqui pra frente?
EC – Como já falei, o próximo passo é cuidar e ajudar os que ganharam essas eleições em 440 municípios, em nome do PSB, a fim de prepará-los para fazer o melhor a partir do dia 1º de janeiro. É isso.

Em linhas gerais, o que vai ser apresentado aos novos prefeitos no seminário em Brasília?
EC – Basicamente, vamos levar uma análise de conjuntura, para que os prefeitos tenham ideia de como vai ser o primeiro ano da administração. O primeiro ano normalmente é o mais duro, em que se trabalha com o orçamento que foi feito pelo prefeito anterior. E é preciso, mesmo neste contexto, fazer diagnósticos e tocar projetos que fazem parte do programa de governo. Isso para quem está iniciando. Quem foi reeleito já é outra circunstância. Assim, a primeira preocupação é ter uma análise clara de conjuntura, que vamos levar a eles com o apoio dos economistas e técnicos ligados ao partido. Depois, vamos proporcionar uma ideia dos primeiros passos para uma boa gestão. Ou seja, compartilhar as experiências que deram certo, de quem soube fazer os primeiros dias, os primeiros 100 dias e o primeiro ano. É aquele velho passo a passo que vem da experiência de cada um dos gestores. Isso ajudará nas atividades meio dos novos prefeitos. Já na questão fiscal dos municípios e também nas principais áreas de demanda da população – como saúde, educação, infraestrutura – tentaremos reunir uma coletânea de passo-a-passo para as diversas áreas. Também estamos prevendo um material para subsidiar a transição, como pedidos de relatórios, análises, acesso a pessoal preparado para fazer análise de relatório fiscal, visando o apoio aos prefeitos ao longo dessa transição. O PSB tem, na nossa Fundação de amparo, a Fundação João Mangabeira, técnicos que podem ajudar os prefeitos eleitos e as equipes de transição a fazer consultas na atual gestão, enfim, dar todo o suporte a esses companheiros.

O PSB pretende apresentar candidatura própria ou apoiar alguma candidatura para a mesa
diretora da Câmara (dos Deputados)?
EC – Esse é um assunto próprio da bancada do PSB na Câmara e a bancada vai discutir isso no seu tempo certo. Normalmente, a direção do partido não interfere nesse debate, que é próprio do Legislativo e acontece a cada dois anos sem maiores sobressaltos. Pelo que sei, nem foi iniciado.

À parte as vitórias e o crescimento do partido nessas eleições, em alguns lugares, como João Pessoa e Curitiba, o PSB não conseguiu se reeleger. Qual é a análise que o partido faz sobre a perda desses espaços?
EC – Os indicadores da eleição, ou seja, o que é que, terminado o segundo turno, a gente colhe, são os seguintes: o PSB cresceu 42% no número de prefeitos, quando o segundo maior crescimento, que foi do PT, ficou em 14%. Todos os demais partidos tiveram queda. Quando avaliamos o número de pessoas que moram nas cidades governadas por cada partido, nós crescemos 101%, passando a administrar uma população total de 15,4 milhões. O segundo partido que mais cresceu nesse quesito também foi o PT, com 36%. Nas capitais brasileiras, o partido que mais elegeu prefeitos foi o PSB: fizemos cinco prefeitos. Em segundo estão empatados o PT e o PSDB, com quatro. Mas um indicador extremamente interessante e que tem a ver com sua pergunta é que nós chegamos a um índice de reeleição de 71,8%, ou seja, quase 72% dos prefeitos do PSB conseguiram se reeleger, quando a média dos outros partidos todos, juntos, ficou em 50%. É claro que aqui e acolá tivemos algum candidato que perdeu, e aí cabe a cada diretório municipal fazer a análise do que houve, onde errou. Quando a gente perde, deve ter a capacidade e a humildade de ver onde falhamos. Ao invés de ficar só colocando a responsabilidade sobre os outros, a gente tem que ver o que precisa ser corrigido. Nossa orientação para os que perderam é esfriar a cabeça, para fazer uma análise realista sobre onde houve falhas, corrigi-las e poder voltar a vencer.

