Das nascentes à foz
Não é fácil ver o rio Buriticupu de perto, ouvir o fraco barulho de suas correntezas¸ correndo lento e timidamente entre as serras, perdendo o pouco que resta do seu cobertor natural, e se dirigindo num percurso incerto.
Não é fácil tocá-lo, pois, por mais que seja superficialmente dar pra sentir seu estado doentio. Assim, automaticamente nos faz lembrar quando tinha suas águas cristalinas.
Ver a situação nos entristece terrivelmente, mas não tira de nós o desejo de ajudá-lo, de empreender a nossa força em seu favor, sempre acreditando na sua recuperação.
Rio Buriticupu, dois principais tipos de pessoas devem cuidar de você, com muito mais dedicação, uns que moram no teu caminho e outros que apesar de não morarem tão perto tem o poder de te ajudar.
Temos percorrido o mesmo caminho que percorres¸ e temos visto os obstáculos que tens enfrentado. Tens tentado passar em lugares bloqueados, onde te fizeram represar e mudaram radicalmente o ter percurso.
Ao longo desse tempo fizeram de tudo. Cortaram, venderam, trocaram e queimaram pedaços do teu cobertor em vários lugares, e assim, teus peixes e outras criaturas que habitam em ti não resistem o calor.
As situações degradantes estão à tua esquerda e direita. De um lado não se encontram mais o Buriti, nem tampouco o cupu que medrava de suas matas. Por outro lado, percebe-se que nem mesmo o Bom Jesus conseguiu manter suas selvas. Dando lugar ao alimento dos bovinos ou das siderúrgicas.
Nem mesmo no teu berço tens tido tranqüilidade para viver em paz. Nem os silvícolas, que te deram esse nome, e que convivem há muitos anos contigo têm tido o devido carinho com o teu cobertor.
Tu tens bebido veneno em grande quantidade vindo das plantações como: hortas e plantios de eucaliptos. Esse veneno mata teus peixes, além de causar enjôo dores de cabeça e outros males.
Para construção de edificações, retiram materiais do teu piso, onde tu corres deslizante até a foz. Rio Buriticupu o teu piso e tuas paredes são arrancados com máquinas motorizadas coordenadas por outras máquinas egoístas e mercantilistas ao extremo, que agem pela força do imediatismo.
Nota-se também que ao te alimentar, os teus braços não estão mais com a mesma força de outrora. A quantidade e qualidade de alimento oferecido pelas fontes que formam os teus braços estão comprometidas.
Outras criaturas atípicas e alheias a tua vontade estão morando dentro de ti, em casinhas improvisadas, enquanto engorda para serem vendidas.
Vários tipos de resíduos sólidos têm sido despejados sobre você, e mesmo tentando se desviar não consegue se livrar da impureza e do odor miserável que o leva consigo.
As lavadeiras tiram a sujeira da roupa e deixa em você. São impurezas que durarão décadas. Bem ali pertinho das lavadeiras estão os que vendem nadadores e bebidas e sem uma gota de cidadania jogam todos os dejetos, que servem de alimentos para outros nadadores.
Sem quase sair do lugar encontramos aqueles que querem economizar uns trocadinhos e deixar seus veículos limpinhos colocando-os pra lavar e deixar substâncias químicas dentro de ti.
Como se não bastasse, basta olhar em direção a passagem de concreto que liga os municípios e verás o mais recente absurdo: boa parte do material de aterro utilizado na recuperação da BR 222 está sendo levado para tuas águas e te sufocando. Querendo enterrar-te vivo.
Já percebestes também que a quantidade de pássaros que cantavam pertinho de você está diminuindo? Pois quando não dar pra matar envenenado o que está contigo, matam através do fogo o que está perto,
Rio Buriticupu mantenha a esperança. O teu clamor foi ouvido pelo Instituto Federal do Maranhão, e por outros parceiros. Saiba, que a tua situação ainda tem jeito e que algo já está sendo feito em favor de sua recuperação e preservação.
Isaias Neres Aguiár - Estudante de Biologia IFMA, Campos Buriticupu |
Por Isaias Neres Aguiar – Estudante de Biologia no IFMA, campus Buriticupu
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