SERRA PELADA: O SONHO (E O PESADELO...) CONTINUAM...

Domingo que passou, 29/01/2012, bem mais de dez mil garimpeiros/as,  praticamente de todos estados brasileiros, estiveram em Curionópolis, Pará, para mais uma assembléia geral da COMIGASP, a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada. 


Desta feita, a assembléia reelegeu o presidente Gesse Simão, aprovou a criação de uma “holding”, empresa controladora da SPCDM/Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral, sociedade da COMIGASP (25%- vinte e cinco por cento) e da Colossus, mineradora de origem canadense (75%- setenta e cinco por cento) e também aprovou a prestação de contas da cooperativa, referente ao ano 2011, que girou em torno de pouco mais de 21 (vinte e um) milhões de reais. Aprovou ainda a extinção do desconto de 7% (sete por cento) sobre os ganhos da cooperativa,  que eram destinados para a administração da entidade.
A “holding” deverá ser apresentada, em assembléias regionais (as pré-assembleias), dentro de 60 (sessenta) dias, garante o presidente reeleito. Daí é que a “garimpeirada” vai saber direitinho sobre as ações, seu valor, etc., etc. ( Mas uma boa parte desconfia que isso é mais uma promessa, como tantas que já ouviram nos últimos vinte anos. Como diz um garimpeiro de Tucumã, PA: “... é pagar para ver...”). 
O Maranhão, sem dúvida, detem o maior contingente de garimpeiros/as da Serra Pelada: de Açailândia e toda microrregião do Carajás maranhense a Timon, de São Luís a Estreito, milhares de pessoas,na maioria já idosas, lotaram centenas de ônibus, microônibus, vans, automóveis, camionetes e com os/as companheiros/as dos mais diversos rincões/grotões deste imenso Brasil, literalmente invadiram a cidade que leva o apelido do famoso major comandante dos  tempos da “guerrilha do Araguaia” ,o “imperador da Serra Pelada” nos idos áureos daquela que foi o maior garimpo a céu aberto do mundo, imortalizado nas espetaculares fotos preto-e-branco de Sebastião Salgado ( e com elas venceu o Prêmio Rei da Espanha de Fotografia, em 1987).
Embora tenha sido reeleito (em chapa única), Gesse Simão não é unanimidade entre a garimpeirada da Serra Pelada, herdeiros/as de uma novela pastelão que se arrasta a dezenas de anos. Boa parte, mas que não chega a constituir uma “oposição”, justamente por falta de organização(segundo os entendidos nos assuntos da “Serra”...) fala mal, e como, de Gesse, “mas dos males o menor...”.
A vila da Serra Pelada, um aglomerado de seis-sete mil habitantes fixos, e outros milhares “flutuantes”, continua uma “treva”, centenas de barracos e  casas de madeira construídas na décadas de oitenta,  noventa, corroídas e à beira de cair. “Redes” de água e energia embora “oficiais”, parecendo “gambiarras”. Lixo por toda parte. Animais (cães, gatos) soltos por toda a cidade. Lamaçal, nas chuvas; poeira no “tempo bom”. Poluição sonora, fontes de todo tipo: transito intenso de caminhões, ônibus, vans, camionetes. E motos, muitas motos, pilotadas sobretudo por jovens (adolescentes, moças,rapazes; um, dois caronas, todos sem capacete, embora metade ostentem os capacetes entre os punhos...
O povo da  vila da Serra Pelada não está mal, não, confirmam unânimes os/as moradores/as: velhos/as praticamente todos tem “aposento”; jovens estão empregados, ou na Colussus, ou na Comigasp, ou nas dezenas de outras empresas prestadoras de serviço de ambas e mais da Vale, e que não está empregado/a aí., está pela Prefeitura (de Curionópolis, do qual a vila da Serra Pelada, é distrito).
Confirma o “movimento”, uma rede de supermercados, mercearias, quitandas, comércios, lojas, farmácias,... No imorredouro “Pau da Mentira”, o rústico restaurante de dona Maria transformou-se em belo e confortável restaurante.
Não se sabe “oficialmente” qual o destino da vila da Serra Pelada, que nos bons tempos contou com uma população igual ao do município de Açailândia, hoje.
A “garimpeirada”, gente que não é mais da Serra (foi da Serra em oitenta, noventa), gente de tudo quanto é lugar menos de lá, anda cismada: constata um colossal movimento de pesquisa e escavação do túnel “que há de chegar no veio de ouro quase puro, debaixo da imensa cava inundada...” (...como sonham iludidos e blefados, cpomo ironiza o ancião maranhense da baixada...) e não tem jeito, fica convicto de que “ali tem coisa, e muita coisa, e coisa muita rica, senão não tinha   tanta cobiça e tanto movimento...”.
A “cava inundada”, um imenso lago de quase um quilometro de diâmetro e mais de cem metros de profundidade, foi a montanha, o “Morro da Babilonia”,  a “serra pelada”, escavada na picareta, no enxadeco e na enxada; retirada na base da pá e do saco de plástico nas costas de milhares de peões garimpeiros... Na época, rapazes, homens começando a vida, hoje., anciãos (... “ a única espera agora é a morte...”, diz o garimpeiro de São Domingos do Araguaia).
“Que tem ouro, e muito ouro, tem, agora se vai sobrar um tiquinho pros garimpeiros aí é outra história”, sustenta o garimpeiro, quatro anos carregando milhares de sacos de “melexete” nas costas, e que deixou a saúde – a espinha e os nervos não valem mais nada- empenhada na Serra Pelada. 
Serra Pelada, ah, Serra Pelada, sonho, pesadelo, esperança, utopia, de tanta gente! Até quando?...
(Fotos: cenas da vila da Serra, da assembléia, e da antiga sede da Comigasp, hoje semiabandonada...)
Fonte: Eduardo Hirata

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