DESAPARECE O MENINO, COM DEFICIÊNCIA, ELSON, 9 ANOS!
14 DE DEZEMBRO DE 2011: DOIS ANOS PASSADOS, E NADA DE JUSTIÇA E PAZ!
O Assentamento Planalto I é uma comunidade rural, a cerca de setenta quilômetros do centro de Açailândia. Umas quarenta famílias, em torno de duzentos moradores. O menino Élson, com deficiência, em 2009 tinha nove anos de idade, filho de Solange e Frnacisco “Chiquinho”, trabalhadora e trabalhador rural. Na família de quatro irmãos, Élson é o segundo.
Na comunidade, a família é antiga, lá nasceu Élson (quer dizer, em hospital aqui na cidade). Todos e todas o conheciam desde sempre. Ea uma espécie de mascote de todo Assentamento, circulava, andava, perambulava por todas as casas, quintais, roças...
Estive por lá algumas vezes, e numa das vezes, conhecendo sobre Élson, seu convívio comunitário. Sim, o ECA/Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê a convivência comunitária como Direito.
Uma senhora, chorando , apontou uma alta arvore, e disse: “...moço, o Élson subia nessa arvore, tirava coisa, fruto, folha, vinha dar para mim...era um menino bom, filho de todos nós, gostava de andar, gostava de todo mundo, muito alegre... moço, o senhor não imagina a falta que ele faz pra mim...”
Um senhor lembrou que Élson tinha o costume de pegar frutas – mamão, por exemplo, em todos os quintais, mas jamais ele comia, sempre levava pra alguém, entrava numa casa, dava a quem estivesse: todas as casas eram sua casa...”
Uma professora confirmou: “... Élson costumava entrar na sala e deixar frutas...”. Élson tinha uma deficiência mental, mas não só ele, como a família e a comunidade , lidavam bem com essa deficiência, ninguém o rejeitava, ninguém o discriminava.
Ninguém não, um homem chamado Adão, detestava Élson pelo fato do menino “invadir” seu quintal e tirar frutas, gritava, enxotava , xingava o menino e família, que taxava de negligente, pois não o “prendia”, e ameaçava...( E quem disse que se pode “prender” menino em casa, seja ele deficiente ou não?...)
Muitas pessoas no Assentamento disseram: o Adão, homem esquisito, vivia sozinho com o filho “de criação”Josemir, não se dava bem com mais da metade do pessoal...
Espancara e expulsara a mulher, mãe de Josemir. Suspeitavam que a relação de Adão e Josemir não seria de pai e filho, mas sexual. Suspeita que Adão viera para o Assentamento “correndo” de caso de abuso sexual de uma adolescente. Muitas encrencas envolvendo, e sobretudo causadas por Adão, foram narradas por moradores e moradoras.
Pois bem, esse suspeito em potencial estava diretamente ligado ao momento em que Élson desapareceu, para nunca mais (quer dizer, até hoje, dois anos depois). Testemunhas e tudo mais comprovaram...
Quando Élson desapareceu, Solange, Chiquinho, a comunidade toda, crianças, adolescentes, jovens, homens, mulheres, idosos e idosas, e até gente de assentamentos e localidades vizinhas (Novo Oriente, Planalto II, Boa Esperança...). Chegou a ter mais de cem pessoas, “caçando” em cada centímetro do Assentamento e redondezas, verdadeiro mutirão... na época, tinha uns fornos, alguns em rescaldo, até lá procuraram... Dias e dias, em nenhum momento Adão ou Josemir se dignaram ajudar nas buscas...
Um bocado de suspeitas, indícios, apontavam para Adão, até o fato de que ele um dos maiores conhecedores da região, caçador que era...
A família e a comunidade denunciaram o desaparecimento, policia, corpo de bombeiros de Imperatriz, com poucos homens, quase nada de recursos, permaneciam algumas horas,e pronto. Líderes comunitários abasteceram policia, ministério público, de informações. Apelaram até ao presidente Lula... então,por meses, o caso esfriou, a família, a comunidade frustaram-se, amainaram , mas não desistiram...
