Pragmatismo é ideologia de Romney, dizem biógrafos do rival de Obama

Republicano é acusado de 'virar a casaca' e precisa mudar imagem. Com saída de Ron Paul, ele ficou sem rivais e mira democrata Obama.

“Ninguém gosta de Mitt Romney” é uma das piadas políticas mais repetidas nos programas de TV de humor dos Estados Unidos nos últimos meses.

A brincadeira vem do fato de o candidato republicano à Casa Branca ter demorado meses para poder confirmar seu favoritismo para ser rival de Barack Obama na decisão de novembro deste ano. Chamado de “vira a casaca” até por seus partidários por conta da sua “mudança de opinião” sobre temas variados, Romney é um pragmático, segundo seus biógrafos, um bom líder, mas que levanta suspeitas e cria inimizades ao adaptar seu discurso político a seus objetivos práticos.

Ex-governador do estado norte-americano de Massachusetts e pré-candidato derrotado por John McCain em 2008, Romney era apontado desde o ano passado como provável representante republicano na eleição. Mesmo assim, enfrentou muitas disputas prévias do partido e uma enxurrada de ataques por todos os lados antes de conseguir ser visto como candidato.

Mesmo com as desistências dos rivais de Rick SantorumNewt Gingrich e, nesta segunda-feira (14), finalmente de Ron Paul, e mesmo que ele já fale como “o” candidato rival de Obama, Romney ainda precisa aguardar a convenção do partido, em agosto, para assumir oficialmente a campanha.

Segundo o pesquisador Scott Helman, autor de “The Real Romney”, biografia recém-lançada nos EUA, o maior desafio do candidato nesse início da campanha formal vai ser deixar de lado o rótulo de “vira a casaca” e se aproximar de uma política de “centro”, sem afastar os eleitores mais conservadores.

“O problema é que Romney vai ter que tomar muito cuidado nesse processo. Ele já ficou rotulado como um candidato "vira a casaca", que muda de opinião e de ideologia o tempo todo. Como ele precisou se aproximar dos conservadores para vencer as primárias, não pode mudar radicalmente agora para atrair os independentes, ou vai perder credibilidade de vez”, disse Helman ao G1.

Pragmatismo
Romney tem formação de mercado, explicou Helman, e sempre analisa o que precisa fazer para alcançar seus objetivos. “A ideologia de Romney é o pragmatismo. Isso funcionou muito bem no mundo dos negócios, e fez com que ele fosse muito bem sucedido, mas pode ser um risco muito grande em política”, disse.

Segundo R.B. Scott, autor de "Mitt Romney - An inside look at the man and his politics", Romney tem um perfil político moderado socialmente e conservador em política econômica. “Esse é o perfil dele que não muda, apesar das críticas de "virar a casaca". Tanto ele quanto Obama estão próximos do centro e longe de radicalismos”, disse, em entrevista ao G1.

Esta ideologia mais de centro político faz com que os eleitores conservadores tenham ressalvas contra Romney, mas pode fazer com que ele tenha uma fluência maior entre os partidos, segundo Helman. “Até memos muitos democratas acham que ele é alguém responsável o suficiente para não mudar tudo o que foi feito pelos democratas nos últimos quatro anos. E pode-se falar isso com base em seu passado político. Quando foi eleito governador, ele ganhou com apelo centrista e apoio dos independentes, e conseguiu manter um perfil mais bipartidário. Claro que os conservadores vão tentar se impor, mas acho que ele é uma pessoa forte o suficiente para se impor, caso eleito.”

O perfil de "vira a casaca" do candidato vem desde sua entrada na política, Helman explicou. “Em 1994, quando se candidatou pela primeira vez, ele era muito diferente do que é hoje. Tinha uma formação totalmente voltada ao mercado e era muito mais centrista, quase liberal. Com o tempo, seu perfil político mudou muito, e durante as prévias ele precisou defender posições bastante conservadoras”, disse. Com esse perfil e essa vontade de falar o que cada público diferente quer ouvir, fica difícil fazer com que os eleitores acreditem nele, explicou.

Para Helman, entretanto, o candidato tem, sim, fortes crenças políticas. “É fácil ver que ele é contra o aborto, que é contra impostos, que é a favor do direito ao porte de armas, em aspectos assim ele nunca mudou sua posição. O problema é que de fato houve mudança em sua opinião em diversos outros temas, menores, que o caracterizam por essa mudança de opinião.”

Campanha anti-Obama
Com a desistência do pré-candidato Rick Santorum, que abandonou a disputa republicana em abril, Romney viu abrir-se o caminho para que começasse de fato sua campanha presidencial. Em vez de se defender de ataques do seu próprio partido, ele passou a enfocar sua campanha em ataques ao governo do democrata Obama, que lidera as pesquisas de intenção de voto até agora.
Segundo Scott, o foco da campanha vai estar no plano econômico, e Romney tem o que mostrar nessa área. “Vai ser uma eleição com muita disputa na área de política fiscal, e acredito que será um debate produtivo. Tenho esperança de que vai ser uma boa campanha. Os dois são muito racionais e podem fazer uma disputa inteligente e equilibrada.”

Para Helman, Romney tem, sim, chance de vencer. “O ambiente atual é favorável a Obama, mas o republicano tem chances de ganhar, especialmente se a economia continuar com problemas, o que o ajuda”, disse.

O maior risco para ele é que, nas eleições, os conservadores não tenham motivação para ir votar, já que o voto não é obrigatório, o que poderia dar margem de vantagem a Obama, explicou Helman. “Claro que muitos conservadores vão ter a motivação de votar contra Obama, mas é difícil ganhar uma eleição sem gerar entusiasmo entre os eleitores. Romney ainda não conseguiu isso, e Obama ainda consegue gerar muita empolgação entre suas bases.”

Daniel BuarqueDo G1, em São Paulo

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