As urnas
maranhenses abertas ontem finalmente fizeram justiça a um grande maranhense: o
cidadão José Reinaldo Carneiro Tavares. Além de eleito Deputado Federal,
recebeu votação expressiva, à altura da sua estatura de homem público
comprometido com os maiores interesses dos nossos conterrâneos.
Não nos
conhecíamos pessoalmente pelos idos do inicio deste milênio, por isso fui
surpreendido por um convite dele, quando era Vice-governador e iria assumir o
cargo de Governador, porque a titular do mandato iria se desincompatibilizar
para concorrer ao Senado da República. Conhecedor do meu trabalho ele me
convidou para conversar sobre o Maranhão. Fui com todo o prazer e tive a
oportunidade de conhecer um brasileiro muito bem preparado tecnicamente e de
grande sensibilidade. A partir dali eu aprendi a admirá-lo como homem público
de grande envergadura.
Assumindo o
Governo em abril de 2002, a
grande sacada de Zé Reinaldo foi estabelecer uma meta de IDH a atingir. Na
época o IDH era calculado por uma metodologia diferente da atual. A atual é
mais sofisticada de um ponto de vista matemático e provoca um viés para baixo
na maioria dos IDH aferidos pela metodologia anterior. Pela metodologia de
então, o IDH maranhense de 2000 era de 0,636, o pior do Brasil. Vale ressaltar
que também o era pela nova metodologia da ONU. Zé Reinaldo, inteligentemente,
colocou no seu plano de Governo elevar aquele índice para 0,700 em 2006. Aquela
passou a ser a “Meta mobilizadora” do Governo e todas as ações giravam em torno
dela.
Para melhorar o
indicador de renda, uma das componentes do IDH, recriou a Secretaria de
Agricultura (Seagro), equivocadamente eliminada do organograma administrativo
do estado pelo governo que lhe antecedera em 1998. Vinculadas à Seagro, criou
as Casas do Agricultor Familiar (CAF). Contratou profissionais da área, e
criou-lhes condições de trabalho. O Maranhão que havia chegado ao fundo do poço
na produção agrícola, sobretudo aquela dos agricultores familiares em 1998,
começou a recuperar a sua capacidade produtiva. Logo passou de uma posição
marginal na capitação de recursos do Pronaf que detinha em 1999, 2000 e 2001,
para protagonista, ao ponto de ter ficado na segunda posição em todo o Nordeste
em 2006, tanto em número de contratos como em volume de recursos capitados. Por
este instrumento elevou a renda dos maranhenses da zona rural e, por efeito
transbordamento, para as zonas urbanas. O PIB per capita do estado deu saltos
quantitativos importantes já a partir de 2004.
Um indicador
importante do IDH é a esperança de vida ao nascer que tem a ver com o acesso ao
saneamento, coleta sistemática de lixo e água encanada. Esses indicadores eram
horríveis então. Seu Governo criou dois programas fundamentais: “Minha Unidade
Sanitária” e “Agua em Minha
Casa”. Programas que levaram saneamento minimamente adequado
para as famílias rurais (onde a situação era mais crítica). Foi feito um
programa intenso de perfuração de poços tubulares e construção de amplas redes
de distribuição nos povoados dos municípios mais carentes. Famílias que nunca
tiveram água nas torneiras passaram a tê-la. Um grande avanço!
Enfrentando a
família que lhe fazia forte oposição, devidamente respaldada pelas ações do
Presidente de então que, para não desgostar os novos aliados (aqueles mesmos
que ele até bem pouco tempo não poupava adjetivos impublicáveis para
desqualificar), conseguiu aprovar o Programa de Desenvolvimento Integrado do
Maranhão, PRODIM. Com o Prodim foi possível, mesmo no pouco tempo em que o seu
governo o administrou, levar ações estruturantes para os mais recônditos
rincões maranhenses.
Zé Reinaldo
teve a sabedoria de colocar pessoas competentes nos locais cruciais do Governo:
Secretarias da Fazenda e de Planejamento. O Secretário de Fazenda conseguiu
incrementar a arrecadação, sem aumentar alíquotas, apenas tornando-a mais
eficiente. O Secretario de Planejamento agia com mão pesada no controle das
despesas do estado, de tal sorte que os recursos propiciaram condições para que
as politicas públicas avançassem. Tudo isso acontecendo apesar de uma divida
contraída pelo governo anterior que sangrava o orçamento do estado em 50
milhões todos os meses.
Faltava ainda
atacar na outra frente do IDH que era a elevada taxa de analfabetismo e a baixa
escolaridade. Isso foi conseguido pelo mutirão de alfabetização que se
implantou na época e pela construção de escolas de nível médio em todos os
municípios. O Governo anterior as havia deixado em apenas 59 dos 217
municípios. Com todo este trabalho o IDH do Maranhão superou a meta, de acordo
com a metodologia antiga, atingindo 0,705, e o Maranhão finalmente descolou da
última posição do ranking que o colocava como o estados mais carente do Brasil.
Com este
portfólio, Zé Reinaldo tinha garantida a eleição para o Senado da República se
assim o desejasse em 2006. Mas de novo surpreendeu e pensando nas próximas
gerações em vez do próprio próximo futuro, abdicou desta possibilidade para não
deixar a administração em mãos não confiáveis que poderiam desmoronar tudo o
que havia sido feito. Segurou até o final para ajudar a eleger o sucessor que
poderia dar continuidade à sua obra. Conseguiu, numa proeza até então
inimaginável: derrotar a família poderosa que dominava o estado. Infelizmente o
seu trabalho não havia até aqui sido reconhecido pelos maranhenses. Reparo que
é feito nestas eleições. Quem ganha com a eleição de Zé Reinaldo como Deputado
Federal são os maranhenses e o Parlamento Brasileiro que não será mais o mesmo
com o retorno desse homem de elevada qualificação e sensibilidade.
*Professor
Associado e Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade
Federal do Ceará. www.lemos.pro.br;
Por José Lemos
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