Mesmo com sua boa relação com a Presidenta Dilma, na disputa eleitoral em várias cidades onde o PT e o PSB disputaram o segundo turno, o PSB ganhou. Como fica essa relação de fato, os palanques foram mesmo desarmados?
EC - Quanto à relação com a Presidente Dilma, já falei e repito: o PSB foi o partido que mais apoiou o PT no primeiro turno. Claro que isso não é notícia, a notícia é onde não estamos com o PT. No segundo turno, das 17 cidades em que o PT estava disputando a Prefeitura, em 11 estávamos apoiando o Partido dos Trabalhadores. Onde não estávamos, era porque disputávamos com eles. E nós obtivemos a vitória onde houve essa disputa com o PT - vencemos em Porto Velho, Cuiabá, Fortaleza e Campinas. E vencemos também em Petrópolis, contra o PMDB mas que era apoiado pelo PT. Somente em Duque de Caxias é que o PT, desde o primeiro turno, nos apoiou. Aí, quem ganha, tem que saber ganhar. Tem que ter humildade, cuidar de trabalhar, olhar para o futuro, olhar pra frente e tocar a vida, com muita naturalidade. A eleição municipal é uma eleição que normalmente dispersa governos que tem base de apoio muito amplas, como o da Presidenta Dilma. Aqui em Pernambuco também eu vivi muito essa situação, é natural que no município se tenha mais de um candidato da base. Tem que se ver isso com naturalidade.

Em Pernambuco, a Frente Popular fez 140 prefeitos e o PSB 59. Os mais próximos, principalmente da região metropolitana de Recife, já estão recorrendo ao governo, requisitando técnicos do estado para auxiliá-los na questão da gestão. Há algum risco de descontinuidade em projetos do estado em função disso?
EC – É natural que quem se elegeu e vai assumir um primeiro mandato possa recorrer a apoios para fazer a transição e começar a elaborar o que seria uma futura equipe de governo. Assim como é natural que nossos companheiros, não só do PSB, mas dos partidos da Frente, mirem um governo que procurou usar ferramentas de gestão que têm dado certo. De forma nenhuma vamos ter qualquer descontinuidade em função disso. Iremos, de fato, fazer um encontro com todos os prefeitos eleitos no estado, a Casa Civil do governo já está preparando isso para janeiro, visando compartilhar essa experiência de gestão bem sucedida com eles. É um trabalho do estado, institucional, em que apresentaremos a eles nossa experiência e as referências que podem ter para a implantação de políticas especificas necessárias ao município. O que pudermos fazer no sentido de ajudar os prefeitos do PSB e da Frente, com orientação e informação, nós vamos fazer. E eles vão montar a equipe como se monta normalmente, recorrendo ao serviço público local, estadual e federal e ali fazendo os convites, o chamamento para integrar a equipe. Como nós montamos aqui no governo de Pernambuco, com muita gente do serviço público estadual, com outros tantos do serviço público federal e com outros que não têm vínculo com o setor público.

O presidente do PT, Rui Falcão, e lideranças dos diretórios municipal e estadual do partido deram coletivas sobre a vitória de Fernando Haddad em que comentaram que, no segundo turno, o PSB praticamente não participou da campanha, não ajudou o candidato do PT. Enquanto que o PMDB se aproximou muito e deu uma contribuição importante para a vitória. Com isso, o PMDB cresce diante de Dilma e o PSB perde um pouco de espaço? Como está esse jogo de forças junto à Presidência da República?
EC – Preciso ver quem declarou o quê, eu não vi, prefiro ficar com a palavra que recebi ao longo do segundo turno do agora prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, de agradecimento pelo apoio que teve e estava tendo do PSB. E também prefiro acreditar na palavra daquele que viu no Fernando Haddad a possibilidade de ser o prefeito da maior cidade do país, que é o ex-Presidente Lula, com quem conversei no sábado. Na ocasião, ele recordou o quanto foi importante a decisão do PSB de apoiar o Haddad já no primeiro momento da candidatura. Então, prefiro ficar com a palavra do prefeito eleito e do Presidente Lula, que sempre foram na direção de reconhecer o apoio do PSB como um apoio importante para essa vitória.
Sábado foi aniversário do ex-Presidente Lula e divulgou-se que o sr. não teria nem ligado para ele, outros que teriam se falado mas o clima não estava bom. Isso é verdade , como fica essa relação agora, passadas as eleições?
EC – Falaram o que quiseram sobre minha relação com o Presidente Lula durante as eleições, está cheio de notícias sobre isso nos últimos 100 dias. Mas mais importante é o fato. E o fato é outro: uma relação de tantos anos, que passou por momentos tão duros e momentos tão bonitos da vida política brasileira nos últimos 20 anos ou mais, não vai ficar ao sabor do disse-me-disse de quem se interessa em separar, em tentar intrigar as pessoas. O Presidente Lula tem uma extraordinária experiência de vida e uma grande maturidade, e eu tenho alguma maturidade e alguma experiência de vida, para sabermos colocar cada coisa no seu lugar. Fiquei muito feliz em poder cumprimentá-lo pelo aniversário, como faço todos os anos, em conversar com ele num dia feliz, de véspera de uma eleição que ele se esforçou muito para ganhar.  E, também, pelo PSB ter tido a oportunidade de ajudar para que essa vitória acontecesse e São Paulo ganhasse um prefeito com as qualidades do Fernando Haddad. Todos nós vamos torcer muito para que ele seja um grande prefeito.

