O TRABALHO INFANTIL NA FEIRA DE AÇAILÂNDIA

A “feira” de Açailândia, acontecimento das manhãs de todo domingo, faça sol ou faça chuva, está se transformando em “território livre, terra de ninguém”...

Milhares de consumidores/as transitam por ali, fazendo suas compras dominicais/semanais, sobretudo de verduras, legumes, hortaliças, frutas, polpas, peixes, e ainda tem roupas/confecções, calçados, cama-mesa-banho, cds/DVDs, celulares, bijuouterias e bugigangas, utensílios de cozinha, perfumes, etc.,etc.

São dezenas e dezenas, quiça mais de uma centena de “feirantes”, que transformam a “Praça do Mercado” num alvoroço danado, numa zoada danada, das sete-oito da manhã até lá meio dia-dia/uma da tarde...
Alto-falantes, caixas de som, bicisons, carros volantes, gritaria, vendedores/as no berro procurando convencer clientes...

Muita sujeira, restos de tudo, moscas, joga daqui, joga dali, sobras aqui, sobras acolá...

E no meio disso tudo, dezenas e dezenas de Crianças, trabalhando... 

Como o menino, não mais de onze, doze anos, dando um duro danado no microfone, numa acirrada concorrência com o concorrente vendedor de melancia, laranja, banana e outras frutas, ali na quina da construção da Motoca com a Agrocampo...

Ou a menina, frente às caixas de isopor, em frente ao Seriema, vendendo peixe...

Ou a menina e dois meninos, parecendo irmãos, com caixinhas de isopor a tiracolo, oferecendo geladinho e picolé, circulando pela área...

Tem ainda os meninos, franzinos, mas que disputam com adolescentes, jovens, adultos “freteiros”, carregar alguma coisa pro freguês, prá freguesa, até o carro ou até mesmo à casa...

Tem a menina, ajudando a mãe a vender “hortaliça”, e o menino ajudando os tios a vender polpa...

Tem o rapaz que dispensou uma prima, menina ainda, que o ajudava na venda de cds/DVDs/bugigangas eletrônicas, e que agora reclama: “...é, seo Eduardo, eu não trouxe mais a menina, ela não me ajuda mais, não ganha mais seu dinheirinho, mas e esses outros aí, que trazem seus filhos, botam eles prá trabalhar a manhã toda, ninguém vai fazer nada, só eu entro pelo cano?...”

Pois é, a lei brasileira ( e temos leis, sim..) diz que “trabalho infantil é crime”. 

Ficando aqui em nosso “quintal”, digo em nossa “feira” (que serve também  para o que anda ocorrendo nas ruas, calças, praças...), temos, como município de Açailândia, um compromisso com o Ministério Público do Trabalho, 16ª Região, desde 2007, de prevenir e combater o trabalho infantil, mas estamos distantes anos-luz de cumprir nem dez por cento deste compromisso...

( E tem comerciantes da Rua do Campo, preocupados com três Crianças que andam “catando reciclagem” (papel/ão, plástico,etc) num carrinho, quase todos os dias...).

Será que tem tanta Criança trabalhando nas ruas só por que ainda é férias/recesso escolar?...
Não, a questão aqui é permanente, cotidiana, regular, costumeira... 

Já se sabe e muito bem, os tremendos males sociais, que acabam afetando toda a população, decorrentes do trabalho infantil, sobretudo no campo da saúde (física,mental), mas também comprometendo pesadamente a educação e formação da pessoa e do/a cidadão/ã, favorecendo a exploração sexual de Adolescentes e a “pequena criminalidade”, que acaba se acaba se incorporando à violência e a insegurança que domina o município...

 Ninguém venha me dizer, por favor, que aquele ambiente da “feira de Açailândia” é educativo, é formativo: toda aquela correria, agonia, barulheira, estresse, trânsito doido-agressivo, clima de competição feroz,todo mundo querendo de dar bem, de um lado a turma do consumo, do outro a turma da venda, de um lado, pedestres, de outro motorizados; negócios, etc., etc. 

Sem dúvida, “bonita e competente” educação que aquela Criançada vem recebendo, todo domingo, lá nas manhãs de domingo...

Essa Criançada, que passa a manhã dos domingos “trabalhando” na “feira de Açailândia”, deveria estar onde, fazendo o quê, com quem, por quê, como, etc., etc?

Trabalhando, com toda certeza, é que não, porque trabalhar é assunto de adulto, é atividade de adulto, é responsabilidade  de adulto, não delas, Crianças...

Está faltando é monitorar, fiscalizar, reprimir, responsabilizar, punir.

 Está faltando o Poder Público fazer o que tem de fazer, as políticas públicas (PETI, Bolsa-Família,etc) efetivamente funcionarem, propiciarem um outro destino àquelas Crianças, submetidas tão precocemente à essa exploração, que lhes rouba corpos e mentes, saúde e dignidade...

 Blog do Eduardo Hirata

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