Padre Pedro Carlos, da Paróquia São João Batista, (e hoje de volta à sua Itália,), entrou na história... Uma filha de Adão escreve uma carta ao promotor de justiça, denunciando o pai Adão e o irmão de criação Josemir . Ela, mãe de bebê e grávida do segundo, são colocados “sob proteção”, pelo Conselho Tutelar e o falecido Centro de Direitos Humanos do Estado. E depois, deixaram Açailândia....
Padre Pedro Carlos e uma meia dúzia de “doidos varridos” conseguem fazer o caso andar: Adão e o filho são presos, por um mês, soltos, não voltam ao Assentamento, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Açailândia providencia troca de seu lote, ele e o filho vão para o Assentamento Roseli Nunes, município de Bom Jesus das Selvas...
Lá acontece outra desgraça, em janeiro deste ano um menino, Guilherme, bebê menos de dois anos de idade, morre justamente num barreiro da casa do Adão... Denuncia-se o caso á policia, o delegado regional disse que encaminharia para o delegado de Buriticupu...( e mais tarde notificou-se até ao juiz de direito, que desarquivou o caso arquivado pela policia e pelo ministério público...).
Hoje, Adão já vendeu o lote Josemir está “junto” com a tia do menino Guilherme, morto no barreiro da casa de Adão...
Élson recebia beneficio da previdência social, do INSS, por sua condição de deficiência. A poucos meses, o beneficio “foi cortado”. Devidamente justificado, explicado pela autoridade. O que não justifica, nem explica, é a falta de respostas das autoridades ao caso Élson: Ele está desaparecido? Como foi que desapareceu? Sozinho? Levado por alguém? Quem? Para onde? Está morto? Foi Adão que o matou? Como? Onde está seu corpo, então? Foi queimado num dos fornos existentes na área? Foi enterrado pelo Adão, jogado num buracão, que conhecia todos, pois era veterano e antigo carvoeiro e forneiro? Não foi Adão, então quem foi? Onde está Élson, meu Deus, o que foi feito dele?
As “autoridades” deram respostas do tipo: “ a família é que foi culpada, era negligente, não cuidavam direito, o menino andava por todo lugar... deve ter pego o trem ( a Estrada de Ferro Carajás passa pertinho...)... pegou a estrada e se mandou”...
O “Fantástico”, em janeiro deste ano, pelo repórter Marcelo Rezende, fez uma matéria, curta mas impactante, sobre Élson, entrevistas com a mãe, Solange, com o delegado de polícia, imagens do assentamento, foto do Élson...
Não pode haver nada pior, mais trágico, que o desaparecimento de um filho, é maior dor do mundo... é um limbo, um suspenso, uma quebra, um vazio “prá sempre”...
Como pode autoridade dizer aquelas coisas acima, a uma mãe que perde um filho nessas circunstâncias? De negligência, pois sim... Sem investigar, que seus pais dedicaram anos, perdendo quase tudo de material, acompanhando Élson em suas peregrinações desde o nascimento, em hospitais de Açailândia e Imperatriz?
A família de Élson não vive, sobrevive: pais, irmãos, tio, convictos que perderam o menino, assassinado, o corpo em algum no assentamento ...Esperam por justiça, pelo fim da impunidade... Ousam dizer-lhes que “esperem sentados...”. Pode algo assim...?
Élson está desaparecido a dois anos, e a família e a comunidade vão viver pela terceira vez seguida, um Natal, ou um não-Natal, sem clima para festa, confraternização, figuetório, esbanjamnto, alegrias...
Gostariam que o Natal, a vinda do Menino Jesus, trouxesse, não como presente, mas como justiça, a derradeira verdade sobre Élson, não fez mal a ninguém, só tirava frutas dos quintais para dar aos outros, adorado por todos e todas, pode ter sido morto por ter sido violentado por Josemir e por ter começado a falar sobre isso, assinou sua sentença de morte, diante de Adão, que encontrou o pretexto final para eliminá-lo...
Elson, menino com deficiência, está desaparecido desde 14 de dezembro de 2011. Sua breve existência, apenas nove anos, foi marcada por sofrimentos em hospitais (há uma suspeita que sua deficiência foi adquirida em erro médico, em extinto hospital daqui...),
Élson, onde quer que esteja, que Deus tenha misericórdia de ti! E de sua família também! Que ela possa reunir forças na noite do natal, num momento de alívio e paz, e regojzar-se com o Menino Jesus que chega! E Ele, creiam, é próprio menino Élson que chega!
