Romário: “O Corrupto tem que ir embora”

Entrevista concedida ao jornalista Manoel Guimarães do jornal Folha de Pernambuco e publicada no dia 24 de julho de 2011.
Aposentado dos gramados desde 2008, o ex-atacante e agora deputado federal Romário de Souza Faria (PSB-RJ) mostra que continua com a mesma língua afiada - e presa - dos tempos de jogador. Eleito no ano passado, com 146.859 votos, o “Baixinho” esteve em Pernambuco na semana passada e falou sobre o início da carreira política. “Do plenário em si, não sou fã”, confessa. “Quem faz da política um ganho de vida tem que ser preso”, afirma Romário, lembrando as velhas frases de efeito que permanecem na memória dos boleiros. Como parlamentar, suas ações têm sido destinadas a crianças e jovens com deficiência ou com problemas envolvendo drogas - que são o motivo de uma campanha para a qual o parlamentar quer aproveitar sua imagem. O socialista ainda comemorou os dois artigos elaborados para um projeto voltado para essa área. “Foi meu primeiro gol na política”, diverte-se o “Baixinho”. Confira abaixo a entrevista publicada no jornal Folha de Pernambuco.
 
Folha de Pernambuco (FP): O senhor é um estreante na política, tendo conquistado um mandato em sua primeira eleição, no ano passado. Como avalia esse primeiro semestre como político, após mais de 20 anos como jogador de futebol?
Romário: 
Posso te dizer que me encontrei na política. Nos primeiros dias, realmente me perguntava o que estava fazendo no Congresso, nesse mundo totalmente diferente. Posso dizer que quando cheguei em Brasília, fiquei bastante acanhado. Ainda não tinham sido abertas as comissões, não tinha nenhuma frente parlamentar formada. Depois de duas semanas, quando houve essa abertura, as coisas melhoraram para mim.
 
FP: Desde os tempos de atleta, o senhor sempre deu declarações fortes, algumas que renderam polêmica. No ano passado, quando se candidatou, prometeu que iria surpreender. Agora como político, se sente à vontade no plenário?
Romário:
 Do plenário em si, particularmente não sou fã. Prefiro atuar nas comissões e nas frentes parlamentares. Até porque quem tem mais direito e mais tempo de falar no plenário são os líderes. Como não sou líder, sou um novato, não tenho muito tempo de falar. E nem me deixam. Falei umas quatro vezes nesse semestre. Fui sorteado para falar por 25 minutos uma vez, no chamado grande expediente. Também já falei no médio e no pequeno.
 
FP:Muitos deputados reclamam da concorrência para falar na tribuna. O senhor tenta se inscrever?
Romário:Sempre que posso, tento me inscrever para falar, mas a lista é enorme. Somos 513 deputados e todo mundo quer falar. Na verdade, só falo o que acredito que realmente venha a ser algo de positivo. Falar por simplesmente aparecer na televisão, é melhor não falar. Graças a Deus sou um deputado que não preciso disso.
 
FP:Sua atuação então é mais na parte das comissões...
Romário:
 O plenário era para deputados como Sílvio Costa (PTB), da sua terra, que é uma pessoa muito respeitada em Brasília e com quem aprendi muito a ser um político correto e descente, fazendo ações que sirvam para beneficiar o povo. Eu fui colocado na Comissão de Esporte e Turismo, da qual sou vice-presidente. Também faço parte da frente parlamentar em defesa das pessoas com deficiência e da frente em defesa da atividade física. Não sou participante da Mesa, mas integro também a frente de combate ao crack e ao oxi. Já tive oportunidade de ir com o deputado federal Givaldo Carimbão (PSB-AL), que também tem feito um grande trabalho.
 
FP:Quando chegou na Câmara, chegou a sentir preconceito, por ser de origem humilde e ao mesmo tempo por ser um ex-atleta, da chamada “bancada dos famosos”?
Romário:
 É natural. As pessoas imaginavam o Romário como mais uma celebridade, que ia chegar e passar quatro anos fingindo que iria fazer uma coisa, como aliás muitos fazem. Mas tenho certeza que se você perguntar aos meus 512 colegas, eles vão dizer que vêem um Romário atuante. Infelizmente, tem coisas que acontecem. Por exemplo, saíram coisas na Imprensa carioca que acabaram ecoando pelo Brasil. Disseram que no meu primeiro mês de mandato, eu faltei a uma sessão na Câmara para jogar futevôlei. Se você entrar hoje no site da Câmara, vai ver que eu estou com 100% de presenças. Então tem algo de errado. Até porque eu não faltei a sessão que disseram, eu estava lá. E se você entrar no site do Governo, vai ver que somente eu e mais 32 deputados somos os únicos 100%. Talvez eu seja o único 100% presente em todas as comissões e frentes parlamentares.
 
