Poderia um Profeta Mórmon Renunciar?

Profetas mórmons, papas católicos e dalai lamas tibetanos chegam ao controle de suas religiões por caminhos diferentes. Os primeiros são chamados por Deus e sobrevivem mais tempo que seus colegas, outros são votados, outros são reconhecidos desde a infância. 

Mas todos eles são "desobrigados" ou deixam estes chamados da mesma forma: Eles param de respirar. 

Assim era até a impressionante renúncia do Papa Bento XVI na semana passada, que levantou a questão sobre outros líderes religiosos que servem chamados por toda vida: Se eles devem permanecer até que morram, ou podem renunciar pelo caminho. 

É um dilema particularmente moderno, atrelado a um tempo em que as exigências sobre esses homens têm se expandido de forma exponencial desde que suas religiões começaram. Eles vivem cada vez mais tempo e estão mais presentes na mídia e expostos ao público. Espera-se que viagem muito, preguem e ensinam milhões, e estão sob o olhar de escrutínio da mídia. Os seguidores anseiam figuras carismáticas que falam com autoridade moral e que transfiram as vicissitudes do envelhecimento mortal. 

Para Bento XVI de 85 anos de idade, a resposta foi clara: isto não poderia acontecer. 

A alguns séculos atrás, quando um papa católico ficava muito doente ou enlouquecia, apesar das pouquíssimas renúncias, era colocado nos bastidores e a igreja continuava até sua morte. Há notícias de golpes e envenenamentos, mas são poucos os relatos. Só que a igreja católica hoje tornou-e em uma aldeia global. É um desafio muito mais complicado. E não apenas para o mundo de mais de um bilhão de católicos, mas também para outras religiões que possuem seu líder presidente idoso. 

Muitos atualmente estão questionando e argumentando sobre a questão. Mas há algo que sempre paira na mente das pessoas: Que a idéia de um chamado por toda a vida está cheio da mística acompanhada daquilo que é sagrado. Um sacrifício em prol daquilo que se acredita. 

Tradicionalmente um papa não renuncia devido seu papel de ser o "pai" da Igreja Católica. Ninguém pode renunciar à paternidade. Um pai está lá até que morra. Mas muitas pessoas esquecem que o título de Papa também carrega o título de chefe de estado do Vaticano. E isso acarreta também inúmeras outras atividades, inclusive políticas, além de ser chefe de uma enorme burocracia.

O último papa antes de Ratzinger, João Paulo II, logo que foi chamado fez inúmeras boas ações, entretanto, num grande período do final de sua vida o vimos fraco de saúde, enfermo e mal podia falar. Para o próprio Bento XVI, a renúncia era inevitável no caso de João Paulo II, mas ele permaneceu. Sua sucessão foi um ato político, além de religioso. 

Agora com a saída de Bento, surgem inúmeras perguntas: O que se faz com um ex-papa? Como chamá-lo? Se ele escrever qualquer coisa, será que a mídia ira analisá-lo sob o olhar do novo papa. E, no futuro, as pessoas poderão pressionar um papa a renunciar não porque ele está doente, mas porque simplesmente não gosta dele? 

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mais conhecidos como os mórmons) também possui um líder eclesiástico que os membros reverenciam como Profeta, Vidente e Revelador. A ideia de que existe um profeta vivo hoje, e especialmente entre esses desolados e turbulentos tempos em que vivemos, não deveria ser um conceito novo para ninguém. As escrituras nos ensinam claramente que Deus, nosso Pai Celestial, e perfeito é não muda. Ele e o mesmo ontem, hoje e para sempre.

Deus sempre teve profetas nesta terra. Através da historia, Ele escolheu, profetas como Noé, Abraão, Moisés, e outros, para ensinar e pregar o evangelho, e para guiar a Sua Igreja. Na Bíblia Sagrada, no Velho Testamento, mais precisamente no livro de Amós, que também foi um profeta de Deus, estão registradas as seguintes palavras: “Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma sem antes revelar o Seu segredo aos Seus servos, os profetas” (Amos 3:7). Se Deus chamou profetas nos tempos antigos, não faria sentido que Ele chamasse um homem de Deus para ser o Seu profeta – Sua boca na terra – em nossa época?

No caso d'A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias há um manto profético sobre o presidente da Igreja. A Igreja foi restaurada em 1830 por Joseph Smith, um jovem de Nova York que proclamou que Deus o comissionou para restaurar o cristianismo como era originalmente. Ele também traduziu pelo dom e poder de Deus uma história antiga, escrita em placas de ouro, que foram enterradas no solo, e se tornou uma das escrituras sagradas da religião, o Livro de Mórmon. 

Experiências e visões de Joseph Smith, suas revelações e liderança carismática iniciou um movimento que, como muitos outros, enfrentou conflitos graves de sucessão quando ele morreu (assassinado por uma turba em 1844, em Illinois). Em última análise, para a maioria dos Santos dos Últimos Dias na época, o bastão foi passado para Brigham Young, o membro sênior do Quórum dos Doze Apóstolos. 