Fonte: Eduardo Hirata
14 DE DEZEMBRO DE 2011: DOIS ANOS PASSADOS, E NADA DE JUSTIÇA E PAZ!
O Assentamento Planalto I é uma comunidade rural, a cerca de setenta quilômetros do centro de Açailândia. Umas quarenta famílias, em torno de duzentos moradores. O menino Élson, com deficiência, em 2009 tinha nove anos de idade, filho de Solange e Frnacisco “Chiquinho”, trabalhadora e trabalhador rural. Na família de quatro irmãos, Élson é o segundo.
Na comunidade, a família é antiga, lá nasceu Élson (quer dizer, em hospital aqui na cidade). Todos e todas o conheciam desde sempre. Ea uma espécie de mascote de todo Assentamento, circulava, andava, perambulava por todas as casas, quintais, roças...
Estive por lá algumas vezes, e numa das vezes, conhecendo sobre Élson, seu convívio comunitário. Sim, o ECA/Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê a convivência comunitária como Direito.
Uma senhora, chorando , apontou uma alta arvore, e disse: “...moço, o Élson subia nessa arvore, tirava coisa, fruto, folha, vinha dar para mim...era um menino bom, filho de todos nós, gostava de andar, gostava de todo mundo, muito alegre... moço, o senhor não imagina a falta que ele faz pra mim...”
Um senhor lembrou que Élson tinha o costume de pegar frutas – mamão, por exemplo, em todos os quintais, mas jamais ele comia, sempre levava pra alguém, entrava numa casa, dava a quem estivesse: todas as casas eram sua casa...”
Uma professora confirmou: “... Élson costumava entrar na sala e deixar frutas...”. Élson tinha uma deficiência mental, mas não só ele, como a família e a comunidade , lidavam bem com essa deficiência, ninguém o rejeitava, ninguém o discriminava.
Ninguém não, um homem chamado Adão, detestava Élson pelo fato do menino “invadir” seu quintal e tirar frutas, gritava, enxotava , xingava o menino e família, que taxava de negligente, pois não o “prendia”, e ameaçava...( E quem disse que se pode “prender” menino em casa, seja ele deficiente ou não?...)
Muitas pessoas no Assentamento disseram: o Adão, homem esquisito, vivia sozinho com o filho “de criação”Josemir, não se dava bem com mais da metade do pessoal...
Espancara e expulsara a mulher, mãe de Josemir. Suspeitavam que a relação de Adão e Josemir não seria de pai e filho, mas sexual. Suspeita que Adão viera para o Assentamento “correndo” de caso de abuso sexual de uma adolescente. Muitas encrencas envolvendo, e sobretudo causadas por Adão, foram narradas por moradores e moradoras.
Pois bem, esse suspeito em potencial estava diretamente ligado ao momento em que Élson desapareceu, para nunca mais (quer dizer, até hoje, dois anos depois). Testemunhas e tudo mais comprovaram...
Quando Élson desapareceu, Solange, Chiquinho, a comunidade toda, crianças, adolescentes, jovens, homens, mulheres, idosos e idosas, e até gente de assentamentos e localidades vizinhas (Novo Oriente, Planalto II, Boa Esperança...). Chegou a ter mais de cem pessoas, “caçando” em cada centímetro do Assentamento e redondezas, verdadeiro mutirão... na época, tinha uns fornos, alguns em rescaldo, até lá procuraram... Dias e dias, em nenhum momento Adão ou Josemir se dignaram ajudar nas buscas...
Um bocado de suspeitas, indícios, apontavam para Adão, até o fato de que ele um dos maiores conhecedores da região, caçador que era...
A família e a comunidade denunciaram o desaparecimento, policia, corpo de bombeiros de Imperatriz, com poucos homens, quase nada de recursos, permaneciam algumas horas,e pronto. Líderes comunitários abasteceram policia, ministério público, de informações. Apelaram até ao presidente Lula... então,por meses, o caso esfriou, a família, a comunidade frustaram-se, amainaram , mas não desistiram...
Padre Pedro Carlos, da Paróquia São João Batista, (e hoje de volta à sua Itália,), entrou na história... Uma filha de Adão escreve uma carta ao promotor de justiça, denunciando o pai Adão e o irmão de criação Josemir . Ela, mãe de bebê e grávida do segundo, são colocados “sob proteção”, pelo Conselho Tutelar e o falecido Centro de Direitos Humanos do Estado. E depois, deixaram Açailândia....
