ASSIM CAMINHA AÇAILANDIA...

(Um começo de semana “normal” em Açailândia...)


Na segunda-feira, 1º/08, uma servidora pública municipal, revoltada, relata “os problemas que lhe dá um sobrinho, de quinze anos, órfão da mãe, pai ausente”. E questiona como pode o adolescente, assim como dezenas de outros e outras, freqüentar o “Gigantão” todo final de semana ( a filha da servidora emenda que não é só o Gigantão, é também a Subterrânea, boate...). 
Como a servidora, muitas outras mães e famílias reclamam que não tem como “controlar” filhos e filhas, que a atração e o apelo das casas noturnas é muito grande, não dá prá vencer...
Servem para um lazer distorcido e pervertido, tudo “consorciado” em aliciamento, agenciamento e exploração sexual comercial de adolescentes (como bem demonstraram duas CPIs estaduais, as de 2003 e 2009), consumo e tráfico de drogas, e outras “infrações” e outros crimes.
Outra mãe, merendeira, relata que por várias vezes foi retirar a filha, então com quatorze anos, “de dentro do Gigantão...”. “As autoridades não estão nem aí, aliás, tem muitas delas lá dentro, se divertindo...Eu não sei pra fazem as leis, se é prá não cumprir. Depois, só querem criticar e punir a gente, que não tem como controlar os filhos sozinhos...”.
E a idosa, avó materna (quatro netas, um neto), crianças e adolescentes entre nove e dezesseis anos, os pais, as mães, ou falecidos/as ou “nem aí”, procura com desespero por comida, por “ajuda”, procurando os Conselhos ( Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e Tutelar). 
“Não tem um grão de arroz, nem uma banda de pão prá comer, eu não sei mais o que fazer, com cinco bocas prá dar de comer...”.
Isso em Açailândia do Maranhão, uma das vinte futuras metrópoles regionais brasileiras, a maior renda per capita do Maranhão, um dos três continuadamente maiores PIB/Produto Interno Bruto; epicentro de Carajás, a maior província mineral do mundo, com seu Corredor de Exportação (mina-ferrovia-porto); pólo de um surto monumental de construção civil pesada (expansão da ferrovia, construção da aciaria...), etc., etc. 
Terra em que se fala tanto de “progresso, desenvolvimento, desenvolvimento”. A custo de quê? 
A custo da fome da avó e suas quatro netas...? Nem que fossem só as cinco, em mais de cem que somos, já seria demais...
Que “progresso” é esse, que admite a fome em seu meio?...
Passar fome, em pleno 2011, nesta era de Direitos Humanos, de políticas de segurança alimentar e numa cidade do porte de Açailândia é uma indecência, uma injúria, um pecado mortal, um crime contra a humanidade! 
Não serão as “solidariedades televisivas ou radiofônicas” (já se sabe no que vão terminar... politiqueiramente falando...) que resolverão a questão da fome em Açailândia, tampouco a perpetuação da “esmola”, pervertida de seu real significado ( da “Caridade”). 
Vai ser preciso um conjunto de ações sociais, de políticas públicas, mas de natureza estrutural, que garanta no dia a dia que cada ser humano brasileiro, cada cidadão e cidadã, tenha assegurado seu direito básico de se alimentar digna e suficientemente... 
Enquanto isso, “assim caminha Açailândia”...
Por Eduardo Hirata

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