Assim podem ser vistas as rádios comunitárias, que aproximam o atraente mundo da comunicação da população.
O sonho nasceu aos sete anos de idade. Por causa do pai, Marcos Veloso, hoje com 24 anos, decidiu que queria trabalhar com comunicação e optou por ser radialista. Observando o trabalho dele aprendeu o bastante para se dedicar à profissão. Montou uma emissora de rádio, mas precisou passá-la por motivos de doença do pai. A batalha para conseguir realizar seu sonho não parou. O resultado desse sonho materializado é a rádio Tropical FM, que completou nove anos.
Mais que uma rádio de veiculação de entretenimento, a Tropical tem a missão de servir a comunidade onde está instalada, no bairro Centro, em São José de Ribamar. E tem cumprido a missão, garante Veloso. A programação é diversificada e tem início às 5h, encerrando à meia noite. Da música romântica ao forró, passando pelo sertanejo e religioso. Os noticiários são uma atração à parte. Mas, o que o público fiel da rádio procura mesmo é pela função social. "Este é o principal objetivo de uma rádio comunitária, e conosco não é diferente. Prezamos esse lado social", garante Marcos Veloso. De locutor ele passou a acumular a função de administrador da emissora. Parte dele e dos colegas de trabalho iniciativas que vão servir à população do bairro e entorno.
Buracos nas ruas, falta de energia ou água, ônibus precário e até reclamações contra vizinhos. Tudo é levado aos microfones da rádio que se transformou na voz de parte dos ribamarenses. É comum promoverem eventos de cunho sócio-educativo e é na rádio que eles são divulgados. O espaço é aberto para quem precisar, priorizando sempre a comunidade local. Recadinhos amorosos, pedidos de música e até aqueles que, por estarem perto da emissora, aproveitam para dar uma contribuição direto dos microfones. "Temos um público que nos ouve com fidelidade. Não só aqui onde atuamos, mas em bairros mais distantes", conta Veloso. A proximidade e acessibilidade dispensada aos ouvintes e a interação com estes fazem da emissora sucesso de público. Os ouvintes dão palpites até na programação.
Dia 1º de agosto estreia a nova grade de programação da rádio e ela passa a se chamar Nova 104. Entre as novidades, um programa só de música eletrônica. Pedido de ouvintes atendido prontamente. Na data, a função social é que vai dar o tom da festa. Por meio de parcerias, os organizadores conseguiram garantir a distribuição de sopão e serviços como aplicação de flúor e distribuição de preservativos. Até o dia do evento, eles pretendem agregar mais parceiros e oferecer outros serviços. A ideia, diz Veloso, não é festejar a nova emissora, mas promover ações sociais. "São estas iniciativas que fazem a rádio comunitária querida pela comunidade", ressalta. E põe querida nisso.
Portas fechadas
Por não possuir documentação exigida pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a rádio passou três anos fechada. Entre as exigências da Anatel estavam o consentimento da comunidade e, para comprová-lo, a diretoria precisaria reunir um grande número de assinaturas.
Veloso conta ter se surpreendido com as três mil assinaturas conseguidas só na área de atuação da rádio. Em novembro do ano passado conseguiram documentar a emissora. A sede é própria, à Rua da Avenida. No estúdio, a acústica é obtida com revestimento de caixas de maçã nas paredes. Os poucos, mas suficientes equipamentos garantem o som de qualidade que a rádio leva aos quatro cantos de São José de Ribamar. Para Veloso, a função das rádios comunitárias é tão importante para as comunidades que deveria ter mais atenção do poder público. O processo de regularização, diz ele, poderia ser menos burocrático. "Nossa função é social. A própria comunidade atesta isso", enfatiza.
De ouvido ligado
Vizinha quase parede com parede da rádio, a estudante Iranilde Oliveira da Silva, 30 anos, é daquelas ouvintes assíduas, que participam. Morar perto de uma rádio traz vantagens, diz ela. "Você pode chegar no estúdio direto com o locutor e fazer seu pedido", exemplifica. Ela ouve a programação, mas, também dá pitacos. Quando ficou sabendo que será veiculado um programa de música eletrônica ficou animada. "Eu adoro esse estilo e ainda não tinha ouvido na rádio". Dois outros programas dos quais ela é fã são Recordar é Viver, onde só tocam clássicos; De Coração Para Coração, só de românticas; e o religioso católico Salvando Vidas e Resgatando. Na casa de Iranilde a equipe de O Imparcial comprovou que ela realmente é ouvinte de carteirinha: estava com o som ligado na programação da rádio. Aliás, não só ela. Na casa são 14 pessoas, e, quando todos estão reunidos, só rola o som da rádio comunitária do bairro. O único concorrente da rádio é a novela. "É só terminar a novela que já ligo na rádio e vou até de manhã, se for o caso", diz a ouvinte noveleira.
Regularização
Rádio Comunitária é um tipo especial de emissora de rádio FM, de alcance limitado a, no máximo, 1Km a partir de sua antena transmissora, criada para proporcionar informação, cultura, entretenimento e lazer a pequenas comunidades. Trata-se de uma pequena estação de rádio, que dará condições à comunidade de ter um canal de comunicação inteiramente dedicado a ela, abrindo oportunidade para divulgação de suas idéias, manifestações culturais, tradições e hábitos sociais. A Rádio Comunitária deve divulgar a cultura, o convívio social e eventos locais; noticiar os acontecimentos comunitários e de utilidade pública; promover atividades educacionais e outras para a melhoria das condições de vida da população. Uma Rádio Comunitária não pode ter fins lucrativos nem vínculos de qualquer tipo, tais como: partidos políticos ou instituições religiosas. A autorização para execução do serviço de Rádio Comunitária será concebida por 10 anos, podendo ser renovada por igual período. Cada entidade poderá receber apenas uma autorização para execução do serviço, sendo proibida a sua transferência.
Por Sandra Viana
Oimparcial Online
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