Nessa eleição, apesar de municipal, foram postos muitos temas de ordem nacional. Esses temas vão ter reflexo na eleição de 2014 - não só o julgamento do mensalão do PT, mas o mensalão do DEM e o mensalão mineiro? Poderão surtir efeito na sucessão de Dilma, ao invés de nessa eleição, como alguns partidos esperavam?
EC – Sinceramente, não me sinto em condições de prever se esses temas virão à tona na época da campanha de 2014, e o que isso vai efetivamente interferir. É muito cedo para se pensar qual será a ambiência, a conjuntura que vai se viver em 2014. Vai ser preciso a gente viver para ver.

Com relação ao cenário de 2014, ainda é cedo para o sr. dizer se vai sair candidato ou não. Mas é um cenário favorável para algum político que queira se lançar candidato à Presidente da República?
EC – A resposta é a mesma de antes. É muito cedo para que a gente possa compreender qual vai ser exatamente esse cenário em 2014, como o Brasil vai estar nesse momento, o que vai acontecer. E acho que para o Brasil, para o governo da presidenta Dilma, quanto mais a gente deixar 2014 para 2014 será melhor, para que se possa conseguir, num diálogo nacional, consertar apoio, inclusive a despeito de quem é base e quem é oposição, para uma série de pontos que são estratégicos para o Brasil estar bem em 2014. E o Brasil estando bem em 14, é melhor para o povo brasileiro, melhor para todos os que fazem política que a gente tenha um Brasil crescendo e se desenvolvendo bem em 14. Quanto mais a gente antecipe as disputas, com certeza vamos acumular dificuldades - e num cenário que já tem dificuldades que não dependem apenas de nós. Essa conjuntura internacional é algo bastante complexo, precisamos compreender de maneira muito aguda o que está acontecendo no mundo para tomar decisões aqui e poder seguir com o caminho do País.

Hoje (29/10) a Polícia conseguiu prender José Ramos Lopes Neto (assassino foragido de Maristela Just, crime emblemático de 1989, em Recife), que estava sendo procurado há mais de 22 anos. Qual sua avaliação do trabalho da polícia e demais órgãos no caso?
EC - Quero cumprimentar nesse momento todo o movimento das mulheres pernambucanas contra a violência, aquelas companheiras que militaram ao longo desses mais de 20 anos defendendo políticas públicas que pudessem garantir a integridade da mulher pernambucana. E também a todos os que militaram por essa causa ao longo desse tempo todo, especificamente contra a impunidade nesse caso, que chocou toda a sociedade brasileira à época do ocorrido. Quero cumprimentar também um militante político que era deputado estadual comigo na época e hoje é senador da República, Humberto Costa, que fez muitas vezes da tribuna da Assembleia Legislativa a denúncia em relação a esse crime. E em seu nome cumprimento todos os militantes da política que abraçaram essa causa e esse valor. Ao mesmo tempo, cumprimento também a equipe da SDS (Secretaria de Defesa Social de Pernambuco) pelo trabalho. Eu estava em reunião hoje pela manhã na Secretaria de Planejamento, quando o secretário chefe da Casa Civil recebeu o telefonema do Secretário Wilson Damásio, que precisava falar comigo com urgência; interrompi a reunião e ele me deu essa notícia. Quero cumprimentar ainda os policias do GOE (Grupo de Operações Especiais), que realizaram essa operação e todo um trabalho de inteligência que redundou na prisão desse assassino. Todos que ao longo desse tempo militaram por isso, vão ter hoje um dia onde podemos efetivamente redobrar os compromissos com o fim da violência contra a mulher, contra a violência doméstica, a violência sexista, que é algo que a gente precisa mais e mais que a consciência da sociedade nos ajude a eliminar da cena brasileira.