Este padrão, estabelecido pelo Senhor (como acreditamos), traduziu-se em sempre que os presidente da igreja morresse, o apóstolo o mais antigo sempre assumiria o mais alto cargo da igreja. Ele escolhe dois homens para servir como seus conselheiros na Presidência. 

Joseph Smith era jovem quando morreu e Brigham Young também era bem jovem quando assumiu a Igreja vivendo até os 76 anos. 

Desde então, as melhorias de saúde e estilos de vida saudáveis ​​têm permitido aos líderes mórmons viverem por muito tempo, até mesmo aos seus 80 a 90 anos. Como João Paulo II e Bento XVI, alguns presidentes Mórmons - especialmente no final do século 20 - tiveram de lidar com as aflições do envelhecimento. David O. McKay, Spencer W. Kimball, Joseph Fielding Smith, Ezra T. Benson e Howard W. Hunter se afastaram da presença do público em seus anos finais, deixando a administração e condução de uma igreja em crescimento global para seus conselheiros saudáveis ​​da Primeira Presidência. 

Para lidar com o envelhecimento da liderança em níveis mais baixos, alguns dos membros mais velhos do quórum dos Setenta foram aposentados ou dado o status de "emérito" em 1978. Eventualmente, tornou-se uma norma para os Setentas se aposentarem aos 70 anos. 

O historiador Richard Bushman disse: "[os mórmons] não aposentam seus apóstolos, porque pensamos que Deus está trabalhando através das tábuas das mortalidade. Seria ir contra Deus." 

Além disso, diz ele, "um presidente incapacitado é um problema bem menor em nossa igreja por causa do trabalho dos conselheiros. Se o presidente não pode fazer o trabalho, todo mundo sabe quem é o próximo no comando. Ele pode assumir e todos respeitam a sua autoridade. " 

O atual presidente d'A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Thomas S. Monson, é alguns meses mais novo do que o papa Bento XVI. Ele continuou a viajar, embora não tão freqüentemente quanto ele fez nos primeiros meses de sua presidência, que começou em fevereiro de 2008. Ele ainda discursa em conferências gerais da Igreja e está presente em muitos eventos da Igreja. 

O jornal Church News, publicou uma mensagem online do Presidente Thomas S. Monson em 1 de fevereiro de 2013, onde ele fala sobre seus cinco anos como Profeta e Presidente da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Em sua mensagem ele também enfatiza a necessidade dos membros irem “resgatar” o próximo. A seguir podemos ler um trecho da sua mensagem:

Este ano eu completo 50 anos desde que fui chamado para servir no Quorum dos Doze Apóstolos. Eu tinha 36 anos de idade quando recebi aquele chamado. No mês de agosto eu celebrei meu 85° aniversário. Alguns dos membros mais antigos do Quorum dos Doze são mais velhos do que eu. Entretanto, juntamos nossos vozes, com as do Rei Benjamim, que disse, como registrado no segundo capitulo do livro de Mosias: “Mas sou como vós mesmos, sujeito a toda sorte de enfermidades do corpo e da mente; contudo fui escolhido por este povo e consagrado por meu pai; e a mão do Senhor permitiu que eu fosse governante e rei deste povo; e fui guardado e preservado por seu incomparável poder para servir-vos com todo o poder, mente e força que o Senhor me concedeu”. A despeito dos problemas de saúde que podemos enfrentar, a despeito de qualquer enfraquecimento do corpo ou da mente, servimos dando o máximo de nos mesmos. Eu lhes asseguro que a Igreja esta nas mãos do Senhor. O sistema estabelecido pelo Conselho da Primeira Presidência e do Quorum dos Doze Apóstolos assegura que ela sempre estará nas mãos de Deus, e por isso, não há nada a temer ou se preocupar. Nosso Salvador, Jesus Cristo, a quem seguimos, a quem adoramos, e a quem servimos, estará sempre no comando.

Se a saúde do presidente Monson piorar, certamente seus conselheiros completariam todo o trabalho necessário, juntamente com os outros 12 apóstolos - como tem sido a prática no passado. Além disso, não há disputas políticas para avanços nos cargos, pois a sucessão é bem definida e não está condicionada a votos de quóruns superiores, mas ao apoio incondicional de toda a Igreja. 

A grande verdade que traz conforto a todos os mórmons é que a Igreja está protegida contra partidarismos, politicagens e outros. Os mórmons estão seguros disso. O sistema de sucessão oferece segurança e previsibilidade. A Igreja não entra em crise e não há escândalos. Apesar de os conselheiros não poderem substituir o presidente, eles podem conduzir todas as coisas em sua ausência e refletir a autoridade carismática do profeta.

Uma informação curiosa é que uma outra Igreja que surgiu alguns anos depois, após a sucessão mórmon quando Joseph Smith foi assassinado, a "Comunidade de Cristo", mais conhecida como Igreja Reorganizada (possui aproximadamente 250.000 membros) já teve três profetas presidentes que renunciaram a seus chamados. Inclusive um deles renunciou declarando que havia feito algumas escolhas erradas e que não conseguia conduzir eficazmente essa igreja. N'A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias nunca houve casos de renúncia de presidentes da Igreja, sendo que os mesmos serviram até o fim de suas vidas.

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