FP: Recentemente, o presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS), chegou a elogiá-lo por essa assiduidade...
Romário: 
Agradeço muito o elogio que o presidente me fez. Mas na realidade não ligo para elogio, não. Estou lá na Câmara para fazer o meu melhor. Sou uma pessoa muito feliz. E sempre coloquei minhas bandeiras, desde a campanha. Quero trabalhar para fazer o melhor para as crianças, os jovens, as comunidades e principalmente o futebol. Nasci numa favela e sei como é difícil a vida. Por isso, minhas bandeiras estão voltadas para ações nessas áreas. E acredito que não haja no mundo uma ferramenta mais emergencial do que fazer uma inclusão dessas pessoas através do esporte. Não falo só de futebol. A gente tem que entender que nossa política pública tem que mudar um pouco no que se refere a isso.
 
FP: Que ação sua o senhor destacaria em seu primeiro semestre como deputado?
Romário:
 Recentemente acrescentei dois artigos em uma emenda, que se Deus quiser vão virar lei, relacionados a essas áreas de crianças e jovens. Com essa emenda, posso considerar que foi o meu primeiro gol na política. Foi o meu primeiro gol no Congresso. Tem parlamentares que têm três, quatro mandatos como deputados e ainda não tinham conseguido isso. Com cinco meses espero ter conseguido. E posso considerar que vou fazer oito gols nesses quatro anos de Congresso. Os outros também estarão relacionados com essa área de crianças e jovens com dificuldade, pessoas com deficiência, e também com os drogados, que não eram minha bandeira, mas passaram a ser porque era uma obrigação minha.
 
FP: O senhor se colocou à disposição dos estados para campanhas contra as drogas. Esse tipo de ação também foi incluído nos seus propósitos como parlamentar?
Romário: Tirei a primeira semana do recesso para passar pelos estados governados pelo PSB. Fui no Piauí, Espírito Santo, Pernambuco, com nosso presidente nacional Eduardo Campos, Paraíba, Ceará e Amapá. Minhas visitas foram totalmente direcionadas para a gente conseguir alguma forma de diminuir essa entrada, tanto de crianças como de jovens, e hoje até dos mais adultos, nessas drogas que invadiram o nosso País, como o crack e o oxi. Não poderia ser diferente. Estou me colocando à disposição em todos os sentidos, para participar de atos, conferências, simpósios, fóruns que estejam ligados a esse tema das drogas. Coloco a minha imagem, porque acredito que eu tenha uma imagem positiva no meio dos jovens, pois também nasci numa comunidade, ganhei minha vida com muita luta e sacrifício. Quero que eles tenham mais certeza de que, através do esporte, eles podem ter uma qualidade de vida melhor.
 
FP: De que forma o governo pode entrar nessa questão?
Romário:
 O governo tem que entender que não é só simplesmente tirá-los da droga, desintoxicá-los e depois voltar para casa. Tem que dar aos jovens, aos usuários no mínimo uma oportunidade para eles terem, no esporte ou no trabalho, uma forma de capacitá-los. As pessoas têm que ter a oportunidade de aprenderem coisas para que possam levá-las para o mercado de trabalho.
 
FP: Recentemente, o Governo Dilma tem enfrentado problemas por conta de denúncias sobre corrupção em algumas pastas, em especial o Ministério dos Transportes. Qual sua opinião sobre esses problemas?
Romário:
 Eu sou muito claro. Para mim, o corrupto tem que ir embora. Quem é corrupto, quem é ladrão, quem faz da política um ganho de vida tem que ser preso. É bem simples e rápido. Não tenho muita palavra. Vocês me conhecem, eu sou o Romário de sempre. Político não é para ser corrupto. Político não é pra roubar e muito menos para fazer falcatrua. Aqueles que são assim têm que ir para a cadeia mesmo. Tem que perder o emprego e serem fiscalizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pelo Mistério Público, e se forem culpados têm que devolver o dinheiro e cadeia! Sou a favor disso.
 
