Na mesma semana em que a
"Pátria Educadora" ganhou um novo ministro da Educação - o quarto a
comandar o MEC nos últimos cinco meses -, um relatório a ser divulgado pela
Unesco nesta quinta-feira, 9, aponta que o Brasil avançou na área nos últimos
quinze anos, mas só cumpriu duas de seis metas fixadas em 2000 no "Marco
de Ação de Dakar, Educação Para Todos (EPT): Cumprindo nossos Compromissos
Coletivos". Na época, o EPT lançou uma agenda ambiciosa com seis objetivos
educacionais para serem alcançados por 164 países até 2015.
Os
únicos objetivos cumpridos pelo Brasil foram o alcance da educação primária
universal (primeiro ciclo do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano),
principalmente para meninas, minorias étnicas e crianças marginalizadas; e o
alcance da paridade e a igualdade de gênero - ou seja, a mesma proporção de
homens e mulheres nas escolas.
"O
que a gente tem de tirar de reflexão é que a educação não é uma coisa imediata,
exige uma visão de longo prazo, deve ser política de Estado e transcender
qualquer governo", avalia a coordenadora de Educação da Unesco no Brasil,
Rebeca Otero.
"O
Brasil é um país complexo, mas estou otimista e acho que o País tem condições
de avançar muito em educação."
Sucesso.
Governo conseguiu universalizar educação no ensino fundamental (1º ao 5 º
ano) BETO OLIVEIRA /ESTADAO
Empenho
Intitulado
"Relatório de Monitoramento Global de EPT", o documento destaca que,
no Brasil, grandes diferenças em oportunidades educacionais estão associadas às
disparidades entre meio rural e urbano e à "desigualdade de empenho e
investimento do governo no setor".
Embora
elogie programas como o Bolsa Família, o documento sustenta que a iniciativa
não cobre totalmente os extremamente pobres e, portanto, não "enfrenta os
desafios" dessas pessoas.
Entre
os objetivos não cumpridos pelo Brasil estão a expansão da educação infantil e
os cuidados na primeira infância, especialmente para as crianças mais
vulneráveis - segundo o parâmetro adotado pela Unesco, o critério de educação
infantil e cuidados na primeira infância no Brasil abrangem a educação de 0 a 5
anos, ou seja, creche e pré-escola.
"No
caso do Brasil, até o ano de 2012, segundo últimas informações obtidas pela
Unesco, não conseguimos alcançar os 80% da taxa de matrícula na educação
infantil", diz Rebeca, referindo-se ao indicador da pré-escola (4 a 5
anos).
Já
a conclusão dos estudos no ensino médio é outro um grande desafio. "O
aluno entra no ensino médio, mas não sai dele. Além disso, precisamos dar mais
chances aos mais pobres ingressarem nessa etapa de ensino", afirma
Rebeca.
De
acordo com o relatório, no Brasil, onde a "repetição tem sido considerada
um desafio central para educação, reduções na porcentagem de repetência são ao
menos parcialmente um resultado de reformas abrangentes para aperfeiçoar o
acesso à educação na primeira infância".
Analfabetismo
O
documento ainda aponta que o Brasil não conseguiu alcançar uma redução de 50%
nos níveis de analfabetismo de adultos até 2015 - um compromisso que foi
alcançado apenas por 25% dos 73 países que ofereceram dados sobre alfabetização
de adultos.
Na
América Latina, apenas Peru, Suriname e Bolívia deverão alcançar esse objetivo
de redução do analfabetismo, enquanto Colômbia e Nicarágua estão longe da meta.
Na região, 33 milhões de adultos não têm habilidades mínimas em escrita e
leitura.
Apesar
de avanços, o objetivo de melhorar a qualidade de educação e garantir
resultados mensuráveis de aprendizagem para todos também não foi alcançado pelo
Brasil.
"O
grande desafio para o Brasil nesse aspecto é a qualificação dos professores.
Melhorar infraestrutura, ter escolas seguras. Hoje a gente vê armas e drogas
entrando nas nossas escolas, é importante fazermos um esforço pra tornarmos
escolas boas, equipadas e seguras", observa Rebeca.
O Estadão
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