Até 2014, o partido fez alguma exigência para continuar apoiando a Presidenta Dilma?
EC – Não, nós estamos na base da Presidenta Dilma por uma decisão política de estarmos na base da Presidenta Dilma. Participamos da eleição dela, e para isso retiramos uma postulação legítima de um companheiro de partido disputar a eleição. Tudo em nome da tese de candidatura única defendida pelo Presidente Lula, que coordenava o processo sucessório. Tese da qual o PSB no primeiro momento divergia. Publicamente eu me coloquei na direção de darmos o tempo máximo para verificar quem estava com a razão, porque o PSB defendia que era melhor a estratégia de múltiplas candidaturas, já que não tínhamos, até aquele momento, uma candidatura já firmada na opinião pública, pontuando nas pesquisas. Quando chegou março, a data limite que havíamos combinado para o partido se posicionar, vimos que já tinha ocorrido um crescimento da pré-candidata do PT, então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e que seria um risco ir para a eleição imaginando que seria possível fazer a disputa um a um. Então, aderimos ao movimento de uma candidatura só, que foi a dela. Mesmo assim, não conseguimos resolver a eleição no primeiro turno, tivemos que enfrentar um segundo turno. Começado o governo, nós estivemos sempre com Dilma. Se fizer um levantamento dos principais embates vividos pelo governo da Presidenta Dilma, seja no Congresso, seja na sociedade, o PSB sempre esteve ao lado das posições da Presidenta.

Neste processo eleitoral de 2012, a Presidenta tentou se proteger e evitou se envolver nas eleições municipais; em alguns lugares ela conseguiu, em outros não. Mas agora, passada a votação, estamos olhando para frente e temos que ajudá-la. É nossa responsabilidade ajudá-la nesse momento, já tem muita gente para criar problema para a Presidente Dilma. Nós, do PSB, queremos é criar soluções para ela, que ajudem a tocar a pauta que interessa à população neste momento.

Existe alguma programação para o sr. visitar essas cidades em que o PSB elegeu os prefeitos nas eleições? O sr. pretende exportar o modelo  de gestão que está dando certo em Pernambuco para essas cidades?
EC – Não tenho nenhuma agenda de visitas a essas cidades, minha agenda administrativa é aqui (em Pernambuco). No primeiro turno, e mais ainda no segundo turno, efetivamente fui aos municípios em que o PSB estava na chapa majoritária. Só e ponto, apesar de ter um conjunto de convites para outros municípios. Nestes, onde não pude estar presente, fiz gravações de programas para o horário eleitoral de TV e rádio.
O PSB tem feito um trabalho com os seus pré-candidatos em que já disponibiliza exatamente experiências exitosas, entre elas a questão do planejamento e da gestão aqui no estado, mas também experiências bem sucedidas que o partido teve em outros municípios e estados. Como a escola em tempo integral vivida aqui (em Pernambuco), e também a escola com alfabetização na idade certa, implantada em Sobral (Ceará) quando Cid Gomes (atual governador do Ceará, do PSB) era prefeito – e que é outra experiência exitosa do nosso partido. Tudo isso está recortado em documentos que já foram disponibilizados para os programas de governo dos nossos prefeitos e que, mais detalhados e aprofundados, serão objeto desse seminário que anunciamos para os próximos dias 30/11 e 1/12 em Brasília.

No seminário, vamos ter documentos mais gerais e, também, em paralelo, como discutido semana passada pela direção do partido, seminários específicos sobre temas que vão mais ao encontro do programa de governo apresentado por cada um, em diferentes prefeituras. Por exemplo, aquele município que quer ter contato com uma experiência exitosa para suporte na área da saúde, encontrará isso no encontro. Na questão da educação infantil como uma prioridade para os municípios idem, enfim, esse é o nosso objetivo com o seminário, para que o jeito PSB de governar vá sendo apropriado mais e mais pelas nossas gestões. E esse jeito PSB é aliar democracia com consulta e participação popular, controle social com eficiência no gerir. Gerir na direção dos que mais precisam, mas gerir transformando gasto ruim em gasto bom, podendo ter a aliança com a sociedade como uma aliança estratégica. Usar, inclusive, as novas marcas - como a lei de acesso à informação, as ouvidorias, os conselhos de desenvolvimento econômico e social - como ferramentas importantes para poder fazer mais com menos. E dar conta dos compromissos com a sociedade.

