Em 2010, os números superaram 6 mil ocorrências, o que representou o crescimento da quantidade de registros de 2,7% em relação a 2009. Vítimas também sofrem com entravas na Justiça.
Em sua casa no Anjo da Guarda, Marlete Cardoso vê o tempo passar vagarosamente. Desde o fim do ano passado, quando recebeu alta do hospital, a única coisa que lhe resta a fazer é repousar e esperar que as dores — não apenas físicas — passem. Ela foi agredida pelo ex-companheiro a golpes de faca na porta da sua moradia, o que lhe custou um rim, o baço, um pedaço do intestino, alguns dias de coma e um período ainda indefinido de resguardo e sofrimento. E Marlete é só um dos 6.170 nomes femininos que figuraram nos boletins de ocorrência de violência contra a mulher no Maranhão ano passado.
O atentado ocorreu em 12 de outubro de 2010. O agressor a esperava escondido atrás de um tanque, e ao olhar para ela, apenas sentenciou: “Vou te matar”. Desferiu então duas facadas em suas costas e abriu seu abdômen. A força empreendida foi tão grande que a faca se quebrou e a lâmina ficou dentro do corpo de Marlete. Socorrida pelo filho e pelos vizinhos, ela entrou em coma e passou quase um mês na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Quando acordei, achava que não tinha a menor chance de sobreviver àquilo. Passei 18 dias sem sequer poder beber água. A convicção de que eu iria morrer era plena”, diz.
Hoje com 35 anos, Marlete conta que conheceu o ex-companheiro quando ainda era adolescente, nos arredores do colégio, no município de São João Batista. Pouco tempo depois de começarem a namorar, ele já demonstrava agressividade. “A primeira vez foi um chute no quadril, sem motivo nenhum. O semblante dele simplesmente fechou e ele ficou tomado de raiva. Desde esse dia, quando eu reconhecia essa expressão, já sabia o que iria acontecer”.
Mesmo com o comportamento violento, Marlete se recusava a acreditar que algo sério poderia acontecer. Chegou a morar e ter um filho com ele, mas a convivência foi se tornando cada vez mais insuportável. “Ele me humilhava e traía com muitas mulheres. Até mesmo quando eu estava de quarentena após o parto, com a moça que contratamos para me auxiliar no período”, lembra. Apesar disso, Marlete afirma que era difícil largá-lo. “Quando eu dizia que não queria mais, ele fazia greve de fome, chorava, falava que tudo ia ser diferente e que eu poderia fazer o que quisesse”.
Porém, depois de vários episódios, Marlete tomou coragem e decidiu partir para São Luís, onde recomeçaria sua vida. Ele foi atrás. Mesmo separados, as perseguições persistiam, e a história de violência atingiu seu ponto máximo no incidente de outubro.
O agressor foi denunciado por tentativa de homicídio, e um mandato de prisão preventiva foi decretado, ainda não concretizado. Ele está foragido.
O agressor foi denunciado por tentativa de homicídio, e um mandato de prisão preventiva foi decretado, ainda não concretizado. Ele está foragido.
Atualmente, Marlete faz acompanhamento médico no Hospital Presidente Dutra. Debilitada pelos ferimentos e colostomizada (ela usa uma bolsa plástica na abertura do cólon para a superfície abdominal, para desviar as fezes), ainda não tem perspectivas de voltar ao seu antigo trabalho de camareira de hotel. Passa os dias em casa com fortes dores nas costas e nos quadris, e teme pela sua segurança. “Enquanto ele estiver foragido, terei medo. Ele sempre tinha o costume de ficar tranqüilo por alguns tempos, fingindo que tudo estava bem, e depois surgir inesperadamente. Quem me garante que ele não pode voltar e querer terminar o que começou comigo?”.
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