No MA, quem defende direitos humanos foge para não morrer

No Maranhão dominado pela família Sarney, um fazendeiro que mandou assassinar dois trabalhadores só foi preso depois que um programa de Tv mostrou-o levando uma vida confortável livre da prisão.
 Enquanto isso, o cidadão de Açailândia, Sul do Maranhão, que ajudou a elucidar o crime, teve que deixar a cidade com sua esposa e filhos sob os cuidados do programa nacional de proteção aos defensores em direitos humanos. 

(por Leonardo Sakamoto)


Que o exemplo do companheiro e da família nos motive e nos dê força e coragem, a nós, sobretudo nos Conselhos (COMUCAA e CONTUA) para darmos conta de nosso trabalho, que "dizemos" ser a promoção, proteção e defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes, e pouco estamos aí para os Direitos daquelas Crianças e daqueles/as Adolescentes abusados/as, explorados/as, assassinados/as, desaparecidos/as, lavando as mãos e desculpando-se que *isso não é conosco,é com a Polícia, é a com a Justiça, a gente não pode fazer nada...".
Bom, o "Fantástico" fez a sua parte, o companheiro e a família, também, e a gente como fica no caso ELSON, também veiculado no programa pelo reporter Mauricio Ferraz (que também fez sua parte), dona Solange, a mãe do menino desaparecido também fez sua parte, parte da comunidade, também... Vai ficar por isso, mesmo?  é o que  pergunto ao CONTUA, à Polícia, o Ministério Público, o Judiciário... (Menos mal que já temos uma manifestação do MPE em relação ao caso, após sair no Fantástico...). Vamos deixar os pais, os irmãozinhos, parte da comunidade do Assentamento Planalto I sem a devida resposta?

Que nos sirva de lição, de aprendizado, também, a nós que nos arrogamos "Defensores/as de Direitos, Zeladores/as de Direitos, Cobradores/as de Direitos".Ou somos, ou não somos, não há meio termo, não se pode ficar em cima do muro...

Que a matéria a seguir nos  cale fundo do coração e da alma...:

Em 13 de junho de 2008, na fazenda Boa Esperança, localizada na Reserva Biológica do Gurupi (unidade de conservação federal da floresta amazônica), dois trabalhadores rurais foram executados após cobrarem uma dívida trabalhista do fazendeiro Adelson Veras de Araújo. 

A Polícia Civil apontou como responsáveis o fazendeiro e seus jagunços. 

Mas apesar da Justiça ter decretado a prisão em 2009, ela só veio a ser cumprida no dia 28 de janeiro, após uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, registrar imagens do fazendeiro passeando na rua e feito cobranças ao governo estadual.

 O programa foi ao ar no domingo, 30 de janeiro, mostrando imagens da prisão de Adelson.

Um morador de Açailândia, Sul do Maranhão, teve que deixar a cidade com sua esposa e filhos sob os cuidados do programa nacional de proteção aos defensores em direitos humanos.
Há outros envolvidos ainda soltos. Ele e sua organização atuaram no caso, contribuindo para que fosse feita Justiça. 

E, agora, paga um preço alto por ter enfrentado o status quo.

Fiz um breve entrevista com ele hoje. Mantenho o seu nome em sigilo por questões de segurança.

Sakamoto: Por que você teve que deixar sua cidade?
Entrevistado: Isso ocorreu por conta de dois anos e seis meses de apoio que demos a uma família de dois trabalhadores executados com requintes de crueldade dentro de uma fazenda localizada na Reserva Biológica do Gurupi por terem ido cobrar uma dívida do fazendeiro. 

Fizemos investigações, levando à identificação de 14 pessoas envolvidas no caso, incluindo o fazendeiro e dois dos seus filhos.

Dentro do inquérito policial tá cheio de documentos assinados por mim, pedindo providências e levando informação à polícia. 

Praticamente fizemos o trabalho da polícia.
 A situação fica mais grave, porque o fazendeiro e seus filhos não moram longe da minha residência.
 E esses dois trabalhadores não foram as únicas vitimas desse fazendeiro.

 Ele e seus filhos já tinham dito à família das vítimas que matariam qualquer um que se envolvesse no caso.

 Por isso tive que sair, por ser alvo principal, por não me sentir seguro.
 As instituições de segurança pública do Estado não têm estrutura para garantir segurança a mim e a minha família.

Sakamoto:Você tem medo de morrer? 
Entrevistado: Sim, essas pessoas não têm nada a perder, eliminam seus inimigos sem precisar de muitas articulações, acreditam na impunidade.

 Pelo menos quatro homicídios são atribuídos a esse família. 

Sem falar que o fazendeiro é conhecido na cidade como “Adelson Gato” porque nos anos 80 e 90 ele era “gato” (contratador de mão-de-obra) de Gilberto Andrade, outro proprietário de terra que já foi condenado a 14 anos por crime de trabalho escravo.

Sakamoto: No Maranhão, a lei é igual para todos?
Entrevistado: Nestes dois anos em que acompanhamos o caso, pude testemunhar a escassez que é o sistema de segurança pública.

O acesso das pessoas comuns à Justiça é desumano, essas estruturas só funcionam quando pressionadas.
O que aconteceu neste caso? Só prenderam o fazendeiro porque o Fantástico achou o cara e souberam que a matéria ia ao ar.

Dois trabalhadores foram executados em 13 de junho de 2008 pelos jagunços do fazendeiro, mas só hoje 31 de janeiro de 2011 é que a polícia tá indo buscar os corpos para que suas famílias possam realizar o ritual funerário.

Era o que pediam as famílias durante todo esse tempo.
É uma segurança falida, sem estrutura, não por culpa dos funcionários públicos, mas de uma política de Estado que nunca existiu para o povo. 

O governo federal precisa dar uma atenção especial ao Maranhão.
Não existe uma política de direitos humanos, a lei não tem efetividade, Justiça acontece a conta-gotas e a impunidade avança.

Publicada por Josinaldo Smille folha de cuxá 


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