Padre Pedro Carlos e uma meia dúzia de “doidos varridos” conseguem fazer o caso andar: Adão e o filho são presos, por um mês, soltos, não voltam ao Assentamento, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Açailândia providencia troca de seu lote, ele e o filho vão para o Assentamento Roseli Nunes, município de Bom Jesus das Selvas...
Lá acontece outra desgraça, em janeiro deste ano um menino, Guilherme, bebê menos de dois anos de idade, morre justamente num barreiro da casa do Adão... Denuncia-se o caso á policia, o delegado regional disse que encaminharia para o delegado de Buriticupu...( e mais tarde notificou-se até ao juiz de direito, que desarquivou o caso arquivado pela policia e pelo ministério público...).
Hoje, Adão já vendeu o lote Josemir está “junto” com a tia do menino Guilherme, morto no barreiro da casa de Adão...
Élson recebia beneficio da previdência social, do INSS, por sua condição de deficiência. A poucos meses, o beneficio “foi cortado”. Devidamente justificado, explicado pela autoridade. O que não justifica, nem explica, é a falta de respostas das autoridades ao caso Élson: Ele está desaparecido? Como foi que desapareceu? Sozinho? Levado por alguém? Quem? Para onde? Está morto? Foi Adão que o matou? Como? Onde está seu corpo, então? Foi queimado num dos fornos existentes na área? Foi enterrado pelo Adão, jogado num buracão, que conhecia todos, pois era veterano e antigo carvoeiro e forneiro? Não foi Adão, então quem foi? Onde está Élson, meu Deus, o que foi feito dele?
As “autoridades” deram respostas do tipo: “ a família é que foi culpada, era negligente, não cuidavam direito, o menino andava por todo lugar... deve ter pego o trem ( a Estrada de Ferro Carajás passa pertinho...)... pegou a estrada e se mandou”...
O “Fantástico”, em janeiro deste ano, pelo repórter Marcelo Rezende, fez uma matéria, curta mas impactante, sobre Élson, entrevistas com a mãe, Solange, com o delegado de polícia, imagens do assentamento, foto do Élson...
Não pode haver nada pior, mais trágico, que o desaparecimento de um filho, é maior dor do mundo... é um limbo, um suspenso, uma quebra, um vazio “prá sempre”...
Como pode autoridade dizer aquelas coisas acima, a uma mãe que perde um filho nessas circunstâncias? De negligência, pois sim... Sem investigar, que seus pais dedicaram anos, perdendo quase tudo de material, acompanhando Élson em suas peregrinações desde o nascimento, em hospitais de Açailândia e Imperatriz?
A família de Élson não vive, sobrevive: pais, irmãos, tio, convictos que perderam o menino, assassinado, o corpo em algum no assentamento ...Esperam por justiça, pelo fim da impunidade... Ousam dizer-lhes que “esperem sentados...”. Pode algo assim...?
Élson está desaparecido a dois anos, e a família e a comunidade vão viver pela terceira vez seguida, um Natal, ou um não-Natal, sem clima para festa, confraternização, figuetório, esbanjamnto, alegrias...
Gostariam que o Natal, a vinda do Menino Jesus, trouxesse, não como presente, mas como justiça, a derradeira verdade sobre Élson, não fez mal a ninguém, só tirava frutas dos quintais para dar aos outros, adorado por todos e todas, pode ter sido morto por ter sido violentado por Josemir e por ter começado a falar sobre isso, assinou sua sentença de morte, diante de Adão, que encontrou o pretexto final para eliminá-lo...
Elson, menino com deficiência, está desaparecido desde 14 de dezembro de 2011. Sua breve existência, apenas nove anos, foi marcada por sofrimentos em hospitais (há uma suspeita que sua deficiência foi adquirida em erro médico, em extinto hospital daqui...),
Élson, onde quer que esteja, que Deus tenha misericórdia de ti! E de sua família também! Que ela possa reunir forças na noite do natal, num momento de alívio e paz, e regojzar-se com o Menino Jesus que chega! E Ele, creiam, é próprio menino Élson que chega!
Fonte: Eduardo Hirata
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