EPITÁFIO DE ELIENE DA CONCEIÇÃO

A notícia saiu nos blogs (Antonio Marcos, Gilberto Freire, Wilton Lima) deste final de semana:

“logo nas primeiras horas deste sábado 23/07, a Policia Militar foi informada por populares, do achado do corpo de uma mulher identificada como Eliane da Conceição, 41 anos de idade, moradora da Rua 15 de Novembro, Bairro Laranjeiras, o corpo da vitima foi encontrado em um terreno baldio, localizado nas proximidades da Comaco da Av. Bernardo Sayão. Depois de fazerem um levantamento prévio da situação, o Cabo A. Costa e os demais policiais da viatura 09, comandada pelo Sargento Araújo, deram inicio a diligencias no sentido de prender o autor do crime. Os policiais lograram êxito e conseguirem efetuar a prisão de Ivanildo Crispim de Almeida, 22 anos de idade, principal acusado de cometer a “barbárie”. A principio ele negou, mais minutos depois tomado de muitos remorsos, resolveu assumir e de forma detalhada contar como tudo aconteceu. O crime – Em conversa com os policias, Ivanildo Crispim, disse que tinha tido um relacionamento com Eliane, mas que resolveu por um fim no caso amoroso, o que ela não teria aceitado, segundo ele por esse motivo, ela passou a lhe ameaçar de morte, foi aí que ele resolveu da cabo na vida dela. Na noite de sexta-feira, depois de tudo planejado, ele a convidou para sair, prometendo a Eliane uma noite de “prazer”, foi ai que tudo aconteceu. Após manter relação sexual com a vitima, Ivanildo confessa ter sufocado Eliane com um pano e lhe desferiu dezenas de golpes de“canivete”, quando o corpo de Eliane foi encontrado, estava irreconhecível e nu do jeito que veio ao mundo.Ivanildo Crispim de Almeida, deverá ser autuado por homicídio com requinte de crueldade e ocultação de cadáver.”

Assim, fria e cruelmente, teve fim a vida da mulher Eliene da Conceição, conhecida nas bandas da Laranjeiras, da Praça da Bíblia, do Mercado e Feira, do Entroncamento.

Mãe de cinco anos filhos, quatro menores de idade, um ainda menino, assim como foi com Amy Winehouse neste mesmo final de semana, sua morte foi “uma crônica de morte anunciada”.

Seu destino começou a ser traçado até pelo local onde morava, um ajuntamento de moradias indignas de serem taxadas de “casas”, esquecido pelo governo e pela sociedade.

É lógico que o local onde se mora não justifica certos comportamentos, mas ajuda a explicar... E é certo de que nem todos e (todas) pobres tenham que tomar determinados caminhos, que acabam levando a trágicos destinos, como foi o de Eliene da Conceição...

Mas é preciso se dizer que ela foi vítima (preta, pobre,....) de todo um sistema (ideológico, político, social, econômico) que a levou e sua prole a sobreviver à margem do que se acha “normal” neste nosso Brasil moderno e globalizado...

Seu destino, diante da fragilidade de nossas políticas de atenção às pessoas e famílias mais fragilizadas, e das ações sociais ou de solidariedade que apesar de todas as boa intenções, não vêm conseguindo reverter as situações de necessidades e desespero vivenciadas por milhares e milhares de infelizes açailandenses, como foi com Eliene da Conceição.

O assassinato de Eliene da Conceição, fecha uma semana em que, por ironia do destino, iniciou com otimista entrevista do Major PM Edeilson Carvalho, aos meios de comunicação locais, dizendo da diminuição das ocorrências de homicídios em Açailândia (além de Eliene, foram assassinados, estes a balas, “Ceará e Serginho”).

É um quadro que demonstra nossas fraquezas no sistema de segurança, e com o assassinato de Eliene da Conceição, deveria nos levar a pensar seriamente em ampliar e fortalecer a seguridade social (assistência social, saúde, previdência social) num quadro crescente de “população de rua” (pés-inchados, zumbis), na maioria “filhos e filhas das drogas (sobretudo o crack”) que se misturam em “consórcio” com a prostituição ( e a exploração sexual comercial de Crianças e Adolescentes), o tráfico e a criminalidade, que vem assustando (assustando, não: apavorando a população!...)

A questão é que a sociedade açailandense considera a “questão social” caso de segurança, caso de polícia, e aí se distorce tudo...

Desse “caldo de cultura” , desse “meio ambiente”, nasceu, cresceu, se desenvolveu, e morreu Eliene da Conceição, e seres humanos como ela, deserdados de berço e de vida,em sua plenitude.

Como dizia um morador, no velório de Eliene da Conceição : “... a vida prá nós é todo dia, dia de dor... Prá ela, não vai ser mais. Descanse em paz, Eliene da Conceição!...”

Fonte: Eduardo Hirata

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