O crescimento do PSB pode se refletir também num aumento da participação do partido nos Ministérios? E no governo Haddad em São Paulo, como vai ser a participação do PSB, já conversaram sobre isso ou há alguma conversa prevista? 
EC – Não, não conversamos sobre nada de composição de equipe, nem em São Paulo, nem no País, nem isso está na pauta do PSB.

O PSB teve uma vitória junto com o Haddad/PT em São Paulo, capital, e uma vitória com o Alckmim/PSDB em Campinas. Na capital, inclusive, o apoio à candidatura do PT foi feita à revelia do PSB estadual. Como fica a situação no estado: o PSB local fica com o PT ou com o PSDB?
EC – Sobre o apoio a Haddad, a decisão foi tomada em conjunto com a direção municipal do PSB da cidade de São Paulo, a quem caberia tomar esse tipo de decisão, e também num diálogo com a direção estadual do partido, que tinha efetivamente resistências ao apoio ao candidato, como registrado pela mídia. Também foi muito importante a vitória do partido em Campinas, terceira cidade do estado de São Paulo e município brasileiro que mais tem produção científica, que tem a maior relação universidade-empresa do país, um polo de inovação, uma cidade com potencial extraordinário, um dos motores do Brasil. Fizemos uma bela campanha, bonita campanha, tivemos uma extraordinária vitória, uma vitória maiúscula, com grande percentual (de diferença de votos sobre o oponente). Ontem mesmo (28/10) o prefeito eleito Jonas Donizette me ligou e disse que já falou com Márcio Porschmam (candidato do PT derrotado em Campinas), inclusive solicitando a ele que ajudasse na gestão, que contribuísse com suas ideias, que pudesse exatamente compreender que a cidade, depois de tudo que aconteceu em Campinas, precisa de paz política pra poder viver dias melhores. Eu tenho certeza de que vamos conseguir isso e Jonas vai fazer parceria com o governador Alckmin e vai fazer parceria com a Presidenta Dilma também, uma cidade como Campinas não pode ficar circunscrita às brigas eleitorais e políticas, sobretudo pela importância que ela tem e pelo sofrimento que essa cidade passou nos últimos anos.

Então o PSB de São Paulo continua na base do Alckmin?
EC – Sim, está na base do Alckmin e também na do Haddad na capital.
Das 17 capitais onde houve segundo turno, o PSB apoiou o PT em 11, enquanto que o PT só apoiou o PSB em uma.  Ao mesmo tempo, o PSB ganhou em todas as capitais em que disputou com o PT. O sr. acha que o PT precisa valorizar mais o apoio do PSB?
EC – Já falei disso na semana passada. Hoje resolvi só falar das coisas boas, daqueles lugares em que a gente pode apoiar o PT. Porque poderia dar a entender que, citando novamente que eles só nos apoiaram em uma capital, eu estivesse fazendo alguma reclamação. E hoje não é dia de reclamar, hoje é dia de celebrar a vitória que tivemos, de olhar para frente e cuidar do Brasil. As coisas que acontecem na vida devem servir para a gente refletir, acho que vamos tirar lições dessa eleição e todos os outros partidos também. E uma lição que fica importante, passada a eleição, é cuidar do que interessa ao povo. Quem fica, entre uma eleição e outra, só cuidando do que não interessa ao povo, quando chega a eleição não tem o que dizer e normalmente colhe resultados frustrantes. Então, como o PSB quer seguir tendo resultados como esse que tivemos agora, o caminho será cada vez mais buscar o que une e relevar o que separa. Vamos buscar o que une, olhar para o futuro, dar conta da responsabilidade que recebemos e aprender com tudo isso. Aprender onde ganhamos, aprender onde perdemos, e poder tirar um caminho de muito trabalho para que nossos eleitos possam corresponder à expectativa do povo. E onde perdemos as eleições, temos uma responsabilidade de colaborar com aqueles que ganharam. Ter maturidade para não fazer a velha política, de ficar torcendo contra, de ficar procurando atrapalhar, porque isso efetivamente não cabe mais. O resultado dessa eleição também indica que quem fez esse tipo de aposta terminou se dando mal. É isso, vou trabalhar.

Márcia Quadros - Assessoria de Imprensa do Portal PSB

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