Encontro Regional dos Atingidos pela Mineração leva movimentos sociais às ruas de Açailândia

 Os manifestantes também festejaram a suspensão das obras de duplicação da Estrada de Ferro Carajás

O IV Encontro Regional dos Atingidos pela Mineração iniciou no último dia 26 e teve encerramento nessa sexta-feira (27) com uma manifestação pelas ruas da cidade de Açailândia. A manifestação teve o objetivo de divulgar os assuntos debatidos durante os dois dias de encontro. Contou com a representação de 17 comunidades que se localizam no Corredor de Carajás e sofrem os impactos causados pela mineração.

Temáticas como a relação entre comunidades, a empresa Vale e os demais empreendimentos presentes nos estados do Maranhão e Pará; mobilização popular e relações com o Estado foram alguns dos pontos discutidos por dezenas de comunidades.

O senhor Adelson, morador do bairro Piquiá de Baixo, em Açailândia relata que mora no bairro há 25 anos. “Quando eu cheguei lá não tinha nenhuma empresa, hoje nós não enxergamos mais saúde nesse lugar, mas a Vale já devia ter enxergado os problemas que ela causa há muito tempo”. 

Para o professor e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora, Rodrigo Santos, os grandes empreendimentos, sobretudo os que envolvem a mineração estão crescendo muito nos estados do Maranhão e Pará. “Está acontecendo uma ampliação da produção, a captação de impostos é maior, mas ao mesmo tempo cresce também a resistência das comunidades aos grandes projetos, gerando mais conflitos por que a captação desses impostos não é repassada às populações”, explica.

Recentemente a empresa Vale foi eleita a pior empesa do mundo pelas ações de impactos socioambientais nos territórios em que atua. No encerramento do Encontro Regional dos Atingidos pela Mineração, integrantes de entidades e movimentos sociais fixaram o cartaz que divulga a premiação na entrada da cidade de Açailândia como sinal de repúdio às práticas da empresa.

Com faixas e cartazes, mais de 100 pessoas percorreram as principais ruas do município denunciando os problemas vivenciados pelos moradores de 27 municípios localizados próximos a Estrada de Ferro Carajás. “Mulheres e homens conscientes, na luta permanente”, “o povo que ousa lutar, constrói um Brasil popular”. Por inúmeras vezes se repetiam os gritos de revolta de uma população marcada pelo descaso e pela degradação socioambiental.

Mas o sentimento de todos que participaram do ato contra a mineração era de reconhecimento e conquista. Na última quinta-feira (26), a Justiça Federal suspendeu as obras de duplicação da Estrada de Ferro Carajás. O juiz Ricardo Felipe Rodrigues Macieira, da 8ª. Vara Federal de São Luís respondeu a Ação Civil Pública movida pela Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Centro de Cultura Negra do Maranhão em articulação com a Rede Justiça nos Trilhos.

A decisão garante a paralisação de qualquer atividade da duplicação dos trilhos da Vale, fixando uma multa diária e possível intervenção policial, caso a Vale desrespeite a determinação. Para que as obras tenham andamentos será preciso refazer todo o processo de licenciamento e que sejam feitas audiências públicas nos 27 municípios atravessados pela Estrada de Ferro Carajás (EFC).

Essa ação representa uma conquista inédita para comunidades que há décadas denunciam os impactos da EFC e que temiam maiores problemas com a duplicação da estrada. Representa o reconhecimento dos direitos de uma população que foi invadida por um empreendimento de grande porte que privilegia o lucro e não enxerga as causas sociais e ambientais.

Rede Justiça nos Trilhos

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