BRASÍLIA – Um discurso do senador Mário Couto
(PSDB-PA), na tribuna do Senado, chamando os parlamentares de “ladrões”,
dizendo que a corrupção é generalizada na política brasileira, e defendendo que
o Supremo Tribunal Federal (STF) analise a evolução patrimonial de todos os
deputados e senadores, na tarde desta terça-feira, provocou protestos de seus
pares. O tucano elogiou o julgamento do mensalão, mas afirmou que ele não é
suficiente.
- São dezenas ou centenas de parlamentares que
estão aqui cheios de processos nas costas. Está escrito na testa: ladrão. Estão
ricos porque roubaram do povo – afirmou Couto, aos berros, como de costume, na
tribuna do Senado.
Ele acusou colegas parlamentares de enriquecerem
ilicitamente e de se valerem do mandato para continuar impunes. Sem citar
nomes, Mário Couto acusou “muitos políticos, não são poucos, que hoje estão
aqui sentados nessas cadeiras” de serem milionários e de responderem a 30, a
40, a 50 processos que não são julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Por que o Supremo não aproveita a grande oportunidade que tem na mão e faz uma
limpeza nacional?”, questionou.
“Não é só o mensalão que existe no País, existe uma
corrupção generalizada”, denunciou. No entender do senador, o Supremo deveria
fazer uma auditoria no patrimônio de deputados e senadores para saber de onde
“saíram” esses bens. “Comparem, senhores ministros, aproveitem a grande
oportunidade que o País está lhe dando, o País quer minimizar a corrupção neste
Brasil inteiro”.
Reações
A primeira a se manifestar foi a líder do PSB,
senadora Lídice da Mata (BA), que reagiu ao discurso do tucano:
- Não aceito esse tipo de pronunciamento. Meu
partido tem senadores dignos, honestos.
Líder do PSDB, o senador Álvaro Dias (PR), tentou
colocar panos quentes. Ele não ouviu o discurso do correligionário, mas tentou
minimizá-lo:
- Ele não fez referência a nomes. Não acredito que
ele tenha generalizado. Talvez não tenha sido bem entendido.
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que
presidia a sessão, também protestou:
- Eu corroboro (com a senadora Lídice da Mata). Ele
generalizou, sim.
Horas depois, Couto voltou ao plenário para
reclamar de suposta censura do Senado ao seu discurso. O presidente da Casa,
José Sarney (PMDB-AP), afirmou que tomaria providências.
- Eu quero que a palavra ladrão esteja contida no
meu pronunciamento. É um direito democrático que eu tenho.
Mário Couto disse que tem senadores donos de dez
casas, de jatinhos, como o King Air, “que é a marca de um avião moderno que
custa alguns milhões”. “Tem senadores que têm televisão (emissora), tem jornal
porque fizeram o seu patrimônio com o dinheiro do povo. É nisso que o Supremo
tem de pôr a mão para a Nação brasileira poder aplaudir o Supremo. O mensalão é
uma pequena parte da corrupção generalizada neste País”.
Couto disse ainda que, além dos bens que ele já
citou, há senadores que moram em apartamento e casas luxuosas e que têm “até
dez famílias para manter”. “Têm ainda 50 mil bois no pasto e nunca foram nada
na vida. Não têm a menor condição de comprovar o seu patrimônio acima de R$ 100
milhões”, revelou. “Eles estão livres, estão andando dentro do parlamento,
estão fazendo projetos, estão perto de todos os outros senadores, quem sabe não
olha para mim”. “Está escrito na testa: ladrão! Está na testa bem grande:
ladrão, eles não sentem nada, estão tirando da Nação, tiraram do povo”.
Do Estado de São Paulo e O Globo
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