FP: Mas houve isso nos Transportes?
Romário: Isso eu não posso dizer. Estou dizendo que corrupto, dessa forma que falei, tem que ser levado assim. Agora, o que houve nos Transportes, ninguém pode dizer. Até porque, até agora, nada foi totalmente comprovado. Na verdade, a atitude do ministério em pedir o afastamento do ministro foi muito inteligente, até para que ele mesmo possa se defender. Acredito que todo mundo tem o direito de se defender, a partir do momento em que há uma acusação contra você ou contra qualquer um.
 
FP: Quando a Copa foi anunciada no Brasil, o senhor declarou que o País faria o melhor torneio de todos. Ainda partilha deste pensamento?
Romário: Retiro essa frase. Realmente estamos bem atrasados em algumas coisas. A Copa do Mundo com certeza vai acontecer no Brasil. Mas se a coisa for do jeito que está, vai ser uma Copa do Mundo meio maquiada, e não era isso que a gente queria. Acho que o mais importante de uma Copa ou Olimpíada, que o Brasil também sediará, é deixar legados. Pelo que tenho visto, não há nenhum tipo de legado a nível de educação, de saúde, na área social. O que vejo é um monte de estádios sendo construídos, e alguns, da forma que são colocados para a gente, podem virar um estádio multiuso, enquanto outros, com certeza, virarão um elefante branco. Independente de Copa ou Olimpíada, os aeroportos brasileiros já tinham que ter sido ampliados e melhorados, porque a gente vê grandes problemas em época de férias.
 
FP: Muitas denúncias têm recaído sobre o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, que é o organizador dessa Copa...
Romário: 
Essas denúncias que têm saído por aí sobre corrupção e fraude, eu não tenho nada a dizer. Acredito que isso realmente atrapalhe o andamento do Brasil, porque o Ricardo Teixeira é o grande nome do futebol brasileiro. Essa seria uma excelente oportunidade para ele vir a público e tirar as dúvidas das pessoas. Existe uma grande desconfiança do povo em relação a Ricardo Teixeira. Mas hoje, como não tem nada confirmado, e estou levantando isso, a nível de corrupção, de fraudes e de roubos, eu seria incapaz de dizer que o Ricardo é culpado de alguma coisa enquanto nada for provado. Não sou juiz, não sou desembargador, muito menos advogado. Nós temos que perguntar se é verdade isso que está sendo dito por aí aos órgãos competentes que podem resolver isso.
 
FP: Na política, assim como no futebol, há muitos rumores e especulações. Comenta-se que o senhor poderia ser lançado a candidato para a Prefeitura do Rio de Janeiro em 2012. Há verdade nessas especulações?
Romário: Olhe, o PSB do Rio de Janeiro está muito preocupado com isso. Não só o presidente, como todos nós deputados estamos conversando muito sobre uma forma de a gente acabar isso. Saiu uma nota em um jornal lá do Rio, cogitando isso (disputar a Prefeitura). Mas eu descarto. Para você ser prefeito de um município, você tem que ter uma experiência administrativa muito grande, principalmente se tratando de uma capital como o Rio de Janeiro. Eu não me considero capaz disso. Apesar de a eleição só ser daqui a um ano e meio, eu ainda não estarei preparado para administrar um município como o Rio de Janeiro. Sei me colocar no meu lugar. Meu objetivo na política são esses quatro anos como deputado.
 
FP: Também se especula que o governador Eduardo Campos, que é presidente nacional do seu partido, pode ser candidato à Presidência da República em 2014. O quão viável esse projeto nacional do PSB lhe parece?
Romário: O governador Eduardo Campos é um político que admiro bastante e que tem grande credibilidade no mundo político. Se acontecer de um dia ele entender que reúna as condições e que deva sair candidato à Presidência da República, e se isso for de comum acordo entre os partidos da base, vejo com bons olhos.
 
FP: E depois?
Romário: Depois a gente vai sentar e ver. Quero contribuir com o povo, com o Brasil. E é isso que pretendo nos próximos três anos e meio. Repito, não penso em 2012. Meu pensamento é finalizar esse mandato com coisas positivas. Lá na frente a gente vai ver o que vamos fazer.

Fonte: PSB Nacional

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